Antes da Independência do Brasil, a Independência da Bahia
O movimento é considerado um precursor da Independência nacional, tendo se iniciado em fevereiro de 1822.
Da Redação
segunda-feira, 5 de setembro de 2022
Atualizado em 6 de setembro de 2022 08:27
A antiga capital do Brasil não ficou de fora dos movimentos que pipocavam no país. Desde a conjuração baiana, passando pela inconfidência mineira e pela revolta do Porto, os baianos estavam com o sentimento de independência à flor da pele.
E embora uma conspiração de cunho constitucional tenha ocorrida em 1821, o início do que ficou conhecido como a Independência da Bahia se iniciou em fevereiro de 1822. Antes, portanto, da Independência do Brasil.
E conquanto tenha se iniciado antes, foi apenas em 2 de julho de 1823 que se consolidou a Independência da Bahia, a partir da expulsão definitiva das tropas portuguesas do Brasil.
Isso não tira o apanágio de ter sido um movimento precursor da Independência nacional. E, ao contrário da proclamação de Independência pacífica no Ipiranga, o movimento baiano foi sangrento, com forte participação civil na luta contra a opressão portuguesa.
Independência da Bahia
Como tudo começou
Com a decisão de Dom Pedro de permanecer no Brasil - desobedecendo às determinações das Cortes de Lisboa - Portugal concentrou em Salvador todos os seus esforços militares. Havia o interesse por parte da metrópole de dividir o país em duas regiões: o sul e o sudeste permaneceriam sob a direção de Dom Pedro; e o norte e nordeste, sob o domínio português. Graças à luta dos baianos, isso não ocorreu.
A disputa na Bahia começou em fevereiro de 1822, com a nomeação do brigadeiro português Inácio Luís Madeira de Melo para ocupar o cargo de governador das Armas no lugar de um oficial baiano. Os ânimos se acirraram entre os nativos e os portugueses.
Militares brasileiros do Regimento de Artilharia se aquartelaram no Forte de São Pedro e o coronel Manoel Pedro Freitas Guimarães foi elevado à patente de general, tornando-se comandante das Armas da Bahia.
Enraivecido com a insubordinação, o português Madeira de Melo bombardeou o quartel rebelde. Os militares brasileiros, em minoria e com pouca munição, viram-se obrigados a se refugiar no interior. A cidade do Salvador virou uma praça de guerra, com confrontos violentos nas Mercês, na Praça da Piedade e no Campo da Pólvora. O caos se estabeleceu. Tumultos, saques e quebra-quebras obrigaram moradores a abandonar a capital com as famílias. Em poucos dias, as vilas e fazendas do Recôncavo se transformaram em imensos campos de refugiados.
Madeira de Melo
(1775 - 1835)
Militar português que se notabilizou por ser o comandante das forças portuguesas na Bahia durante a guerra da independência contra Portugal.
Enquanto isso, os portugueses comemoravam a ocupação da cidade, praticando arbitrariedades e excessos. Em 19 de fevereiro de 1822, invadiram o Convento da Lapa atrás de soldados brasileiros. Ao tentar impedi-los de entrar, a soror Joana Angélica foi morta a golpes de baioneta, transformando-se na grande mártir da guerra pela Independência na Bahia.
Joana Angélica
(1761-1822)
Ingressou no convento da Lapa aos 20 anos, fazendo profissão de fé em 1783 como irmã da Ordem das Religiosas Reformadas de Nossa Senhora da Conceição e adotando o nome de Joana Angélica de Jesus. Progrediu na carreira de religiosa a ponto de, 20 anos depois, tornar-se abadessa do convento. Ao tentar impedir a entrada de militares portugueses no Convento da Lapa para a suposta busca de soldados baianos, a religiosa tornou-se um símbolo da resistência contra o autoritarismo português. É considerada a primeira heroína da independência do Brasil.
1ª Fase
Guerra regional (guerrilha)
A morte de Joana Angélica comoveu os baianos, que deixavam em massa a capital rumo ao interior da província. Cachoeira passou a atrair retirantes de Salvador e de municípios como Santo Amaro da Purificação e se transformou no centro da resistência aos portugueses.
Sob o comando do latifundiário, tenente-coronel Joaquim Pires de Carvalho e Albuquerque D'Ávila Pereira, formou-se um exército amador de pouco mais de 500 homens, chegando a reunir 1.500 soldados. As tropas portuguesas somavam mais de 3.000 almas. Os confrontos eram localizados e não envolviam grandes contingentes. Era guerra de guerrilha, que buscava ocupar posições estratégicas na região.
Joaquim Pires de Carvalho e Albuquerque D'Ávila Pereira
(1788 - 1848)
Herdeiro da família Garcia D'Ávila, proprietária da famosa Casa da Torre, um dos focos de resistência dos brasileiros. Como coronel do Regimento de Milícias e Marinha da Torre, Joaquim Pires foi responsável pela organização das primeiras tropas do que seria o Exército Brasileiro. Conhecido como "Coronel Santinho", usou de importante estratégia que resultou no bloqueio da Estrada das Boiadas, que fechava o acesso terrestre a Salvador, interceptando suas comunicações e impedindo o abastecimento de gado e outros gêneros alimentícios às tropas portuguesas. Devido à sua ação patriótica e de entrega pessoal à causa da independência na Bahia, recebeu o título nobiliárquico de "Visconde de Pirajá".
2ª Fase
Guerra nacional
Em 28 de outubro de 1822, o general Pierre Labatut chega à Bahia, enviado do Rio de Janeiro com o Exército Pacificador para comandar as tropas baianas. Passando por Pernambuco, Alagoas e Sergipe, reuniu reforços de homens, armamentos e provisões.
A 8 de novembro de 1822: a Batalha de Pirajá constituiu um importante combate que envolveu de 2.500 a 4.000 pessoas e resultou na morte de 80. Após a vitória, muitos voluntários foram arregimentados às forças brasileiras.
3ª Fase
Comando de Lima e Silva
Em substituição a Labatut, o coronel Joaquim José de Lima e Silva assumiu o comando em 27 de maio de 1823. A entrada do Exército Pacificador em Salvador marca o fim da guerra. Essa fase contou com a participação de Thomas Cochrane à frente da esquadra brasileira.
Coronel Joaquim Lima e Silva
(1788 - 1855)
Comandante do Batalhão do Imperador, formado por quase 800 homens escolhidos pelo próprio imperador - um corpo de elite que chega à Bahia em 22 de fevereiro de 1823. Antes de assumir o comando-geral do Exército em 27 de maio, o coronel comandou a brigada central das tropas brasileiras.
Fim da guerra
Em 28 de maio de 1823, Lima e Silva à frente do Exército Pacificador conclama aos portugueses que se rendam imediatamente, depondo suas armas, em troca de terras para cultivo na Bahia ou o embarque para Lisboa.
No dia 3 de junho, ocorreu novo ataque contra as trincheiras da cidade de Salvador ocupadas por Madeira, dificultando ainda mais a sobrevivência das tropas que não contavam com suprimentos. Cochrane ataca a esquadra portuguesa no dia 13 de junho. Salvador estava completamente sitiada e bloqueada, por terra e mar.
Em carta endereçada ao rei D. João VI, Madeira de Melo mostrou que a situação estava insustentável.
Eis que Madeira de Melo decidiu abandonar a capital. Na manhã do dia 2 de julho de 1823, após a retirada da frota portuguesa, os baianos, capitaneados por Lima e Silva, entram na cidade de Salvador. A partir de então, esta data passou a ser incorporada ao calendário cívico da Bahia.
Maria Quitéria de Jesus Medeiros
(1792-1853)
Disfarçada de homem, alistou-se no Exército brasileiro para lutar pela independência. Foi a primeira mulher a fazer parte de uma unidade militar no Brasil.