Memes, animais, e informação jurídica. Com esses ingredientes a juíza Federal Carolina Malta faz de suas redes sociais um sucesso. Usando irreverência e bom humor para falar do dia a dia na magistratura, a juíza de Pernambuco tem hoje quase 100 mil seguidores no Twitter (@CarolinaMalta) e ultrapassa os 18 mil no Instagram.
Carolina ingressou na carreira de magistrada aos 23 anos como juíza Federal substituta, quase 17 anos atras. Ela conta que estranhou o isolamento da profissão. “Há muita responsabilidade na tomada das decisões e um juiz de primeiro grau não pode compartilhá-la com quem quer que seja”, explicou. Talvez por isso ela tenha encontrado uma forma leve de falar de Direito nas redes sociais.
Em entrevista ao Migalhas, ela conta que, naturalmente, é uma pessoa que busca levar a vida com bom humor e leveza – mas, ao mesmo tempo, tem limitações profissionais a respeito do que pode ser dito na internet.
"Como eu sou juíza criminal e trato de assuntos seríssimos, que não caberiam ser trazidos de forma direta em rede social, acabei percebendo que esta forma de tratar me tornava mais livre e, ao mesmo tempo, recebi um retorno positivo das pessoas."
A partir de vídeos ou fotos engraçadas, a maioria deles envolvendo animais, Carolina passou a colocar legendas sérias, como se estivesse julgando o caso, por exemplo. "Isso fez com que as pessoas passassem a assumir a defesa ou a acusação naqueles ‘casos’ colocados ali e acabou se tornando, indiretamente, uma forma diferente de as pessoas aprenderem alguns institutos do Direito Penal, sendo ou não da área jurídica."
“Creio que encontrei uma forma de comunicação que me permite interagir e me aproximar das pessoas sem atingir a minha atuação profissional.”
Pessoal x Profissional
Carolina Malta conta que a maior parte dos “casos” que leva ao debate virtual não são da competência Federal, o que ajuda os seguidores a fazerem clara distinção entre uma interação pessoal leve em rede social e sua atuação profissional. Quando perguntamos se há algum cuidado que é preciso tomar sobre o uso de mídias online, ela destaca que o principal é jamais tratar de casos reais em andamento.
“Procuro dissociar os exemplos de qualquer processo ou situação real, apesar de, logicamente, tê-los como inspiração."
Controle das mídias sociais
Acerca de resolução editada pelo CNJ em 2019 que impõe limites às manifestações de magistrados nas redes sociais, Carolina Malta é totalmente a favor. Ela inclusive participou ativamente das sugestões para a resolução.
"Penso que a maior parte das limitações já estava prevista na CF e na Loman. Juízes têm deveres éticos e de imparcialidade, além de necessitarem de cuidados com a própria segurança. O fato de não poderem criticar livremente decisões de outros colegas e de se manifestarem politicamente é salutar para o Poder Judiciário e preserva o próprio juiz."
Para ela, é importante o controle do que é compartilhado ao público, já que posicionamentos dessa natureza geram conclusões das pessoas a respeito de futuras decisões. Por isso, observa, muitos juízes evitam redes sociais ou utilizam com perfis anônimos.
Malta acredita que, se mais juízes se identificassem, muitos profissionais poderiam contribuir para apresentar uma imagem positiva do Judiciário.
"Há muitos juízes extremamente dedicados, com os processos rigorosamente em dia, preocupados com a gestão, e isso não aparece, pois os exemplos que surgem são sempre os dos que arranham a imagem da Instituição, com atuação negligente ou mesmo desonesta. Há uma inclinação natural para a generalização em sentido negativo. A sociedade acaba não conhecendo a atuação dos juízes de primeiro grau e, por isso, as redes sociais podem contribuir para esta aproximação."
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