No ensejo das comemorações do bicentenário da independência brasileira, vale recordar os momentos anteriores e posteriores ao glorioso (ou não) 7 de setembro. Com efeito, é preciso entender as causas e os efeitos da declaração de independência.
Nesse sentido, a partir de hoje, vamos ver alguns fatos históricos que marcaram esse período. Comecemos pelo dia em que a Família Real aportou em solo pátrio.
Portugal abandonado, 54 dias de viagem, abertura comercial, novos edifícios públicos, Banco do Brasil e Rio de Janeiro como Capital foram alguns dos fatos que marcaram a permanência da Família Real em território brasileiro.
Entenda a história
Nos primeiros anos do século XIX, parte considerável da Europa estava sob domínio do francês Napoleão Bonaparte. De fato, a campanha expansionista de Napoleão levou a França a dominar territórios desde o que é hoje a Polônia até Portugal.
Um dos obstáculos à consolidação do império francês em toda a Europa era a Inglaterra, que, por seu poder econômico e naval, não conseguiria ser facilmente conquistada pelo líder militar.
Assim, em 1806, visando enfraquecer o governo britânico, Napoleão assinou um decreto em Berlim. Conhecido como “Bloqueio Continental”, o decreto proibia todos os portos da Europa continental, os quais se encontravam comandados pelos franceses, de fazerem comércio com os ingleses. Aliado histórico da coroa britânica, Portugal se viu impotente e vulnerável.
Neste cenário adverso, a ideia de transferência da Corte portuguesa ao Brasil, que era cogitada havia décadas e nunca foi um consenso entre os nobres, precisou se dar às pressas.
A mudança trouxe às terras brasileiras, além da Família Real, milhares de pessoas como: ministros, conselheiros, juízes, funcionários do Tesouro, patentes do Exército e da Marinha e membros do alto Clero.
Em resumo, a mudança da Corte para a maior colônia portuguesa ocorreu, de maneira tumultuada, porque Portugal, pequenino torrão da península ibérica, viu-se ameaçado.
A decisão conservaria a Coroa portuguesa, uma vez que a Família Real considerava ser mais viável comandar o império a partir de uma colônia distante da ameaça napoleônica.
Capital da Corte
22 de janeiro de 1808 é o dia do desembarque da Família Real portuguesa no Brasil. Era a primeira vez que um monarca europeu pisava em uma de suas colônias.
O desembarque ocorreu em Salvador, local em que a Corte permaneceu por pouco mais de 30 dias. Apesar do pouco tempo, foi na Bahia que Dom João VI fez um dos atos de maior relevância: a abertura dos Portos para as Nações Amigas.
A medida permitia que qualquer país comercializasse com o Brasil. A decisão, sem dúvida, fez nascer o Brasil como nação.
Era 26 de fevereiro quando a Família Real deixou a baía de Todos os Santos e partiu para o Rio de Janeiro, local em que se estabilizou e que foi tornado a Capital do reino de Portugal.
Na época, a Corte encontrou um Brasil engatinhando, que vivia na dependência da metrópole.
A "cidade maravilhosa", considerada suja, insalubre e sem condições de receber uma Corte europeia, foi incialmente “maquiada”. Esgotos que corriam a céu aberto foram tapados com flores e folhas que serviriam para aromatizar o ambiente.
As melhorias eram precárias e não definitivas. Dom João VI verificou que a colônia precisava de muitos avanços: estradas, escolas, edificações, instituições, entre outros.
O cenário calamitoso foi suficiente para o então príncipe regente concluir que o país precisava de um governo. E, em tempo recorde, quarenta em oito horas depois de desembarcar no Rio de Janeiro, o monarca organizou seu novo gabinete. O primeiro ministério do Brasil tinha a missão de criar um país a partir do zero.
Anos se passaram e, neste período, diversas mudanças ocorreram no país: novos edifícios públicos, Jardim Botânico, Real Fábrica de Pólvora, Banco do Brasil, Real Academia Militar, emissão de papel moeda, permissão de desenvolvimento de uma imprensa escrita e circulação de produtos ingleses que dinamizaram a economia do país.
A presença da Família Real alterou toda a estrutura administrativa de todo o país, o que provocou o fim do sistema colonial e criou as condições para que o Brasil passasse a sonhar, um dia, com a independência.
Referências: Rádio Senado