O jornal Folha de S.Paulo faz hoje o que costumam fazer os programas sensacionalistas do início da noite na televisão brasileira: dar voz aos bandidos.
Em garrafais letras, afirma que um “Ex-ministro do STJ recebeu propina de R$ 5 milhões”. Ao final, escamoteando, coloca um “diz Palocci”.
Ou seja, o matutino dá uma informação, em verdade faz uma acusação, para ao final informar que quem diz aquilo é um sujeito preso, cujas contas bancárias, só as declaradas (que fique bem claro), tinham R$ 100 milhões. E mais, é um sujeito que foi condenado, esta encarcerado há quase um ano, e não tem a mínima esperança de voltar a ver o sol redondo.
Na reportagem, que não traz muito mais do que o título, diz-se que Palocci, no bojo da negociação premiada, teria contado, como numa conversa de boteco, que o ex-presidente do STJ, ministro Cesar Asfor Rocha, “recebeu suborno no valor de pelo menos R$ 5 milhões da construtora Camargo Corrêa para barrar a Operação Castelo de Areia da Polícia Federal”.
O jornal irresponsavelmente reproduz, sem nem sequer haver verossimilhança na narrativa, que Palocci teria contado “que o acerto com Rocha foi comandado pelo advogado Márcio Thomaz Bastos, morto em 2014, e incluía também a promessa de apoio para que o então magistrado fosse indicado para uma vaga no STF”.
Para dar ares de mais escândalo, o matutino conta que Palocci teria dito que “o repasse para Rocha foi depositado numa conta no exterior”.
A reportagem, que ocupa página inteira, traz apenas e tão somente isso. Não há uma prova, um papel, um indicativo, nada. Com efeito, há apenas a declaração oca de um sujeito condenado e preso, com outras diversas condenações a caminho, e que aos poucos vai perdendo a possibilidade de voltar a viver a nababesca vida que levava à custa sabe-se lá do que.
Mas evidentemente que há um outro componente nesse molho, que é o fato de que a operação Lava Jato em Curitiba, que teve papel fundamental no combate à corrupção no país, vai perdendo a força, e há um movimento para tentar recuperá-la. O vazamento de uma afirmação vazia, que se disse no meio de uma atrabiliária tentativa de delação, é a prova de que se quer, a todo custo, atrair de volta os acalentadores (para o ego) holofotes da mídia.
Aliás, no caso dessa reportagem, tudo leva a crer que houve até um ensaio de vazamento. De fato, a revista Veja da semana passada trazia uma curta notinha dizendo que Palocci havia “prometido relatar bastidores do sepultamento da Operação Castelo de Areia”.
Apenas para trazer um dado ao caso, é fato que, no tempo em que se deu a decisão de arquivamento da operação, Palocci tinha sido denunciado ao STF por ter quebrado o sigilo do caseiro Francenildo, aquele que tinha narrado encontros nada republicanos dele numa casa em Brasília, onde, segundo consta, se entregava à esbórnia. Ou seja, era antes, como é agora, um pária.
Ainda sobre o arquivamento da operação Castelo de Areia, a qual foi confirmada pela 6ª turma do STJ e depois pelo STF, já se dizia, em notinhas plantadas nos jornais, que os investigadores da Lava Jato, ao se sentarem com delatores da mais variada cepa, sempre perguntavam se eles sabiam algo acerca do arquivamento. Procuravam, como se diz, pelo em ovo.
De maneira que Palocci, cujas tentativas de acordo foram sucessivamente baldadas, provavelmente querendo atender às expectativas dos investigadores, pode ter dito qualquer coisa para tentar se salvar. Mas daí a alguém passar isso adiante, e pior, outro sair reproduzindo, é outra coisa.
É bem o momento de lembrar antigo ditado segundo o qual, é melhor ouvir besteira do que ser surdo.