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Fernanda Caingangue é a primeira indígena mestre em direito no país

Filha do terceiro maior povo indígena do Brasil, Fernanda Caingangue, como é mais conhecida, é um exemplo para os futuros estudantes que se preparam para ocupar as vagas suplementares da Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS. Depois de uma escolaridade precária dentro e fora de aldeias de diferentes regiões brasileiras, a jovem ingressou na Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul - Unijuí e concluiu o mestrado na UnB, tornando-se a primeira indígena pós-graduada do país.

21/1/2008


Exemplo

Fernanda, a primeira indígena mestre em direito no país

Filha do terceiro maior povo indígena do Brasil, Fernanda Caingangue, como é mais conhecida, é um exemplo para os futuros estudantes que se preparam para ocupar as vagas suplementares da Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS. Depois de uma escolaridade precária dentro e fora de aldeias de diferentes regiões brasileiras, a jovem nascida no Rio Grande do Sul ingressou na Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul - Unijuí e concluiu o mestrado na UnB, tornando-se a primeira indígena pós-graduada do país. A advogada conversou com o caderno Vestibular, do jornal Zero Hora, e criticou a política de cotas sem recursos para manter os estudantes na universidade.

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P- Onde você nasceu?

R- Em Tapejara, e minha terra indígena é o Carreteiro, onde meu avô foi cacique. Pela tradição, é lá que eu deverei ser enterrada quando morrer. Minha família está espalhada por muitas terras indígenas do Estado, mas uma grande parte, incluindo minha mãe, que é professora de caingangue aposentada, mora em uma terra indígena retomada há 10 anos que é Serrinha, no município de Ronda Alta.

P- Como foi a tua vida escolar?

R- Sempre recebi apoio de políticas de ações afirmativas. Estudei em escolas públicas e privadas de diferentes regiões, dentro e fora de reservas indígenas porque meus pais são funcionários da Funai. Há muita deficiência no ensino indígena.

P- E a faculdade?

R- Entrei com 17 anos no curso de Direito da Unijuí e saí com 21 anos. Não foi um caminho fácil. Passei fome e frio na faculdade. Só conclui porque uma ONG estrangeira me deu uma bolsa de 250 dólares. Não basta formar comissões nas universidades para dar apoio moral. Precisamos de políticas públicas com recursos e de condições de permanência.

P- O Conselho Estadual dos Povos Indígenas do Rio Grande do Sul não acredita que existam 10 índios no Estado que possam ocupar as vagas oferecidas pela UFRGS. Por que isso ocorre?

R-Os jovens estão com medo de sair de casa para estudar sem ter condições de se manter na faculdade. Só a vaga não resolve. Além disso, há o choque cultural, o diferente traz estranheza. É uma batalha, mas chegar à formatura é uma grande celebração.

P- Como você chegou ao mestrado?

R- Foi uma luta. Tive de ouvir até que não existe base legal para um índio receber uma bolsa. Ou seja, não se previu no Brasil que indígenas tivessem capacidade de cursar um nível superior e um pós-graduação. A universidade que abre suas portas ganha riqueza cultural com a diversidade. Depois de aprovada na prova da OAB, mudei para Brasília e ingressei na Universidade de Brasília (UnB), onde concluí o curso em 2006. Fui a primeira advogada caingangue do Sul e a primeira índia mestre do país. O fato de eu ser a única só significa que o Brasil está muito atrasado.

P-Como é hoje o seu cotidiano profissional?

R-Trabalho no Instituto Indígena Brasileiro para Propriedade Intelectual, uma ONG indígena que atua nas áreas ambientais e de proteção do patrimônio cultural. Trabalhamos no cenário nacional e internacional, principalmente no âmbito da Organizações das Nações Unidas. Educação é a única forma de reverter a situação de pobreza em que os povos indígenas se encontram.

P - Você ainda é fluente na língua caingangue?

R - Fernanda - Meu nome é Jófej e sou conhecida no movimento como Fernanda Caingangue. Mas confesso que a língua é difícil. Hoje o meu inglês está um pouco mais fluente.

Saiba mais

Os indígenas do Brasil, segundo dados do IBGE, são cerca de 700 mil pessoas, que integram 241 povos falantes de 180 línguas. Essa população tem índice de desenvolvimento humano muito reduzido e não totaliza 1% da população brasileira.

Os índios detêm direitos significativos sobre cerca de 12% do território nacional em áreas de significativa importância biológica e de recursos naturais, cujo valor econômico tem gerado assédio, conflitos fundiários e violações aos direitos socioculturais.

Muitos dos povos se encontram em condições de miserabilidade em centros urbanos em razão, entre outros fatores, da dificuldade de acesso à educação de qualidade.

No Rio Grande do Sul, a Unijuí, universidade mais próxima da Aldeia Guarita (maior população indígena do Estado), recebe o maior número de alunos no Ensino Superior. Atualmente, estudam na instituição cerca de 45 alunos indígenas. Outro destaque é a Universidade de Passo Fundo - UPF, próxima da Aldeia de Nonoai, onde estudam atualmente cerca de 10 alunos. O Centro Universitário Metodista IPA tem seis indígenas bolsistas.

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Fonte: Zero Hora
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