A antiga capital do Brasil não ficou de fora dos movimentos que pipocavam no país. Desde a conjuração baiana, passando pela inconfidência mineira e pela revolta do Porto, os baianos estavam com o sentimento de independência à flor da pele.
E embora uma conspiração de cunho constitucional tenha ocorrida em 1821, o início do que ficou conhecido como a Independência da Bahia se iniciou em fevereiro de 1822. Antes, portanto, da Independência do Brasil.
E conquanto tenha se iniciado antes, foi apenas em 2 de julho de 1823 que se consolidou a Independência da Bahia, a partir da expulsão definitiva das tropas portuguesas do Brasil.
Isso não tira o apanágio de ter sido um movimento precursor da Independência nacional. E, ao contrário da proclamação de Independência pacífica no Ipiranga, o movimento baiano foi sangrento, com forte participação civil na luta contra a opressão portuguesa.
Independência da Bahia
Como tudo começou
Com a decisão de Dom Pedro de permanecer no Brasil — desobedecendo às determinações das Cortes de Lisboa — Portugal concentrou em Salvador todos os seus esforços militares. Havia o interesse por parte da metrópole de dividir o país em duas regiões: o sul e o sudeste permaneceriam sob a direção de Dom Pedro; e o norte e nordeste, sob o domínio português. Graças à luta dos baianos, isso não ocorreu.
A disputa na Bahia começou em fevereiro de 1822, com a nomeação do brigadeiro português Inácio Luís Madeira de Melo para ocupar o cargo de governador das Armas no lugar de um oficial baiano. Os ânimos se acirraram entre os nativos e os portugueses.
Militares brasileiros do Regimento de Artilharia se aquartelaram no Forte de São Pedro e o coronel Manoel Pedro Freitas Guimarães foi elevado à patente de general, tornando-se comandante das Armas da Bahia.
Enraivecido com a insubordinação, o português Madeira de Melo bombardeou o quartel rebelde. Os militares brasileiros, em minoria e com pouca munição, viram-se obrigados a se refugiar no interior. A cidade do Salvador virou uma praça de guerra, com confrontos violentos nas Mercês, na Praça da Piedade e no Campo da Pólvora. O caos se estabeleceu. Tumultos, saques e quebra-quebras obrigaram moradores a abandonar a capital com as famílias. Em poucos dias, as vilas e fazendas do Recôncavo se transformaram em imensos campos de refugiados.
(1775 - 1835)
Militar português que se notabilizou por ser o comandante das forças portuguesas na Bahia durante a guerra da independência contra Portugal.
Enquanto isso, os portugueses comemoravam a ocupação da cidade, praticando arbitrariedades e excessos. Em 19 de fevereiro de 1822, invadiram o Convento da Lapa atrás de soldados brasileiros. Ao tentar impedi-los de entrar, a soror Joana Angélica foi morta a golpes de baioneta, transformando-se na grande mártir da guerra pela Independência na Bahia.
Joana Angélica
(1761—1822)
Ingressou no convento da Lapa aos 20 anos, fazendo profissão de fé em 1783 como irmã da Ordem das Religiosas Reformadas de Nossa Senhora da Conceição e adotando o nome de Joana Angélica de Jesus. Progrediu na carreira de religiosa a ponto de, 20 anos depois, tornar-se abadessa do convento. Ao tentar impedir a entrada de militares portugueses no Convento da Lapa para a suposta busca de soldados baianos, a religiosa tornou-se um símbolo da resistência contra o autoritarismo português. É considerada a primeira heroína da independência do Brasil.
1ª Fase
Guerra regional (guerrilha)
A morte de Joana Angélica comoveu os baianos, que deixavam em massa a capital rumo ao interior da província. Cachoeira passou a atrair retirantes de Salvador e de municípios como Santo Amaro da Purificação e se transformou no centro da resistência aos portugueses.
Sob o comando do latifundiário, tenente-coronel Joaquim Pires de Carvalho e Albuquerque D’Ávila Pereira, formou-se um exército amador de pouco mais de 500 homens, chegando a reunir 1.500 soldados. As tropas portuguesas somavam mais de 3.000 almas. Os confrontos eram localizados e não envolviam grandes contingentes. Era guerra de guerrilha, que buscava ocupar posições estratégicas na região.
Joaquim Pires de Carvalho e Albuquerque D'Ávila Pereira
(1788 - 1848)
Herdeiro da família Garcia D'Ávila, proprietária da famosa Casa da Torre, um dos focos de resistência dos brasileiros. Como coronel do Regimento de Milícias e Marinha da Torre, Joaquim Pires foi responsável pela organização das primeiras tropas do que seria o Exército Brasileiro. Conhecido como "Coronel Santinho", usou de importante estratégia que resultou no bloqueio da Estrada das Boiadas, que fechava o acesso terrestre a Salvador, interceptando suas comunicações e impedindo o abastecimento de gado e outros gêneros alimentícios às tropas portuguesas. Devido à sua ação patriótica e de entrega pessoal à causa da independência na Bahia, recebeu o título nobiliárquico de "Visconde de Pirajá".
2ª Fase
Guerra nacional
Em 28 de outubro de 1822, o general Pierre Labatut chega à Bahia, enviado do Rio de Janeiro com o Exército Pacificador para comandar as tropas baianas. Passando por Pernambuco, Alagoas e Sergipe, reuniu reforços de homens, armamentos e provisões.
A 8 de novembro de 1822: a Batalha de Pirajá constituiu um importante combate que envolveu de 2.500 a 4.000 pessoas e resultou na morte de 80. Após a vitória, muitos voluntários foram arregimentados às forças brasileiras.
3ª Fase
Comando de Lima e Silva
Em substituição a Labatut, o coronel Joaquim José de Lima e Silva assumiu o comando em 27 de maio de 1823. A entrada do Exército Pacificador em Salvador marca o fim da guerra. Essa fase contou com a participação de Thomas Cochrane à frente da esquadra brasileira.
(1788 - 1855)
Comandante do Batalhão do Imperador, formado por quase 800 homens escolhidos pelo próprio imperador - um corpo de elite que chega à Bahia em 22 de fevereiro de 1823. Antes de assumir o comando-geral do Exército em 27 de maio, o coronel comandou a brigada central das tropas brasileiras.
Fim da guerra
Em 28 de maio de 1823, Lima e Silva à frente do Exército Pacificador conclama aos portugueses que se rendam imediatamente, depondo suas armas, em troca de terras para cultivo na Bahia ou o embarque para Lisboa.
No dia 3 de junho, ocorreu novo ataque contra as trincheiras da cidade de Salvador ocupadas por Madeira, dificultando ainda mais a sobrevivência das tropas que não contavam com suprimentos. Cochrane ataca a esquadra portuguesa no dia 13 de junho. Salvador estava completamente sitiada e bloqueada, por terra e mar.
Em carta endereçada ao rei D. João VI, Madeira de Melo mostrou que a situação estava insustentável.
Eis que Madeira de Melo decidiu abandonar a capital. Na manhã do dia 2 de julho de 1823, após a retirada da frota portuguesa, os baianos, capitaneados por Lima e Silva, entram na cidade de Salvador. A partir de então, esta data passou a ser incorporada ao calendário cívico da Bahia.
(1792-1853)
Disfarçada de homem, alistou-se no Exército brasileiro para lutar pela independência. Foi a primeira mulher a fazer parte de uma unidade militar no Brasil.