Na madrugada de 31 de março de 1964 o general Olympio Mourão Filho telefonou a companheiros em outros Estados. O recado: avisar que enviara seus soldados na direção do RJ, onde estava João Goulart, com a missão de tirar o presidente do poder. Jango foi deposto dois dias depois. A deposição do presidente, sem que houvesse sido disparado um tiro, pode ser compreendida a partir da lembrança do período turbulento no qual o país vivia.
Os jornais da época evidenciam, na semana que antecedeu ao fatídico dia do golpe, as pressões com as quais João Goulart tinha que lidar.
O matutino Folha de S.Paulo, na edição de 24 de março de 1964, destacou na capa a reportagem “Veio definir legalidade – O ministro Abelardo Jurema diz que dirá quem é legalista e quem não é”.
Jurema, então ministro da Justiça de João Goulart, estava em SP “especialmente para declarar” quem era ou não “legalista, garantindo que o presidente João Goulart o é”. Com quase três anos de governo, o ministro da Justiça ia a público garantir à sociedade que o presidente respeitava a Constituição e o governo.
Na antevéspera do golpe, o jornal O Estado de S.Paulo estampava na edição de 29 de março: “O governo admite que a crise poderá recrudescer”.
“O sr. João Goulart examina, com expectativa, os desdobramentos e consequências da crise na Marinha, para decidir se fará ou não um pronunciamento que algumas fontes oficiais classificam como sendo ‘possivelmente grave e decisivo’. Estão os círculos da Presidência da República atentos, admitindo que a crise poderá recrudescer com a permanência do almirante Aragão no comando do Corpo de Fuzileiros Navais e o registro de focos de irritação na oficialidade da Marinha, que considera a solução para o motim dos marinheiros, cabos e fuzileiros como um desprestígio para a corporação e um estímulo à indisciplina.”
A crise na Marinha brasileira, que se recusava a servir sob as ordens do ministro Paulo Mario, era mais um problema a tirar o sono do presidente.
Na noite de 30 de março de 1964 Jango deixou o Palácio das Laranjeiras para discursar para suboficiais e sargentos no Automóvel Clube. No enredo, a importância das reformas de base. No dia seguinte o general Olympio Mourão Filho agiria em resposta ao pronunciamento.
Marcha dos acontecimentos
O congelamento dos preços dos alugueis há dias que dominava a pauta dos veículos de comunicação. A regulamentação do tabelamento, via decreto presidencial, ocorreu em 25 de março de 1964.
A Folha de S.Paulo destacou na edição de 26 de março daquele ano que o presidente Jango "comprometeu-se a comparecer a sete atos públicos a realizarem-se em diferentes pontos do país, acrescentando que, de acordo com a marcha dos acontecimentos, assinará, em cada um dos lugares a que comparecer, um decreto de repercussão nacional". A deposição do presidente poucos dias depois impediram os tais decretos de "repercussão nacional".
Em termos mundiais, a disputa capitalismo x comunismo, que dominou a Guerra Fria dava o tom das relações internacionais e, claro, das notícias repercutidas em solo tupiniquim. Confira manchetes:
China comunista adverte a URSS: rompimento próximo - Folha de S. Paulo 26/3/64
Comunistas defendem-se de acusações de Castro - Folha de S. Paulo 26/3/64
Genebra: URSS disposta a ajudar subdesenvolvidos - Folha de S. Paulo 27/3/64
Chile, Panamá e Brasil cenários principais da guerra fria na América Latina - O Estado de S.Paulo - 31 de março de 1964