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Dia do Fico: Em agrado às elites coloniais, diga ao povo que fico!

O não cumprimento de ordens da Corte portuguesa, que libertou o Brasil das amarras monárquicas, buscou primeiramente atender aos interesses de poderosos em solo brasileiro.

5/9/2022

9 de janeiro de 1822, é o "Dia do Fico", data em que Dom Pedro I anunciou publicamente que ficaria no Brasil, desobedecendo assim as ordens da Corte Portuguesa determinando sua volta a Portugal.

Mais marcante que a própria efeméride, é a conhecida frase que ecoa nos corredores das bibliotecas, nos livros didáticos e, enfim, na história do Brasil.

“Se é para o bem de todos e felicidade geral da nação, estou pronto. Diga ao povo que fico.”

O Dia do Fico sugere uma resolução: o Brasil iria deixar de ser colônia. Mas ao invés desse aparente rompimento imediato, o que se deu foi apenas o início do que viria a ser a independência política tupiniquim.

Dom Pedro I era pressionado pela Coroa para retornar e restabelecer a recolonização do Brasil. Todavia, apoiado pelas elites coloniais, decidiu ficar. A desobediência marcou o caminho para o fim da influência de Portugal sobre o Brasil.

(Imagem: Arte Migalhas)

Estopim 

O estopim do que viria a se concretizar o Dia do Fico foi a Revolução do Porto, ocorrida em 1820, desencadeando mudanças tanto para Portugal como para o Brasil. 

Quando Portugal finalmente se desvencilha do domínio francês de Napoleão Bonaparte, reivindica a recolonização do Brasil, desconsiderando as decisões de Dom João VI, que davam ao país o status de Reino Unido.

O poder do rei foi contestado e o seu retorno imediato para Portugal foi exigido para que assinasse uma nova Constituição. A monarquia absolutista, que Dom João deixou em Portugal, em 1808, quando veio para o Brasil, transformava-se então em uma monarquia constitucional.

Enquanto isso, no Brasil, as mudanças trazidas pela presença da Coroa portuguesa agradaram à elite colonial, que não renunciaria a tal poder e liberdade. A saber, a abertura dos portos promoveu a entrada de novos produtos no mercado brasileiro, além das nascentes instituições, sem falar nas artes.

Por conta disso, a ameaça de recolonização foi motivo suficiente para que brasileiros apoiassem ainda mais a ideia da independência.

Depois de experimentar o gostinho do que era ser metrópole, os brasileiros não iam querer voltar a ocupar o ingrato lugar de colônia explorada.

A derrocada do domínio português

Temendo perder o reino português, Dom João VI voltou para o Portugal, em 1821, e deixou seu filho, Dom Pedro, no Brasil. A Revolução do Porto, ocorrida no ano anterior, motivou o retorno do rei e desencadeou uma série de medidas que buscavam promover retrocessos no Brasil. Os portugueses não queriam perder sua colônia mais importante, por isso pressionaram o príncipe regente a retornar a Portugal.

Mas a permanência de Dom Pedro I no Brasil era de sumo interesse das elites coloniais, que almejavam a liberdade em relação a Portugal. 

Assim, e como repetidamente se dá na história do Brasil, o Dia do Fico, conquanto tenha parecido ser de interesse do povo, só ocorreu graças aos anseios dos poderosos.

Com o filho do rei no país, a elite passou a ambicionar o controle do comércio, até então nas mãos dos portugueses. E mais, os brasileiros queriam também assumir postos na burocracia, os quais estavam nas mãos de portugueses.

Encaminhamento

Nossos livros de História repetem com júbilo o episódio do Dia do Fico, em que o Príncipe afronta as Cortes Portuguesa, para “fazer o bem de todos e a felicidade geral da Nação”.

Mas, como dito, era mais para o bem das elites do que qualquer coisa.

O fato é que, ao longo dos meses seguintes, a ideia de independência ia se consolidando. 


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