A inflação de alimentos e a queda da popularidade do governo Lula
A inflação de alimentos no Brasil é resultado de problemas estruturais, como falta de infraestrutura, políticas ineficazes e apoio insuficiente a pequenos produtores.
segunda-feira, 24 de março de 2025
Atualizado às 09:45
Nos últimos dias tem sido recorrente nas mídias escritas e faladas a notícia sobre a inflação parcial relativa aos alimentos. Ela é parcial na medida em que só atinge os alimentos. No aspecto mais geral ela está sob controle, tendo em vista os dados positivos obtidos recentemente pelo governo Lula, como o aumento do PIB, a queda da inflação e do desemprego, e o aumento do consumo das famílias.
O mercado, como não poderia deixar de ser, defende, equivocadamente, que a inflação é de demanda, baseada na lei da oferta e da procura, devendo ser combatida com o aumento da taxa de juros. Ele propugna o ajuste fiscal baseado no restritivo arcabouço fiscal. Deve o governo gastar menos e cortar onde puder. Isso porque o corte dos gastos primários com despesas fixas e com políticas sociais impede os gastos com a proeminente dívida pública do país, como pensam os neoliberais. O governo tem aderido a esse posicionamento do mercado, razão pela qual enviou ao Congresso um pacote que prevê cortes no BPC e no salário mínimo, muito mal recebido pela população carente e pela esquerda. Só não foi pior porque a oposição, posando de boazinha, amenizou os impactos das medidas propostas pelo governo.
Ocorre que a inflação em nosso país não é, prioritariamente, de demanda, mas sim de custo. Custo com a péssima infraestrutura do país que vem sendo degradada desde as privatizações havidas no governo FHC.
Parece, agora, que o governo, com a queda da sua popularidade, mercê do citado ajuste fiscal no BPC e no salário mínimo etc, bem assim a inflação de alimentos, começou a sinalizar com algumas medidas, como a isenção do imposto de importação, que devem ser consideradas paliativas. Com efeito, o problema é estrutural e de há muito existente, passando, inclusive pelos governos Lula 1 e 2, e pelo governo Dilma, quando foram adotadas medidas insipientes.
Assim, a inflação de custo decorre dos seguintes fatores: é preciso incentivar, com a reforma agrária e com financiamentos baratos, os pequenos e médios produtores, que - ao contrário do agronegócio, que ganha vultosos recursos com a exportação, baseada no dólar e isenta de imposto de exportação, de soja, milho, carne etc, vendendo tais produtos no mercado interno por elevados valores - colocam comida na mesa do brasileiro; precariedade de transporte ferroviário e fluvial para a circulação de produtos básicos; falta de aporte tecnológico através das entidades competentes, como a EMBRAPA; política ambiental ineficaz, que ocasiona o aquecimento global e os desastres ambientais, impactando, sobremodo, a agricultura; ausência de construção de silos ou armazéns gerais para receber os produtos dos pequenos e médios produtores e estoca-los para fins regulatórios, a saber, para quando do aumento do preço dos alimento, equilibrá-lo com a inserção deles no mercado; por fim, política ineficiente da PETROBRAS para reduzir o custo dos combustíveis, dado que o nosso transporte é, majoritariamente, rodoviário.
Não é ocioso salientar que, no governo Bolsonaro, a CONAB foi praticamente destruída, sendo certo que ao menos 27 armazéns gerais foram fechados.
Essas medidas, a médio prazo, podem ressoar positivamente na popularidade do governo Lula, de modo a torná-lo competitivo nas próximas eleições. É certo que elas, para sua implementação, demandam tempo, mas é preciso que o governo dê um alento para o povo, sobretudo da sua base eleitoral, começando a colocá-las em prática.
De outro lado, embora seja sabido que a extrema direita queira a todo custo suplantar Lula no próximo pleito eleitoral, é com ele que devemos contar. Se é verdade que o seu governo tem levado a cabo um neoliberalismo progressista ou mitigado, vale dizer, acenando para o mercado, mas não perdendo de vista algumas políticas sociais, não menos veraz é a asserção de que a volta da extrema direita ao poder representará um grande retrocesso para a democracia brasileira. O governo Bolsonaro fez terra arrasada no país, destruindo as estruturas do Estado e piorando sobremodo a vida do brasileiro, notadamente da população mais carente.
Para arrematar, é forçoso unir esforços no sentido de alertar o governo para que saia de seu imobilismo atual, adotando medidas estruturante com vistas a debelar ou minorar a inflação de alimentos, bem assim dissuadi-lo de prosseguir na sua sanha de cortar despesas necessárias e imprescindíveis para uma vida digna da população.