Não é preciso dispender maiores esclarecimentos sobre a seriedade deste vírus que tem assolado o mundo, tampouco sobre a gravidade e mortalidade deste, até agora são cerca de 1.912.923 mil pessoas infectadas no mundo, quase 120 mil mortos e 448.053 pessoas recuperadas (dados de 13 de abril).
A grande polêmica mundial se refere ao fato de impor uma quarentena forçada, vertical ou horizontal, bem como o tempo necessário para achatar a curva de crescimento de pessoas infectadas versus a capacidade de atendimento médico hospitalar dos pacientes.
Inicialmente, devemos analisar os dados chineses, país em que se originou o vírus. Apesar de grande desencontro de informações e dificuldade em asseverar a veracidade dos dados divulgados pelo governo chinês, um fator chama atenção do mundo: a baixa mortalidade naquele país (3.341) e dos infectados (82.160) frente a sua população (1,394 bilhões).
Talvez o fato da China ser uma grande ditadura, com o Governo controlando os passos de seus cidadãos através do celular, do reconhecimento facial nas câmeras instaladas na rua (aplicando sanções severas aos que descumprem a ordem), dentre outras forma de controle seja a resposta para a baixa quantidade de pessoas que contraíram o vírus, o que permitiu ao Governo Chinês extremo sucesso no lockdown e controle na primeira onda de vírus no País. Em Wuhan, epicentro da pandemia chinesa, foram mais de 2 meses de quarentena total, inclusive proibindo os cidadãos de se movimentarem entre as cidades.
Na Europa e nos EUA temos exemplos de países que no início da contaminação, afrouxaram a quarentena e depois foram obrigados adotarem medidas mais extremistas já que o sistema de saúde não era capaz de uma maneira geral atender a população.
Hoje os países mais afetados na Europa (Itália e Espanha) começam a discutir formas de liberação gradual da quarentena enquanto outros estão estendendo o período de quarentena (França e EUA).
E no Brasil? Ora, o Brasil não se compara à nenhuma dessas nações.
O Brasil é incomparável por algumas razões, primeiro como diz o Ministro da Saúde em suas entrevistas, o Brasil equivale à um continente e as medidas adotadas não podem ser uniformes e concomitante em todos os Estados e os mais de 5.000 Municípios.
Além disso, o clima no Brasil pode nos favorecer em relação ao vírus e a sua proliferação, já que na Europa e EUA o clima é inverso ao hoje no Brasil, o que pode sugerir a alta taxa de mortalidade e proliferação do vírus.
Porém, um dos fatores que mais levo em consideração no Brasil para formar uma opinião e agir, se refere aos fatores políticos e as suas nefastas consequências.
O Governo Brasileiro tomou conhecimento da pandemia no final de 2019 e iniciou suas medidas no final de janeiro deste ano, quando o Itamaraty determinou que os cidadãos brasileiros que se encontravam em Wuhan realizassem uma quarentena obrigatória de 14 dias antes de serem repatriados.
Naquela época, início de fevereiro, os Governadores e Prefeitos já deveriam ter iniciado a construção dos hospitais de campanha, compra e importação das máscaras e EPIs de proteção, respiradores, construção de locais para realização da quarentena vertical, bem como estudos e discussões socio econômicas de sobrevivência à sua população.
Mas como diz o ditado brasileiro, o ano só começa após o carnaval no Brasil, então ninguém cogitou sequer cancelar ou restringir o carnaval de rua no país ou mesmo se preocupar com a chegada do coronavírus.
As consequências já são desastrosas na vida das pessoas e na economia do brasileiro em razão da grande omissão e descaso dos políticos de uma maneira geral sobre o tema no início do ano. A grande verdade, é que os políticos passaram a se preocupar com o fato 1 semana após o carnaval, ou seja, no início de março apenas.
O resultado hoje é um Presidente da República preocupado com a economia nacional e os estragos sem precedentes que o covid-19 nos deixará ao país enquanto muitos Governadores utilizam o atual momento como palanque político e propaganda eleitoral gratuita diária, pregando um terror sem qualquer planejamento econômico e mesmo no que tange à saúde para a população geral que governam.
Os deputados e senadores recusaram o repasse de R$ 2 Bilhões do fundo eleitoral para a saúde por exemplo, recusam reduzir seus salários e privilégios, mantem as aposentadorias especiais, as férias prolongadas, os 50 assessores para cada senador, os Governos Estaduais e as Prefeituras exigem o lockdown geral, mas não isentam ou diferem os pagamentos de IPTU, IPVA, ICMS, ISS, dentre outras ajudam que se recusam à dar ao cidadão em contrapartida exigem a liberação de recursos do governo federal, em troca do que? De continuar pregando o terror, o caso e não oferecer nada ao cidadão.
Segundo levantamento divulgado pela Sebrae, pelo menos 600 mil micro e pequenas empresas encerraram as suas atividades em razão do covid-19, 9 milhões de funcionários já foram demitidos, aumentando a taxa de desemprego em 9,4%, isso só em micro e pequenas empresas, esses dados não levam em consideração os autônomos, informais, funcionários de grandes empresas, dentre outros.
A conclusão é simples, toda essa quarentena (necessária, repito), porém desordenada que os Governadores e Prefeitos estão adotando sem nenhum planejamento ou ajuda econômica à sua população levará a morte de milhares de pessoas por questões econômicas já que visam apenas a briga política disfarçada de preocupação com a vida do cidadão.
A grande questão agora é preparar a população de acordo com a sua realidade territorial, existem cidades que sequer existe caso confirmado de coronavírus e se encontra em quarentena há mais de 20 dias, uma falta de racionalidade, a meu ver.
Pedir aos políticos e governantes brasileiros uma união e planejamento sem colocar o jogo político seria utopia da minha parte e por mais que eu queira, não adianta gastar meu tempo com isso. O setor privado já arrecadou mais de R$ 2 Bilhões em doações ao combate ao covid-19, então chegou a hora do setor privado fazer algo para a recuperação da economia brasileira, porque mesmo estarmos diante do maior desafio mundial após a 2ª guerra mundial, os políticos brasileiros estão interessados apenas fazer rusgas políticas.
Não estou defendendo a anarquia ou desobediências aos decretos estaduais de quarentena editados pelos governantes, mas sim, uma pressão dos entes privados e da população em geral para que seja apresentado um planejamento para sair da quarentena, para que seja feita uma quarentena vertical e principalmente, que os Governos e Prefeituras sigam ao exemplo do Governo Federal ajudando à sua população naquilo que o Governo Federal ainda não foi capaz de fazer.
Nenhuma empresa é capaz de sobreviver por mais de 30 dias fechada, não há fluxo de caixa, não há reserva, não há faturamento, não há atividade empresarial alguma, logo não há sobrevivência.
O povo precisa trabalhar, as empresas precisam faturar e o país precisa voltar a andar, mesmo que por ora, de forma vertical.
Porque não pensar em colocar os cidadãos de risco em isolamento vertical? Porque não utilizar o sistema hoteleiro para isso? Porque não construir hotéis temporários? Porque não apresentar um plano de saída da quarentena e de isolamento nos Estados?
Existem duas respostas mais críveis:
1- Não há interesse dos políticos que visam uma candidatura mais forte nas próximas eleições acabar com esse terror e
2- Não há uma certeza no que tange ao pico da doença no brasil em razão do clima, das adversidades que o brasileiro possui como condição de moradia, falta de saneamento básico e o próprio sistema imunológico forte ou não do brasileiro que vive em condições precárias.
O fato é que o país não suporta ficar em quarentena mais 15 dias e as consequências serão nefastas ao cidadão e as empresas. O desemprego alcançará a marca de 20 milhões entre junho e setembro tranquilamente, há quem fale em cerca de 40 milhões de desempregados em dezembro.
Não há outra alternativa que não seja a volta gradativa às atividades, passando do isolamento radical para o isolamento vertical a partir já da próxima semana.
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*William Carmona Maya é sócio fundador do CMMM – Carmona Maya, Martins e Medeiros Advogados.