Migalhas Quentes

Grito das excluídas: Transexual narra penúrias da carreira como advogada

Maria Eduarda Aguiar sustentou no STF no último mês no julgamento sobre a omissão do Legislativo em criminalizar a transfobia.

8/3/2019

 

"Fui para levar o grito das excluídas". Foi dessa forma que Maria Eduarda Aguiar definiu sua sustentação no STF ao defender a omissão do Congresso em criminalizar atos homotransfóbicos no último mês. A advogada, mulher e transexual conta ao Migalhas as principais dificuldades da carreira jurídica para uma pessoa trans no país que lidera ranking de assassinatos deste grupo vulnerável.  

Representando a ANTRA - Associação Nacional de Travestis e Transexuais, admitida como amicus curiae no julgamento, Maria Eduarda levou tristes exemplos de pessoas transexuais mortas, cujo assassinato fora motivado pela discriminação à identidade de gênero.

"Falei com o coração e me dediquei ao máximo para passar aos ministros todo o racismo social que vivenciamos desde a época da ditadura. Sobrevivemos à operação tarantula, à ditadura e ainda continuamos morrendo, é preciso que se dê um basta nesse genocídio da população trans no Brasil."

Assista à sustentação da advogada:

Quem vê Maria Eduarda advogando no Supremo, pode nem imaginar as dificuldades que passou em seu caminho, especialmente no que se refere à carreira jurídica. A advogada foi uma das primeiras a ter o nome social na carteira da OAB, conquista que veio apenas há dois anos. Para ela, ainda é “muito frustrante” não ver os grandes escritórios de advocacia e, até os de médio porte, com mulheres transexuais em suas fileiras.

"(...) o grau de exclusão de mulheres transexuais e travestis é tão grande que o fato de eu receber essa carteira em 2017 foi motivo de notíciais em todos os meios de comunicação do país e [sinto] felicidade que, através da luta de muitas pessoas, hoje podemos ter esse direito garantido e de fácil acesso às novas advogadas trans."

Durante sua transição de gênero, Maria Eduarda foi demitida do escritório em que trabalhava. Na busca de emprego, o preconceito a fez temer. Maria Eduarda resolveu ser autônoma porque tinha receio de passar por algum tipo de constrangimento, já que tinha a identidade masculina. Hoje é uma ativista pelos Direitos Humanos e atua em entidades que batalham pelos grupos vulneráveis.

Quando questionada sobre os principais desafios para uma mulher trans na advocacia, Maria Eduarda é categórica: "sobreviver dentro do Direito machista e, muitas vezes, sexista e transfóbico. Matar um leão por dia e fazer do limão uma limonada".

Sobre o cenário jurídico para uma pessoa trans, a advogada ressalta a dificuldade, pois o cenário anterior à atuação profissional não é animador: "enfrentamos a alta exclusão escolar de nossa população. Travestis não se evadem das escolas, são expulsas por uma estrutura que não nos enxerga como seres inteligíveis", explica.

"A violência é a primeira instituição que uma pessoa trans conhece em nossa sociedade."

No entanto, Maria Eduarda reconhece os avanços e cita, por exemplo, o provimento 73 do CNJ, de 2018, que assegura retificação de nome e gênero diretamente nos cartórios, sem necessidade de processo judicial ou laudos patologizantes, "é uma grande conquista do movimento trans", comemora.

Veja mais no portal
cadastre-se, comente, saiba mais

Leia mais

Migalhas Quentes

Homofobia e transfobia devem ser enquadradas na lei de racismo, entende Celso de Mello

20/2/2019
Migalhas Quentes

Suspenso julgamento sobre omissão do Legislativo para criminalizar homofobia

14/2/2019
Migalhas Quentes

"Quantas mortes serão necessárias para sabermos que já morreu gente demais?", diz vice-PGR sobre homofobia

14/2/2019
Migalhas Quentes

STF inicia julgamento sobre omissão legislativa para criminalização de homofobia

13/2/2019
Migalhas Quentes

STF julga hoje se Congresso foi omisso ao não criminalizar homofobia

13/2/2019
Migalhas Quentes

PGR defende que homofobia seja julgada como crime de racismo

24/6/2015

Notícias Mais Lidas

"Vale-peru"? TJ/MT fixa R$ 10 mil de auxílio-alimentação em dezembro

19/12/2024

Bosch é condenada a pagar R$ 1,7 mi por fraude em perícias judiciais

19/12/2024

iFood é multada por designar representante hospitalizado em audiência

19/12/2024

PEC que limita supersalários de servidores é aprovada pelo Congresso

20/12/2024

MP/BA investiga Claudia Leitte por retirar "Iemanjá" de música

19/12/2024

Artigos Mais Lidos

Afinal, quando serão pagos os precatórios Federais em 2025?

19/12/2024

Atualização do Código Civil e as regras de correção monetária e juros para inadimplência

19/12/2024

5 perguntas e respostas sobre as férias coletivas

19/12/2024

A política de concessão de veículos a funcionários e a tributação previdenciária

19/12/2024

Julgamento do Tema repetitivo 1.101/STJ: Responsabilidade dos bancos na indicação do termo final dos juros remuneratórios

19/12/2024