O ofício de escrever é uma paixão que me causa medo, pelas ideias muitas delas quase que indestrutível. Escrever é luminoso, requintado e estiloso. É como um sunset, de frente para o mar, em um dia qualquer, regado a um vinho Sauvignon Blanc, conhecido pelo teor refrescante e ao mesmo tempo, repleto de um aroma intenso e de muito sabor.
É viver cada personagem, mesmo que de uma advogada, e atrevidamente delirar com o vernáculo jurídico. Quando escrevo não me preocupo com mais nada. Apenas fico sonhando com os pensamentos que vão sendo protagonizados ganhando com isso, vida e corpo.
Os dedos teclam. O pensamento dançado para mim, me convidando desinibido a ilustrá-lo. Não marcamos nenhum encontro. Simplesmente chega, a toda hora. O notebook sempre conectado me chamando a teclar.
Me sento. Começo a bailar em escrita, não existe mais nada em meu contorno. Somos apenas nós, unidos em consciência e afinidade. Se tem sinergia, segue em frente. Senão, nem tente. Pode ser catastrófico.
O cenário é mental, visual, é tato, é olfato, é paladar. Não invento nada, tudo chega natural, freneticamente. Para completar o ambiente por conta e risco próprio, sirvo-me de uma taça de vinho Cabernet, bem concentrado, que desce rasgando em minha garganta silenciosa, mas à mente em tráfego absurdamente intenso, e como o sinal está verde, acelero um pouco mais. O que estou escrevendo? Não tenho à mínima ideia. São 11h42min de domingo!
Um alarme dispara bem longe, é domingo pé de cachimbo. Tem um hóspede em minha casa, é um dog, me inscrevi no Airbnb, após descobrir como ele funciona. Ainda bem que o alarme parou. O meu hóspede está assustado, tanto quanto eu, e quando nos cruzamos no corredor, ele late, grosseiramente. Eu grito, nos assustamos juntos.
Então, sorrio, ele me olha atônito, não é capaz de me entender, o que não é novidade, vez que nem eu mesma me entendo. O meu telefone está tocando, nem olho quem é, pois não me interessa, apenas quero contar o que está chegando firmemente.
Não é uma ideia pronta, ela chega à galope. O telefone parou de tocar, ainda bem, e para o bem de que está lendo. Sério que você está lendo isso? Pode me dizer o porquê logo abaixo, nas linhas que te convidam. Fique à vontade!
É uma crônica de domingo? Não sei precisar! Escrevo, nesse momento pensando em outra coisa, meu corpo, que tem desejos. Calma, se concentre! Não escreva besteira! Mas porque besteira? Os corpos têm vontades, e é natural, e está tudo bem! Mas volte ao seu hóspede, concentre em ser gentil. Ok?
Do lado, o folgado está estirado no meio da minha sala, cochilando, afinal é domingo, e entendo que ele não quer incomodado. Então, volto para cá, mas ainda não sei como vou finalizar isso. Ele acordou, roçou em minhas pernas, acho que é poque está quase na hora do almoço.
Pausa!
Vamos ver quais são as pretensões dele para o almoço. Mais tarde, a depender, volto com a conclusão da escrita. As latidas dele são novidades para mim. Preciso me acostumar e não me desconcentrar, pois o texto pode ficar perigoso.
Latidas e vinho, podem causar confusão mental, mas nada que um momento de meditação traga à eixo, o córtex frontal. Meu hóspede está me causando danos. Vou acionar o seguro residencial.
Escrever é fascinante! Todas às pessoas deveriam tentar. É libertador de tantas expectativas que se cruzam tagarelas no elevador do condomínio. Não tenha receio de compartilhar os seus pensamentos, pois nem Jesus Cristo agradou a todos.
O que realmente importa é o autodesafio de compartilhar o que é sua moradia interna, bem, aos menos parte disso, pois nem tudo dá para publicar, vez que todos temos aquele frenesi de pensar coisas assustadores e mesmo psicopatas. Humanos!
Não crie problemas onde não existe, pois a vida é ligeira demais, e dite às regras sobre à sua casa, ao seu hóspede, mesmo que ela seja um fofo. Fazer xixi e cocô no chão nem pensar, e também não fique latindo na varanda, ao simples som de um mosquito zombeteiro. Deixe para latir apenas quando a mulher maravilha passar voando pela janela, rumo a salvar o Superman, risos.
Aviso, voltei do almoço.
E o meu visitante, nessa hora, se aproximou e colocou à sua cabeça em minhas pernas. Foi um momento apaixonante, com olhares conectados. Penso que ele não vai mais latir quando me cruzar vestida de preto, no corredor no apartamento. Ele se tornou meu amigo.
Ele é um vira-lata, mas pensa num cachorro gente fina, e me contou que marcou horário em uma casa veterinária antes de se hospedar em meu doce lar. Tomou banho, cortou às unhas, escovou os dentes e atualizou às vacinas. E mais, trouxe toda à sua tralha do dia a dia, ração, coleira, vasilhas e bagagem de fazer às necessidades básicas. Sendo assim, Bili, seja bem-vindo. À minha casa é sua também.
Quase todos os dias tenho tentativas de escrever, e se eu fosse mais esperta, teria começado desde pequena. Talvez, hoje eu fosse uma escritora astuta. Mas só faço rabiscos, como esse, contando história de um hóspede em minha casa.
Tudo bem que à presença de um estranho é capaz de trazer uma ideia maluca, como essa. Não sou contraditória, mas um projetil de escritora de um livro de ficção e um romance ardente, que tem um protagonista de sorriso encantador, mas ao mesmo tempo é um idiota .Platônico?
Depois respondo. Acho que o meu hóspede late para chamar à minha atenção. Ele fez xixi no meu quarto. Será que ele quer marcar o território?
Abusado que só, não se deu conta que é apenas um passageiro, com dias contados nesse lar?
Escrever é sinônimo de trabalho literário, mas sinceramente, não me sinto incluída nas belezas da literatura, embora, eu carregue parte dela, como descreve à minha doce, Iracema, minha mater, que conta que desde muita pequena eu carregava a tiracolo uma sacola livros e papéis, lápis e canetas.
O que me faz escrever é aquele vazio que não pode ser preenchido, mas amenizado, quando à escrita se torna cursiva, colocando em contos, à inquietude latente.
Sentirei saudades do meu hóspede de cor caramelo, quando em breve, ele for embora.