“O delator foi obrigado a mentir e acho muito estranho ser na véspera do meu pronunciamento e na semana em que a parte do Poder Executivo envolvida no cumprimento dos mandatos judiciais tenha agido com aquela fanfarronice toda. Há um objetivo claro de constranger o Legislativo e que pode ter o Executivo por trás em uma articulação do procurador-geral da República.”
A declaração do presidente da Câmara Eduardo Cunha acirrou os ânimos em Brasília, mais um desdobramento das investigações no âmbito da operação Lava Jato. A acusação veio na esteira do depoimento do lobista Julio Camargo nesta quinta-feira, 16.
Júlio Camargo afirmou que o presidente da Câmara pediu propina no valor de US$ 5 mi para que um contrato de navios-sonda da Petrobras fosse viabilizado. O lobista disse também que Eduardo Cunha exigiu o pagamento da propina de Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano, um dos presos da Lava Jato.
Segundo Camargo, Fernando teria dito: "Estou sendo pressionado, violentamente, inclusive pelo deputado Eduardo Cunha. Isso vai chegar numa situação muito embaraçosa para mim e para você [Júlio]."
Ao tomar conhecimento das acusações, Cunha declarou:
“Já falei que o delator mente. E mente a mando do procurador-geral da República, para não perder a sua delação.”
Em nota (v. abaixo), a PGR destacou que o depoimento de Júlio Camargo não tem qualquer relação com os inquéritos em trâmite no âmbito do STF.
Cunha disse não temer uma possível acareação com Camargo. “Eu faço olho no olho com quem quiser. Eu não tenho dificuldade nenhuma de rebater quem quer que seja, quem não deve não teme e ele está mentindo e o delator tem que provar a sua mentira. Não cabe. O ônus da prova é de quem acusa, não de quem tem que se defender.”
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Nota de Eduardo Cunha
Com relação à suposta nova versão atribuída ao delator Júlio Camargo, tenho a esclarecer o que se segue:
1- O delator já fez vários depoimentos, onde não havia confirmado qualquer fato referente a mim, sendo certo ao menos quatro depoimentos.
2- Após ameaças publicadas em órgãos da imprensa, atribuídas ao Procurados Geral da República, de anular a sua delação caso não mudasse a versão sobre mim, meus advogados protocolaram petição no STF alertando sobre isso.
3- Desminto com veemência as mentiras do delator e o desafio a prová-las.
4- É muito estranho, às vésperas da eleição do Procurador Geral da República e às vésperas de pronunciamento meu em rede nacional, que as ameaças ao delator tenham conseguido o efeito desejado pelo Procurador Geral da República, ou seja, obrigar o delator a mentir.
Deputado Eduardo Cunha
Presidente da Câmara dos Deputados
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Nota da PGR
“A Procuradoria-Geral da República esclarece que o depoimento prestado na presente data por Júlio Camargo à Justiça Federal do Paraná não tem qualquer relação com as investigações (inquéritos) em trâmite no âmbito do Supremo Tribunal Federal. A audiência referente à ação penal da primeira instância – que tem réu preso, ou seja, tem prioridade de julgamento – foi marcada pelo juiz federal Sergio Moro há semanas (em 19 de junho), a pedido da defesa de Fernando Soares, e a PGR não tem qualquer ingerência sobre a pauta de audiências do Poder Judiciário, tampouco sobre o teor dos depoimentos prestados perante o juiz.”