Aluna da USP que desviou R$ 1 mi e tirou CRM fará exame psicológico
Atendendo a pedido do MP/SP, juíza determinou perícia. O parquet argumenta que, se a ré de fato tiver transtornos mentais, isso pode comprometer a atuação como médica.
Da Redação
quinta-feira, 20 de março de 2025
Atualizado às 12:47
Alicia Dudy Muller Veiga, condenada pelo desvio de quase R$ 1 milhão da comissão de formatura de medicina da USP, deverá se submeter a exames psicológicos por determinação da juíza de Direito Adriana Costa, da 32ª vara Criminal de São Paulo/SP. A decisão atende a um pedido do MP/SP.
O parquet bandeirante solicitou a medida ao verificar que Alicia obteve recentemente registro como médica no CRM - Conselho Regional de Medicina e estaria exercendo a profissão. O órgão argumentou que, enquanto buscava o registro profissional, a ré tentava reduzir sua responsabilidade pelo desvio, alegando problemas psiquiátricos.
Diante disso, a magistrada determinou que o CRM fosse oficiado para confirmar se Alicia possui registro como médica. Além disso, ordenou que a resposta do ofício fosse encaminhada ao perito responsável pelo exame psicológico, com a inclusão de um novo quesito na perícia.
No mesmo despacho, a juíza retirou o sigilo do caso, ressaltando que a publicidade dos atos processuais deve ser a regra e que não havia fundamento legal para a manutenção do sigilo.
Contradição na alegação de insanidade
O promotor de Justiça Vagner dos Santos Queiroz argumentou que a defesa da acusada tenta evitar as consequências de seus atos alegando inimputabilidade ou semi-imputabilidade.
No entanto, destacou que, paralelamente, Alicia Dudy Muller Veiga se formou em medicina e conseguiu o registro no CRM, o que indicaria que estaria apta a exercer a profissão.
"Se de um lado a ré vem aqui alegar possuir problemas psiquiátricos, transtornos de personalidade e tudo o mais para minimizar as consequências de seus atos, de outro, pelo menos aparentemente, pelo que informa a reportagem, ela obtém registro de médica, vai consultar pessoas doentes, prescrever remédios e atuar como se nada desses problemas psicológicos e psiquiátricos por ela supostamente enfrentados realmente existissem", apontou o promotor.
Pedido de novas diligências
Diante desse cenário, o MP pediu que o CRM fosse oficiado para confirmar se a acusada realmente obteve o registro como médica. Além disso, solicitou que a informação fosse encaminhada ao perito responsável pelo exame médico-legal da ré e que fosse acrescentado um novo quesito à perícia:
"Esclareça o Sr. Perito, finalmente, se a ré exerce a medicina atualmente e, caso constatados os problemas, anomalias, doença ou perturbação mencionados nos quesitos anteriores, se teria a ré condições psicológicas e psiquiátricas de exercer a medicina."
Além disso, o MP requereu que o sigilo do caso fosse retirado, argumentando que a regra geral é a publicidade dos atos processuais e que não havia justificativa para manter o processo sob sigilo.
Comunicação ao CRM
Por precaução, a Promotoria também solicitou que o CRM fosse informado sobre documentos nos autos que detalham os transtornos alegados pela ré. O MP afirmou que, caso a ré realmente enfrente os problemas mencionados, seria temerário que as autoridades públicas ignorassem essas alegações e não informassem o Conselho de Medicina.
"Se de fato a ré sofre de todos os males que alega, seria temerário as autoridades públicas que atuam no presente feito tomar conhecimento disso e simplesmente se calar, omitir, deixando de informar o Conselho de Medicina sobre essas questões, que quiçá não foram informadas àquele Conselho quando da respectiva solicitação do registro", destacou o promotor.
- Processo: 1509221-21.2022.8.26.0564
Veja a manifestação do MP e a decisão da juíza.
Estelionato
Em julho de 2024, a ex-estudante de medicina foi condenada a cinco anos de reclusão, em regime semiaberto, por estelionato de forma continuada, praticado por oito vezes. O juiz de Direito Paulo Eduardo Balbone Costa, da 7ª vara Criminal da de São Paulo/SP, condenou-a, ainda, ao pagamento de indenização às vítimas no mesmo valor desviado.
Segundo os autos, Alicia Dudy Muller, de 25 anos, era presidente da comissão de formatura e desviou os valores arrecadados dos colegas para uma conta bancária de sua titularidade, sem o conhecimento dos demais.
O conjunto probatório indicou que a estudante utilizou o dinheiro para benefícios pessoais, incluindo a compra de um celular e um relógio, aluguel de veículo, custeio de estadia e investimentos financeiros.
Golpe na lotérica
A estudante também tornou-se ré, em abril de 2024, acusada de desviar R$ 192,9 mil de lotérica em São Paulo. A denúncia foi aceita pela juíza da 32ª vara Criminal da Capital, e o caso segue sob sigilo judicial desde novembro de 2023.
Alicia foi acusada de estelionato após manipular transações na lotérica. Ela fez apostas de R$ 891 mil, mas, ao pagar, transferiu apenas R$ 891 via pix, apesar de mostrar um extrato sugerindo o pagamento completo.
O golpe só foi notado pela gerente da lotérica após as apostas terem sido formalizadas, totalizando R$ 193,8 mil. A polícia indicou que, apesar de algumas perdas, Alicia conseguiu ganhar R$ 366,6 mil em prêmios, o que sugere uma tentativa de lavar o dinheiro desviado da formatura.