As advogadas e suas finanças
Tania C. Borges*
Interessante notar também que hoje há livros e sites segmentados sobre finanças pessoais especialmente com foco no público feminino, já que somos nós que fazemos a maioria das escolhas de gastos nos lares brasileiros e representamos boa parte da força de trabalho no país. Reparei também que muitas dessas publicações têm capítulos com um certo quê de auto-ajuda no quesito "dívidas" e/ou "conta no vermelho", no melhor estilo "Becky Bloom"...
Estereótipos à parte, como não poderia deixar de ser, o interesse das advogadas nesse assunto é crescente. Achei sintomático o número de advogadas interessadas no tema de finanças na última reunião do grupo "Jurídico de Saias" e também algumas dúvidas comuns a esse grupo me chamaram a atenção para o que talvez sejam nossos pontos fracos. Apesar de confeccionarmos contratos sociais de grandes empresas e interpretar leis cada vez mais complexas e específicas, vi o terror das colegas sobre lançar números nas "famigeradas" planilhas em Excel. O que dizer então dos ensinamentos (básicos) de matemática financeira? Juros compostos e custo de oportunidade? Será deixar esses assuntos para os "especialistas" (como seu gerente do banco prime ou cara-metade) a solução!?
Imagino que o tema seja particularmente crítico para advogadas que atuam como profissionais autônomas ou tenham escritório, pois o domínio dos custos e rentabilidade devem ser milimetricamente medidos. Afinal, como muitos colegas do contencioso me relatam, é preciso tomar cuidado para não "pagar para trabalhar"...
Por outro lado, as advogadas têm alguns pontos bem fortes caso queiram se enveredar pelo terreno dos investimentos. Afinal, lemos com tranquilidade regulamentos de fundos de investimentos (algumas de nós os redigem), confeccionamos contratos de compra e venda, de locação, estamos acostumadas a dissecar regulamentos de planos de previdência, apólices de seguros e afins.
Bem, sinto dizer que é inaceitável que hoje em dia advogadas não dominem as ferramentas de finanças, ao menos na modalidade básica. Por certo que com formação originalmente em direito também tive minhas dificuldades e meus momentos de amor e ódio com o Excel, mas nada como nós mesmas fazermos nossas planilhas e acompanharmos nossas decisões de investimentos mês a mês, ano a ano, nos mínimos detalhes e com a frieza dos números. Não vejo sentido na maior participação feminina no mercado de trabalho se esta não vier acompanhada de maior controle sobre as finanças pessoais e maior conhecimento em investimentos por parte das mulheres, em particular de nossa profissão. Uma de nossas maiores conquistas pessoais deve ser a independência financeira no longo prazo, o que certamente não acontecerá se não nos preocuparmos com o tema ou mesmo "terceirizarmos" a responsabilidade.
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1 Além do mais conhecido título “Rich Dad Poor Dad”, há várias outras obras do autor sobre o tema, tais como “Guide to Investing”, “Cashflow Quadrant” e “Rich Dad’s Prophecy”, dentre outras.
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*Advogada e mestre pela USP, cursou GVPec de Finanças e Contabilidade. Gerente de compliance de empresa do ramo financeiro em São Paulo. Integrante do grupo Jurídico de Saias
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