Conquanto a pauta estivesse cheia (há 35 propostas), um tema monopolizou os debates na manhã de ontem.
Com efeito, o batonnier da advocacia abriu os trabalhos questionando o conselheiro Carlos Roberto Siqueira Castro, representante do RJ, acerca de reportagem veiculada no site Conjur, segundo a qual Siqueira Castro teria colocado "em dúvidas as finanças da entidade" (sic).
De acordo com o referido noticioso, o ilustre advogado fluminense teria dito que : "Se o TCU fizesse um exame das contas da diretoria do Conselho Federal, talvez essas contas não passassem sob o crivo mais elementar da contabilidade pública”. E mais, que “não há, efetivamente, transparência, não há aquela governabilidade que encanta os olho (sic) dos democratas".
Ophir, evitando fazer julgamentos de afogadilho, quis ouvir o advogado quanto à veracidade das informações.
Ao responder, o festejado causídico fluminense confirmou as informações, asseverando que os conselheiros não sabem "absolutamente nada do que se passa na gestão financeira e orçamentária da OAB".
Depois de longos minutos mantendo o discurso áspero, a palavra voltou ao batonnier, que redarguiu também de modo duro. Seguiram-se vários conselheiros, todos apoiando a diretoria da Ordem.
O clima esquentou. Esquentou. Esquentou mais um pouco. E aos poucos foi amainando.
Quase no final, quando a animosidade já estava latente, o advogado Siqueira Castro honrou-nos, citando este nosso despretensioso informativo.
Tal o fez, porque Migalhas, ontem, no fechamento da amanhecida edição, auscultou o começo da arenga e quis passar isso aos leitores. Dissemos, ipsis litteris :
"Siqueira Castro, representante do RJ, começou a sessão de hoje com duro discurso pedindo transparência nas contas da OAB. O batonnier da advocacia redarguiu, em acalorado debate. É possível assistir ao vivo."
Mas o que era para ser regozijo migalheiro, ser citado (ainda mais por tão iluminado doutrinador pátrio), transformou-se em taciturnidade.
É que para S. Exa. nossa nota estava truncada.
Ao saber disso, este informativo - cioso da credibilidade que granjeou no meio jurídico - enviou imediatamente e-mail ao advogado com o objetivo de esclarecer os fatos, até mesmo porque, como já disse o Conselheiro Rui Barbosa, "no jornalismo a brevidade inevitável das epígrafes atraiçoa, e desfigura, não raro, as mais cândidas intenções".
Amável, como sói ocorrer, o conselheiro nos respondeu nos seguintes termos :
"Reitero que jamais tive a intenção de atacar ou acusar a honorabilidade de quem quer que seja, notadamente membros da nossa ilustrada e digna Diretoria do CFOAB, tampouco e, sobretudo, a do douto e digno colega Dr. Miguel Cançado, Diretor Tesoureiro do CFOAB, a quem muito respeito e estimo. Minhas críticas, tanto no evento do Rio de Janeiro quanto hoje pela manhã na sede do CFOAB em Brasília foram e serão sempre no plano estritamente institucional, ou seja para fins do aperfeiçoamento dos procedimentos internos da OAB, isto de forma técnica e sem qualquer interesse pessoal, político ou de outra ordem."
O fato é que no pano de fundo estão as eleições nas seccionais da OAB, em novembro. Aliás, o debate seguinte, que pelo adiantar da hora não se prolongou, tratava justamente deste tema, diante de uma recente pesquisa de intenções de voto feita por um instituto pernambucano. Muitos Conselheiros Federais, preocupados com a guarda dos dados dos advogados, que a eles, diga-se, é confiada por mandato temporário, querem saber como a empresa teve acesso às informações dos causídicos tupiniquins para conseguir realizar a consulta.
Enfim, são acomodações políticas que se dão como um encontro de icebergs nos oceanos da vida. Às vezes eles se juntam, formando um só bloco. Às vezes, no entanto, apenas um segue pelos mares. Mas acontece, também, de muitas vezes os dois, tendo se esbarrado, seguirem, íntegros, cada qual seu rumo.