Em agosto deste ano, Migalhas exibiu o primeiro episódio da fantástica série “As Viagens de Antonio Palocci”.
Agora, trazemos aos leitores mais uma aventura deste não-herói que tem tudo para se tornar o maior mitômano da história pátria. Aliás, reconheça-se, ele está se esforçando para isso.
- Previously
No episódio anterior, lembramos que desde os primórdios deste vibrante matutino já alertávamos aos leitores que se tratava de um cidadão com ficha-corrida.
Em 2005, por exemplo, quando se anunciou que ele seria ministro, dizíamos que os corretores de imóveis ribeirão-pretanos estavam ouriçados.
Para bom entendedor, uma migalha é pão.
- Enredo
Narramos também no primeiro lance da fantasia palocciana, que ele teria dito que houve propina no STJ para anular as provas da operação Castelo de Areia.
Palocci inventava a história de que a empreiteira Camargo Corrêa pagou para obter a decisão. Inacreditavelmente, homologou-se o seguinte conto: “Antonio Palocci foi informado de que em troca da liminar concedida no Habeas Corpus, referido ministro recebeu a quantia de R$ 5 milhões em uma conta no exterior, na Suíça.”
E quem teria informado? Segundo ele, o falecido ministro Marcio Thomaz Bastos.
Como uma sessão espírita não tem valor legal, não há como comprovar se Thomaz Bastos disse o que se diz que ele teria dito. Enfim, nosso protagonista Palocci não chegou onde chegou à toa. De fato, traz na algibeira artimanhas dignas de colocá-lo no rol dos maiores criminosos.
O que o médico ribeirão-pretano não esperava é que a máxima, segundo a qual "mentira tem perna curta", não é apenas uma expressão vazia.
Vejamos como ele é pego de calças curtas.
- Dando bom dia a cavalo
Para que a técnica jurídica seja perfeita, nosso não-herói não ignora que é preciso que o delator tenha participado do fato criminoso. Nesse sentido, Palocci se coloca na cena do fantasioso crime da seguinte maneira: ele diz ter ido falar com um ministro, o qual integrava a turma responsável pelo caso da Camargo Corrêa, de modo a interceder pela empresa.
Qual ministro, pergunta o ansioso leitor? E a resposta segue a linha palocciana: trata-se de um ministro já falecido.
Sim, ele teria ido falar com o ilustre ex-presidente do TJ/SP, desembargador Celso Limongi, que então atuava como ministro convocado.
Por conta desta atuação, teria recebido R$ 1,5 milhão do ex-ministro Thomaz Bastos. Ou seja, os dois falecidos.
Ah, como é engenhoso esse menino.
Mas aí é que tudo se embaralha e nosso mitômano é pego com a boca na botija.
Primeiro, que o R$ 1,5 milhão teria sido recebido antes até de se saber quem seria prevento para julgar o caso.
Segundo, que em 2011, quando se investigou a empresa dele, ele teria dito que esse montante teria sido pago pelo ministro Marcio Thomaz Bastos a título de consultoria financeira pelo Pão de Açúcar, quando a empresa adquiriu as Casas Bahia. Tanto Márcio Thomaz Bastos, como o Pão de Açúcar confirmaram as tratativas e os pagamentos.
Hoje a Folha de S.Paulo informa que na segunda-feira, em petição entregue à 6ª vara Federal Criminal de São Paulo, o ministro Eros Grau explica mais essa mentira, tintim por tintim.
- Reincidência
Há alguns dias, o site da UOL já tinha mostrado outra malandrice de nosso caipira mentiroso. Ele teria enganado a Lava Jato delatando um crime duas vezes.
- Empatia
Um dos itens que não consta nas regras da delação, mas que está implícito na lei, é a necessidade de haver verossimilhança nas alegações. De fato, quem recebe a delação e quem a homologa tem de se certificar da mínima realidade dos fatos. Queremos crer que nestas certificações, ao menos neste caso, houve alguma falha. Nada, no entanto, que não possa ser corrigido.
Outra não é a explicação para o fato de um criminoso dizer que ouviu dizer que um terceiro pagou em nome da empresa para conseguir uma decisão. E mais, a decisão que teria sido comprada não era uma decisão que resolvia nada. Enfim, se se der crédito a uma maluquice dessa, rapaz do céu, não será mais possível exercer a magistratura com independência.
Sim, porque se dez anos depois de um magistrado prolatar uma decisão qualquer, aparecer um bandido que diz que o juiz, desembargador ou ministro recebeu dinheiro na Suíça para dar esta ou aquela decisão e, por conta disso, resolverem devassar a vida alheia, ninguém mais vai ter coragem de dar decisão alguma.
E é aí o ponto.
Ninguém duvide: a delação de Palocci está sendo usada como meio de se amedrontar os juízes brasileiros.