Migalhas de Peso

Jurídico de Saias: a tribo das advogadas

Narrando experiências pessoais, a advogada discorre acerca da importância de se sentir pertencente a um grupo.

15/3/2013

Muito se fala a respeito do senso de pertencer a uma tribo, clã, comunidade, um grupo enfim de pessoas que compartilhem dos mesmos interesses, valores, estilo de vida e que se cuidem reciprocamente, que se entusiasmem com o sucesso do outro e que se solidarizem e ajudem nos momentos difíceis.

Estudos científicos e publicações comportamentais no mundo inteiro indicam que o senso de pertencer é responsável pelo aumento da felicidade, longevidade e pela diminuição de doenças. Dizem mais: esta seria uma necessidade humana ancestral.

E você que é mulher, advogada, brasileira, trabalha para uma empresa, mora numa grande cidade, tem centenas de responsabilidade e prazos para cumprir, passa horas no trânsito e equilibra — ou pelo menos tenta equilibrar — compromissos profissionais e pessoais, encontra tempo ou energia física e mental para pertencer a uma tribo?

Se você pertence ao Jurídico de Saias, sim.

A iniciativa de agrupar mulheres advogadas de empresas surgiu justamente de um grupo de mulheres advogadas corporativas, com uma agenda já absolutamente cheia. E nasceu da ideia de cooperação mútua, da visão de que as mulheres em condições profissionais semelhantes poderiam se unir numa rede de contatos e ajudar umas às outras. E ainda se divertir.

Em 2009, estas mulheres começaram a formar uma rede social virtual gratuita, totalmente baseada nos princípios de sigilo, cooperação, não competição e amizade. Atualmente, com o apoio da plataforma virtual do Migalhas, o grupo conta com 1000 mulheres, no Brasil inteiro, A Mulher na Advocacia Contemporânea que participam ativamente de discussões no blog, encontros e compartilham estórias e experiências.

Qual o segredo do sucesso? Se eu pudesse apontar apenas um, seria justamente o tal senso de pertencer. Somos seres iguais unidas por (e apesar do) nosso dia-a-dia muitas vezes exaustivo, nossa profissão nobre e desafiadora, a vontade de ajudar e de não nos sentirmos sós.

Existem ainda outros fatores que explicam porque esta iniciativa deu tão certo e gera tanto interesse. Um deles seria a solidariedade feminina. As mulheres são movidas, de maneira geral, por um sentimento de colaboração. Esta deve ser outra característica ancestral que felizmente não se perdeu no mundo enlouquecido como o que vivemos.

Outro elemento do sucesso do Jurídico de Saias é o fato dele não ser uma (mais uma!) obrigação. A participação é absolutamente voluntária, discricionária e sem custo. E, aliás, pode ser anônima. Anônima no sentido de que qualquer associada do Jurídico de Saias pode entrar no Hog, após assinar o termo de confidencialidade, e ler as publicações das demais "Saias", que é como nos chamamos dentro do grupo, e não contribuir se não quiser ou não puder.

E por ser um grupo fechado, ao contrário de outras redes sociais profissionais, como os grupos abertos do Linkedin, por exemplo, tenho a impressão de que as "Saias" não se sentem na obrigação — outra vez esta palavra - de “sair bem na foto”. Não me parece que alguém tenha pudores de publicar um pedido de ajuda com medo do que as outras irão pensar.

Como assim ela não sabe como se faz isto? Pois é, não sabe, e muitas não sabem. E as que sabem, ajudam. Ou não ajudam. A decisão é de cada uma. Não há julgamento. Outra característica de uma boa tribo, aliás.

A virtualidade ajuda demais. O fato de não precisarmos nos encontrar pessoalmente para as discussões e troca de experiências é o que faz do grupo tão acessível. Não tem tempo para participar do blog durante o dia? Participa à noite, de casa. Teve um intervalo no trabalho?

Participa. Foi almoçar sozinha? Não mais, pois pode desfrutar da companhia de outras semelhantes pelo smartphone.

As vantagens de participar deste grupo são numerosas: além da alegria de não se sentir solitária e, ao contrário, sertir-se acolhida, outra vantagem muito clara é a oportunidade de alcançar uma melhor posição profissional.

A melhoria da condição profissional acontece por várias razões. Uma delas é a possibilidade de compartilhar dúvidas profissionais e técnicas com um grupo de pessoas que, por ter vivido a mesma experiência, pode e está disposto a indicar as melhores opções. Isto economiza tempo. E dinheiro.

Outra é poder contar com um grupo de networking com conhecimento do nosso mercado de atuação: quanto se paga para advogados internos, se há uma oportunidade em alguma empresa, se um headhunter está à procura de algum determinado perfil, além das várias profissionais que podem indicar currículos para suas empresas ou para profissionais de recrutamento e seleção.

Finalmente, quando nos encontramos pessoalmente é sempre uma alegria. Seja em reuniões com a contribuição de pales hantes dos mais variados assuntos, como estilo, gestão financeira, nutrição, cardiologia ou temas jurídicos, seja em reuniões sociais, o clima jovial, à vontade e cheio de risadas dá o tom. Tanto que os relatos das "Saias" são sempre os mesmos: nossos encontros são terapêuticos.

Participar do Jurídico de Saias faz um grande bem para muitas mulheres e é, no mínimo, muito divertido. Este elemento lúdico, prazeroso, leve — tão importante - é muitas vezes esquecido quando se formam grupos e redes profissionais. E quem não quer ser feliz?

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*Christina Montenegro Bezerra é diretora Jurídica para a América Latina na empresa Edwards Lifesciences e membro do Jurídico de Saias.







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