O jornal Folha de S.Paulo, em parceria com o site The Intercept Brasil, revelou que o ex-juiz Sergio Moro, em 2015, interferiu nas negociações das delações de dois executivos da construtora Camargo Corrêa.
Segundo os jornais, Moro disse que só homologaria as delações se a pena proposta aos executivos incluísse pelo menos um ano de prisão em regime fechado.
Os diálogos mostram que a interferência de Moro se deu em estágio prematuro, no qual os advogados ainda estavam negociando com a procuradoria. À época, os integrantes da Lava Jato se sentiram incomodados, pois ainda divergiam sobre a melhor maneira de usar as delações para dar impulso às investigações.
Os jornais revelaram as seguintes mensagens trocadas entre Deltan Dallagnol e Carlos Fernando dos Santos Lima, que conduzia as negociações com a Camargo Corrêa:
Deltan Dallagnol: “A título de sugestão, seria bom sondar Moro quanto aos patamares estabelecidos”
Carlos Fernando dos Santos Lima: “O procedimento de delação virou um caos (...) O que vejo agora é um tipo de barganha onde se quer jogar para a platéia, dobrar demasiado o colaborador, submeter o advogado, sem realmente ir em frente (...) Não sei fazer negociação como se fosse um turco. Isso até é contrário à boa-fé que entendo um negociador deve ter. E é bom lembrar que bons resultados para os advogados são importantes para que sejam trazidos novos colaboradores.”
Poucos dias depois, Dallagnol voltou a manifestar sua preocupação:
Deltan Dallagnol: “Vc quer fazer os acordos da Camargo mesmo com pena de que o Moro discorde? (...) Acho perigoso pro relacionamento fazer sem ir FALAR com ele, o que não significa que seguiremos. Podemos até fazer fora do que ele colocou (quer que todos tenham pena de prisão de um ano), mas tem que falar com ele sob pena de ele dizer que ignoramos o que ele disse”
De acordo com os jornais, a opinião de Moro foi respeitada. Com a assinatura dos acordos, dois dias depois, ficou acertado que os dois executivos da Camargo Corrêa, Dalton Avancini e Eduardo Leite, que estavam presos em Curitiba em caráter preventivo havia quatro meses, sairiam da cadeia com tornozeleiras e ficariam mais um ano trancados em casa.
Vazamentos
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