No início de janeiro escrevi neste nobre espaço sobre a inação do governo federal e o silencio das instituições médicas ante a verdadeira chacina, com um absurdo excesso de mortes que deveriam ter sido evitadas (à época chegávamos a quase 200 mil mortes), não fosse o atual governo de extrema direita ser tão contrário à ciência e adepto do obscurantismo e do negacionismo. Já ultrapassamos mais de 230 mil mortes e se considerarmos a subnotificação de casos e as mortes causadas por falta de assistência para outras enfermidades, ante um sistema de saúde sobrecarregado pela Covid-19, já devemos estar com cerca de 500 mil óbitos em uma estimativa conservadora.
Mas o cruel espetáculo que se seguiu era inimaginável: novo pico da doença em Manaus, com centenas de mortes por falta de oxigênio , ante a falta do provisionamento do gás essencial para a vida pelo Ministério da Saúde, na qual um militar sem qualquer experiência técnica ou administrativa em um setor sucateado como o SUS ( um personagem com características da subserviência de Hudolf Hess com o sarcasmo e a obesidade pícnica de Herman Göering ), segue à frente do outrora valioso Órgão. Acresce à folha corrida da sua negligência um dos crimes mais bárbaros da história do Brasil: a falta de planejamento na aquisição de insumos e vacinas para a Covid, a divulgação através de um aplicativo oficial de um kit medicamentoso ineficaz ( e provavelmente causador de mais mortes evitáveis ), a falta de leitos de UTI, respiradores, gases medicinais, entre outros delitos.
Não, não ficaremos livres da Covid-19 neste ano, considerando-se o ritmo da vacinação atual e ante a inércia proposital do governo federal. Já circulam cepas variantes de Manaus, com maior infectividade e letalidade ainda desconhecida, e quanto mais lento o ritmo de imunização, mais cepas surgirão.
Chama a atenção a catastrófica previsão de uma economista-chefe de um dos maiores bancos brasileiros para o 2º semestre: 18 milhões de desempregados, distúrbios sociais, e somente 59% de cobertura vacinal até dezembro, insuficiente portanto para a imunidade de rebanho e o impedimento da disseminação do vírus.
Considerado um dos 3 piores países que administrou(?) a epidemia, segue consolidado o atual governo na elite financeira, classe média e empresariado em geral, em uma economia financeirizada, regida pelo admirador de Schacht. O Congresso Nacional referenda até o momento todos os atos criminosos do atual governo, através de uma maioria denominada BBB ( boi, bala e bíblia). Uma entidade médica sob pressão se manifestou publicamente sobre a epidemia e teria sido melhor se tivesse mantido silêncio, ante à subserviência manifestada e obscurantista ao atual governo, cujo líder de extrema direita é atualmente considerado inimigo da humanidade e pária mundial.
Não foi diferente na Alemanha em 1933: a terra de Nietzsche tinha instituições sólidas e democráticas. Com a ascensão do Nazismo, houve a rápida destruição do estado democrático de direito e das próprias instituições que a amparavam, incluindo o judiciário. A consequência foi catastrófica: 2ª Guerra Mundial e o extermínio em massa de 6 milhões de Judeus (incluindo 1 milhão de crianças), além de milhares de ciganos, poloneses, homossexuais, prisioneiros de guerra, comunistas, Testemunhas de Jeová e deficientes físicos e mentais, somando segundo as últimas estimativas 11 milhões de mortos pela ação direta da máquina nazista, liderada pelo militar Adolf Hitler.
Certa está a Justiça Alemã: ante o recrudescimento do ódio fascista em diversos países, vem punindo exemplarmente aqueles que participaram da máquina de morticínio nazista: administradores, secretárias, guardas, enfim todos aqueles cuja participação viabilizou o Holocausto, não só os mandantes dos assassinatos.
Não existe no Foro Alemão o argumento de seguir ordens: sempre temos a opção de resistir e nos opor à crueldade. A punição dos participantes ativos do Holocausto, ainda que tardia ( alguns dos condenados tem mais de 90 anos), é a garantia de que genocídios não se repetirão.
Temos que reconhecer que a nossa democracia é anêmica. Várias vezes interrompida por golpes, quarteladas e autogolpes, não temos o vigor das democracias que só muitos anos a fio de tradição constroem. Grande parte da imprensa é guiada pelo conservadorismo e o interesse econômico das grandes empresas ( estas agora tem o governo que sempre sonharam...).
Sigo ciente da derrota da nossa sociedade ante os ideais do Iluminismo. Mas como bem disse o meu estimado e saudoso Darcy Ribeiro: não gostaria jamais de estar ao lado dos vencedores, no caso, os protagonistas do holocausto brasileiro.
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United States Holocaust Memorial Museum (sítio: ushmm).