Em 2009, estreou na televisão a série americana Lie To Me (no Brasil, Engana-me se puder). A narrativa trata das habilidades de dr. Cal Lightman, um cientista que decodifica o que as pessoas querem dizer por meio da linguagem silenciosa – as microexpressões faciais.
Os episódios da trama mostram dr. Cal Lightman descobrindo coisas que nem mesmo o FBI conseguiu desvendar. Suas habilidades mudam os rumos de julgamentos e auxiliam nas soluções de crimes.
Embora pareça drama ficcional, o trabalho de Cal Lightman realmente existe na vida real e, mais: tem auxiliado operadores do Direito.
Ricardo Ventura trabalha com a linguagem silenciosa e afirma que dominar as técnicas desta ferramenta é um “plus” para advogados, promotores e juízes. Com as percepções afiadas para as microexpressões faciais, os operadores do Direito podem fazer perguntas mais assertivas a partir de incongruências que aparecem nas respostas verbais e não verbais dos réus e clientes.
“O trabalho do especialista é confrontar o que é dito em palavras com aquilo que é dito sem as palavras. Se as duas se casam, existe uma grande possibilidade de as pessoas estarem falando a verdade.”
Mas, afinal, como funciona a técnica da linguagem silenciosa? Ricardo Ventura explica:
O especialista, porém, explica que a linguagem silenciosa não deve ser usada, de forma alguma, como fator determinante ou como prova para embasar uma decisão judicial. A ferramenta deve ser usada no sentido de auxiliar os trabalhos da Justiça, de forma orientadora, para que o profissional seja capaz de buscar mais informações a partir de incongruências nas linguagens.
Ricardo conta um episódio no qual um advogado do Acre relatou que fez algumas perguntas para um réu, quando ninguém via mais nada a ser questionado, e percebeu incongruências que davam a entender que existia algo escondido na casa do réu. Fizeram uma diligência e, de fato, existia algo suspeito na residência do réu.
Audiências on-line
Com a pandemia da covid-19, muitas audiências passaram a ser feitas de forma on-line. De acordo com Ricardo Ventura, uma captação mal feita da audiência pode interferir negativamente no processo de avaliação da linguagem silenciosa.
Descompasso entre imagem e som e mal posicionamento da câmera contaminam o teor da mensagem. Além disso, o especialista ressalta que apontar a câmera apenas para o interrogado também é nocivo para a conclusão da análise silenciosa.