Audiência Pública
STF - Luís Roberto Barroso propõe soluções para racionalizar judicialização da saúde no Brasil
Entre as propostas do constitucionalista, está a de definir de antemão qual ente federado deve figurar como réu nas demandas por prestação de saúde. Segundo ele, a jurisprudência que domina hoje, em que a solidariedade entre todos os entes federativos prepondera, cria dificuldades do ponto de vista prático e causa dispêndio de recursos. Isso ocorre porque as três esferas da federação acabam tendo de atuar em juízo em defesa da Fazenda Pública.
Para Barroso, o réu da ação deve ser a entidade estatal diretamente responsável pela prestação do serviço e, quando há duvida razoável sobre quem é responsável, aí sim vale a solidariedade.
Outra proposta apresentada pelo constitucionalista foi no sentido de o Judiciário buscar mecanismos de transformar postulações individuais em coletivas, de forma a levar a questão a debate, permitindo que o Poder Público defenda a sua política pública na área ou até mesmo pressionando o governo a criar uma política pública ainda inexistente no sistema de saúde.
Uma das idéias de Barroso é que o Judiciário oficie ao Ministério Público nesses casos, que pode transformar a demanda individual em coletiva. Ou o próprio Judiciário pode agir nesse sentido, intimando órgãos e entidades com interesse na causa a participar dos debates. "Isso realiza a ideia de universalização e igualdade, deixando de lado o atendimento lotérico, a varejo de prestações individuais", afirmou.
Para o constitucionalista, "a cultura brasileira ainda hoje é a da busca do privilégio e não do direito", situação que "favorece quem tem mais informação e acesso a advogado ou a defensor público". Segundo ele, essa realidade "favorece os menos pobres".
Orçamento
Ao defender que a judicialização não pode ser vista como meio natural de se definir políticas públicas, Barroso lembrou que o debate sobre o orçamento é o fórum principal para se discutir políticas públicas, fórum esse sempre negligenciado pelos setores envolvidos na área.
"Parte da energia que está sendo canalizada para o debate acerca da judicialização deveria ser investida no debate acerca da elaboração do orçamento. É aí que se fazem as escolhas em uma sociedade democrática. As escolhas boas e as escolhas trágicas", avaliou.
Segundo Barroso, "a elaboração do orçamento, no Brasil, é um grande espaço democrático negligenciado" e, por outro lado, há uma indiferença política em relação a seu cumprimento.
"Este fenômeno é potencializado pela competência discricionária que se tem reconhecido ao Executivo de fazer contingenciamentos, isto é, de não se aplicar efetivamente o dinheiro alocado em determinada rubrica", alertou Barroso.
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