O maior partido do Brasil, provavelmente da América Latina, e que se sagrou vitorioso nestas eleições, graças a uma costura política perfeita, é liderado por uma mulher advogada.
Com efeito, a presidência do Partido dos Trabalhadores é ocupada por Gleisi Hoffmann, fato que deve ser reconhecido e louvado. Trata-se, afinal de contas, de uma mulher ocupando um espaço de grande poder, num complexo partido.
Todavia, como é bem de ver, tal papel - com as devidas exceções - não parecer ser devidamente aquilatado por muitos, e sobretudo pela imprensa.
À frente da sigla, Gleisi enfrentou períodos árduos, como o forte antipetismo que tomou conta do país após a operação Lava Jato. E, como não poderia deixar de ser, acabou por sofrer com as injustiças ali perpetradas.
Nesse sentido, passou da hora de reconhecer o papel magistral dela na urdidura política que levou o partido à consagração nas urnas.
Só um machismo velado pode impedir que se dê o devido valor ao fato de que há uma mulher, advogada, em um cargo de poder tão relevante, num momento político tão singular.
Gleisi Hoffmann comanda com habilidade o complexo partido, sendo extremamente respeitada pelos correligionários.
Agora, quando a transição de governo se inicia, o que se vê é ela, juntamente com os coordenadores (Alckmin e Mercadante), assenhoreando-se de tudo e fazendo as devidas tratativas.
A foto da primeira reunião de trabalho da equipe de transição não deixa mentir a importância dela no cenário político.
Gleise, que sempre lutou pelas causas femininas, é a única mulher à mesa.
Quem é ela
Gleisi Hoffmann nasceu em 1965 em Curitiba, Paraná. Graduada pela Faculdade de Direito de Curitiba (OAB/PR 19.297), tem especialização em Gestão de Organizações Públicas e Administração Financeira.
Sua experiência profissional concentra-se na gestão pública e na vida política. Iniciou sua caminhada política ainda na adolescência, participando de grêmios estudantis, e integrou a União Metropolitana dos Estudantes Secundaristas e, posteriormente, a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas.
Em 1989, filiou-se ao Partido dos Trabalhadores.
Em 1995, Hoffmann já defendia a política de cotas para uma maior participação feminina no Legislativo. "Precisamos tê-lo no Brasil", disse em missiva à Folha de S.Paulo. No fim deste ano de 95, foi estabelecida a incipiente cota de 20%. Só depois chegamos aos 30% e, apenas recentemente, o fundo partidário foi repartido nessa proporção.
Equipe de transição
A atual equipe de transição não é a primeira da carreira de Gleisi, que também integrou, em 2002, a transição de governo de Lula, como se vê na reportagem abaixo. A propósito, note-se que na página em que se anuncia a equipe de transição (à direita) é possível ver (à esquerda) a cordialidade com que o presidente eleito (Lula) é recebido pelo então presidente (FHC). Outros tempos.
Com a vitória de Lula à presidência da República, em 2002, Hoffmann foi convidada ao cargo de Diretora Financeira da Itaipu Binacional, onde aprimorou seus conhecimentos em gestão pública e implementou importantes medidas de caráter estruturante na empresa. Durante esse período, contribuiu para o desenvolvimento de vários projetos de cunho social. De fato, coordenou o programa de pró-equidade de gênero e raça em Itaipu Binacional, com o objetivo de promover igualdade de oportunidade entre homens e mulheres no âmbito das organizações públicas e privadas.
Em 2010, tornou-se a primeira mulher eleita para ocupar uma vaga no Senado pelo Paraná, com mais de 3 milhões de votos.
Em junho de 2011, a presidente Dilma Rousseff convidou-a a assumir a chefia da Casa Civil da presidência da República, função que desempenhou até fevereiro de 2014.
Presença no Congresso
Após deixar a Casa Civil, retornou, em 2014, para o Senado, onde os direitos das mulheres estiveram, mais uma vez, entre suas prioridades. Entre suas propostas estiveram aposentadoria a donas de casa, reserva de 50% das vagas nos parlamentos para mulheres, e a que assegura abertura de processo contra agressores de mulheres sem necessidade de que a vítima preste queixa.
Ao longo de 2016, presidiu a Comissão de Assuntos Econômicos do Senado. Em fevereiro de 2017, foi eleita por unanimidade pela Bancada do PT para a função de líder dos senadores da legenda na Casa.
Em junho de 2017, foi eleita presidente Nacional do Partido dos Trabalhadores, sendo reeleita para o cargo durante o Processo de Eleição Direta (PED) de 2020.
Em 2018, foi eleita para uma cadeira na Câmara dos Deputados no que representou a terceira maior votação do Estado do Paraná.
Segue, hoje, na condução do partido que venceu as eleições presidenciais de 2022, tendo também sido reeleita para a Câmara do Deputados, com a segunda maior votação do Paraná.