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Evolução da comunicação e sua importância

Toda organização da sociedade humana depende da comunicação. As decisões humanas dependem de consciência e conhecimento. E o conhecimento depende intrinsecamente da comunicação.

15/12/2020

(Imagem: Arte Migalhas)

Quando nos referimos a meios de comunicação, não nos damos conta da extensão, da beleza e da complexidade dos fenômenos designados por essa expressão. O ser humano é o único animal que raciocina. Quase todos os animais sentem e pensam. Mas, os únicos animais que sabem contar são os seres humanos. E sabem encontrar a ratio ou razão entre os pensamentos quantitativos, ou seja, sabem raciocinar. Isso, por si só é uma maravilha da natureza, da biologia, ou, para os crentes, da Criação.

Mas, mais fenomenal ainda é o fato de que o pensamento e o raciocínio de um ser humano se possam comunicar com o pensamento e o raciocínio de outros seres humanos. Essa comunicação se dá através de determinados meios. São os meios de comunicação. Os animais também se comunicam. Mas, porque não raciocinam, têm meios de comunicação muito mais limitados.

Como o pensamento tem energia mas não tem massa perceptível, a comunicação se faz sempre através de símbolos. Cada ser humano transforma o seu pensamento em um símbolo visual, sonoro ou sinestésico e torna possível que outros seres humanos, captando esses sinais, reconstruam o mesmo pensamento daquele que emitiu os sinais. A experiência humana de milhões de anos foi padronizando os sinais e os significados, construindo o que chamamos de linguagem. São os sinais padronizados cada qual com seu próprio significado, e que se encadeiam comunicando correntes de pensamento.

Todos os animais se comunicam por gestos, atitudes e sons. Mas, os homens são capazes de criar palavras e utilizá-las como símbolos conscientes de determinados significados. Esses símbolos sonoros e gráficos, dependendo da condição fisiológica, da experiência biológica, social e geográfica dos diferentes agrupamentos humanos, tomam formas diferentes. Por isso, diferentes povos criam e usam linguagens diferentes, quer da língua falada, quer dos demais símbolos de seus usos e costumes.

Essa construção começou de forma muito rudimentar, há muitos milhões de anos. A comunicação verbal humana era, nos primórdios, formada por grunhidos. A comunicação sensorial ou sinestésica era rude. E a comunicação escrita começou por desenhos em paredes protegidas de intempéries, no interior de cavernas, que era onde muitos seres humanos habitavam.

No começo, a evolução da comunicação e da linguagem foi lenta. Como na física, o movimento que rompe a força inercial estática é lento, e mantida a energia que o move, adquire velocidade em progressão. Suponho que tenha sido assim com a espécie humana. Pensamento e raciocínio rudimentares geraram comunicações rudimentares, que por sua vez geraram pensamento e raciocínio menos rudimentares, capazes de produzir comunicação menos rudimentar, em um processo contínuo de auto sustentação. Que atingiu as extraordinárias formas de comunicação que hoje conhecemos, com a consciência de estarmos ainda em meio da jornada.

Nos primeiros milhões de anos, o desenvolvimento foi lento. Deveriam ser imensas as limitações dos pitecantropos. Mas, há lendas muito sofisticadas e complexas e muito antigas, que se transmitiam oralmente em diferentes culturas, testemunhando a existência de linguagem falada há muitos milhares de anos. Da linguagem escrita em forma de palavras a notícia mais antiga que se tem são os carácteres cuneiformes da civilização suméria, de aproximadamente 3.200 a.C., e, "logo" depois, os hieróglifos da civilização egípcia, de aproximadamente 3.000 a.C.. A lenda épica suméria de Gilgamesh, escrita supostamente 27 séculos antes de Cristo, se refere a fatos que teriam ocorrido muito antes. Conservou-se e se desenvolveu inicialmente pela tradição oral. Se pensarmos que a Ilíada tenha sido escrita por Homero 900 anos antes de Cristo, referindo-se à Guerra de Troia que teria ocorrido 1.200 anos antes de Cristo, teremos que supor a comunicação oral durante pelo menos 300 anos dos fatos nela narrados. Do mesmo Homero, a Odisseia conta a volta de Ulysses a Ítaca, terra natal, após a Guerra de Tróia, mas igualmente como narrativa escrita de aventuras que teriam sido vividas e oralmente reportadas muitos séculos antes de ser escrita. Somos, assim, levados a imaginar que a comunicação verbal complexa da humanidade é muito antiga, de milhares e milhares de anos.

Na comunicação escrita, entretanto, temos evidências da lentidão inicial do processo. Os desenhos rupestres mais antigos, de datação confiável, se situam na Caverna de Chauvet, na França, e datam de 32 mil anos atrás. Dessa época até os carácteres cuneiformes dos sumérios em 3.200 a.C. foi uma longa e lenta jornada. Daí até Gutemberg inventar os carácteres tipográficos da imprensa em 1.430, foram mais de quatro milênios. De Gutemberg até que se criassem a internet e os bits da comunicação informática em 1.969 foram apenas mais quinhentos e poucos anos. Portanto, a progressão humana no desenvolvimento dos meios de comunicação está mais para geométrica.

A comunicação, entretanto, continua fundamentalmente a mesma: sinais e símbolos gráficos ou sonoros que representam ideias.

Mas, a importância da comunicação também se vai acentuando em progressão geométrica, porque a comunicação é que permite ao ser humano viver em grandes agrupamentos, ou seja, permite a vida em sociedade. Toda organização da sociedade humana depende da comunicação. As decisões humanas dependem de consciência e conhecimento. E o conhecimento depende intrinsecamente da comunicação.

No início, e durante muito tempo, a comunicação esteve regida por regras de possibilidade fisiológica. Com a formação de sociedades mais complexas, a comunicação passou a ser avaliada, e produzir consequências, segundo os seus próprios conteúdos. Hoje, quando falamos dos meios de comunicação estamos nos referindo a direitos fundamentais do ser humano. Trata-se, na possibilidade de conviver e de se associar, do direito de se expressar, de informar e de ser informado. E, nesse processo, causar ou suportar consequências.

A comunicação, pela sua natureza complexa, está sujeita a falhas, que são muito frequentes. Nem sempre o sinal que se emite com um significado é captado no destino com o mesmo significado. No trajeto entre um cérebro e outro muitos significados afetivos se perdem. E na conversão dos sinais em ideias, por aqueles que os recebem, muitos significados se acrescentam por engano. Mesmo entre polos da mais absoluta boa-fé, as falhas de comunicação são responsáveis pela imensa maioria dos conflitos humanos. Os ídolos de Francis Bacon se qualificam segundo diferentes tipos de falhas, de pensamento e de comunicação. De outro lado, a realidade mostra que pessoas de má fé, para não falarmos de sociopatas, podem causar danos imensos através da comunicação.

Felizmente, e na mão inversa, a comunicação pode ser vista como larga estrada, por onde avança positivamente a civilização.

Hoje, quando se fala nos meios de comunicação, a referência implícita são os instrumentos de comunicação pública, como a imprensa falada e escrita, e a rede de internet. Quando se fala em empresa de comunicação, tratam-se de empresas que se especializam em transferir para o público em geral, ou para algum público específico, ideias de esclarecimento ou de reforços de imagens, de ideias ou de reputações. Mas, cabe falar, também e de forma mais ampla, em profissões de comunicação. As atividades publicitárias são um bom exemplo disso. Costumo dizer que a advocacia é essencialmente uma profissão de comunicação. A educação, a didática, talvez seja a mais fundamental das profissões de comunicação.

Qualquer que seja a utilidade ou a atividade que se pretenda fundar na comunicação, é possível identificar nela alguns valores constantes. A boa comunicação deve ter interesse. Só se torna possível se despertar o interesse de quem a recebe e for capaz de manter esse interesse. Para cultivar o interesse, é importante ter foco. Quando se mira no interesse de um determinado público, convém que se mantenha o foco no interesse desse público. Deve ter fluência, porque o fluxo de ideias de um cérebro para outro, ou outros, se deve fazer por trajetos simples e contínuos. Sem prejuízo da fluência, deve ter flexibilidade. Comporta variações entre diferentes humores, e terá mais probabilidade de êxito se tender para o bom humor. Mas, é essencial que haja harmonia entre conteúdo e forma, seja na leveza seja na gravidade, e sempre com atenção à expectativa do público a que se destina. E, sobretudo, deve ter credibilidade.

Na ordem política, na ordem jurídica e na ordem econômica, ou em qualquer modalidade de ordem social, a credibilidade da informação que se comunica é fundamental. Ou, dito de outra forma, a comunicação equivocada pode causar algum dano. E a comunicação fraudulenta, como são por exemplo as notícias intencionalmente falsas, ou fake news, certamente causam prejuízos de toda ordem. O primeiro prejudicado é o livre arbítrio, a liberdade. Ninguém toma decisões livres baseado em comunicação falsa.

Como a ideia, aqui, não é pretensiosa e não se trata de escrever um tratado sobre a comunicação, caminho para o encerramento registrando uma coincidência muito feliz. Refiro-me a estar publicando este texto no prestigiado e prestigioso rotativo Migalhas, exatamente quando este celebra a sua milésima quinta edição.

E, como há quem diga que coincidências não existem, registro e destaco o fato de que Migalhas confirma muito do que acima se disse sobre comunicação. O seu criador identificou um interesse do público a que se destina, e, com sua equipe, tem sabido mantê-lo. E se disciplina no foco ao interesse desse público. Desenvolveu uma comunicação fluente, que trata os temas graves com seriedade e os temas leves com humor, prestigiando fluidez e flexibilidade. E, acima de tudo, cultiva a credibilidade. Busca a verdade, se penitencia quando não a encontra, mas mantem com o leitor um pacto inquebrantável de lealdade.

Acho que Migalhas prova as minhas teses, e posso parar por aqui.

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*Este artigo foi redigido meramente para fins de informação e debate, não devendo ser considerado uma opinião legal para qualquer operação ou negócio específico. 
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Celso Cintra Mori
Advogado do escritório Pinheiro Neto Advogados.

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