Migalhas Quentes

Nota de José Dirceu

25/7/2005

Nota de José Dirceu

 

O ex-Ministro da Casa Civil José Dirceu dovulgou nota defendendo-se das acusações de alguns veículos da imprensa nos últimos meses. Confira abaixo a nota divulgada pelo deputado:

 

“O linchamento moral ao qual estou sendo submetido nas últimas semanas é de uma covardia jamais vista na história política deste país. A frustração por não encontrar uma única evidência concreta de minha participação nas ilicitudes investigadas pelo Congresso Nacional, pela Polícia Federal e pelo Ministério Público, tem levado parte representativa da imprensa brasileira a fazer o jogo dos meus adversários políticos. Estou sendo sumariamente condenado em praça pública, sem direito de defesa.

 

Na competição sem freios pelas denúncias, qualquer referência a mim promove a notícia do cesto de lixo para a manchete do dia. Citações desconexas de pessoas sem credibilidade são transmitidas como verdade à opinião pública, sem que meus argumentos sejam sequer levados em conta na apuração. A revista Veja faz isso três vezes na edição 1.915, de 27 de julho de 2005. Nas reportagens ‘A chantagem’ e ‘O petróleo é deles’, minha contestação foi completamente ignorada. Na reportagem ‘Fábrica de fraudes’, sequer fui ouvido. Veja apresenta pessoas que supostamente teriam feito tráfico de influência como meus ‘representantes’. Assume como verdade o fato, mesmo após eu ter dito que ‘nunca autorizei ninguém a usar meu nome’ para abrir portas no governo. Lembrei ainda que isso foi dito em relação ao ex-subchefe de Assuntos Legislativos da Casa Civil Waldomiro Diniz, mas o depoimento do próprio denunciante Carlinhos Cachoeira na CPI dos Bingos provou o contrário.

 

Veja também me coloca como interlocutor de conversas entre o ex-presidente da Câmara deputado João Paulo Cunha (PT-SP) e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em suposta operação para ‘acalmar’ o empresário Marcos Valério. A reportagem não registrou que neguei ter conversado sobre esse assunto. Na outra reportagem, a revista me acusa de ter "acertado’ a edição de uma medida provisória para beneficiar o banco BMG. Não me deu a oportunidade de, além de negar o fato, argumentar que a liberação do crédito consignado para trabalhadores, aposentados e pensionistas do INSS, objeto da MP, foi solicitada pelas centrais sindicais, aprovada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, referendada pelos ministérios da Fazenda e da Previdência Social e aprovada pelo Congresso Nacional.

 

A mesma falta de consideração e respeito aos princípios básicos do jornalismo ocorreu com reportagem de igual teor do jornal Correio Braziliense, publicada em 17 de julho passado. Também fui vítima da mesma anomalia na exibição e publicação de reportagens com citações ao meu nome em conversas interceptadas de fraudadores do INSS. Meu patrimônio moral foi massacrado em duas reportagens que totalizaram mais de 13 minutos no Jornal Nacional da TV Globo, que só no terceiro dia informou seus telespectadores que os denunciantes eram pessoas envolvidas com a máfia do INSS que tinham o objetivo de atingir quem estava moralizando o órgão. A versão inicial foi reproduzida por toda a imprensa, mas a outra foi quase completamente ignorada.

 

Em outras vezes, apesar de ser ouvido na apuração da reportagem, minhas afirmações e argumentos são registrados apenas como obrigação formal. Nesta semana ocorreram dois casos. A Folha de S.Paulo considerou como dívida o reembolso de adiantamentos de despesa feito por mim ao PT, mesmo sendo esclarecida previamente. Outros veículos da imprensa reproduziram a mesma versão. Poucos tentaram me ouvir. Os que o fizeram também desconsideraram a informação correta. Outro caso semelhante ocorreu novamente com o Correio Braziliense. Mesmo depois de sustentar que não conhecia um determinado diretor de finanças de um fundo de pensão e que os controles sobre a indicação de cargos não apontavam que a indicação partiu da chefia da Casa Civil ou do PT, a reportagem assumiu como inteira verdade apenas a palavra de outras fontes, que não se sabe qual interesse podem ter para me desmoralizar.

 

Em razão desse comportamento inadequado de parte da imprensa brasileira, me dirijo à opinião pública do país para afirmar mais uma vez: não me envergonho de nada que fiz nos 30 meses em que permaneci no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Espero ser tratado com respeito, ponderação e justiça nesse processo político de desmoralização, que busca justificar minha condenação sumária em um tribunal de exceção.”

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