Opinião de peso
A invasão da PUC, Luiza Nagib Eluf
Confira abaixo a íntegra do artigo "A invasão da PUC", de Luiza Nagib Eluf, que é procuradora de Justiça do Ministério Público de São Paulo. Atualmente a autora do texto está afastada da carreira para exercer o cargo de subprefeita da Lapa. O texto foi publicado no jornal O Estado de S. Paulo de hoje.
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A invasão da PUC
Luiza Nagib Eluf*
A invasão foi um ato de selvageria, de truculência, de arbitrariedade, que só poderia ter sido concebido pela mente obscura e doentia dos opressores de plantão. Os soldados entraram batendo e gritando ofensas de todo calão, lançando bombas sabe-se lá de que efeitos, mas o fato é que muitas pessoas passaram mal, desmaiaram e pelo menos duas alunas da universidade foram gravemente queimadas.
É evidente que os estudantes estavam desarmados. É evidente, também, que a manifestação de insubordinação diante da proibição de se reunirem era perfeitamente justificada.
É próprio da juventude desafiar certas normas. É natural e saudável que assim o seja, ou o mundo continuaria sempre igual, não progredindo jamais. É papel da mocidade promover a renovação, e os estudantes da época queriam se livrar da ditadura tenebrosa que engessava o ensino, punia a participação política e queria limitar o saber.
A reunião estudantil da noite de 22 de setembro de 30 anos atrás tinha como objetivo recuperar os ideais de melhores condições de vida para a população, propondo a restauração das liberdades democráticas e a instauração do Estado de Direito. Nada mais legítimo.
No entanto, a ação policial de invadir uma escola por razões políticas (!), desrespeitando qualquer parâmetro de civilidade, não pode ser esquecida, para que não mais se repita.
Em matéria publicada neste jornal no último dia 22, o coronel Erasmo Dias, ao se defender, declarou que "tinha muita mulher lá e mulher não tem jeito para correr, tem perna presa" (confira íntegra do depoimento abaixo). Com essa frase o coronel demonstra, mais uma vez, sua visão distorcida sobre os fatos da vida. Primeiramente, porque evidencia um preconceito inadmissível contra a população feminina. Segundo, porque ele estranhou a presença de mulheres no local, fato corriqueiro nas universidades já naquela época - só ele desconhecia essa circunstância. Terceiro, porque mulher não tem "perna presa" coisa nenhuma e qualquer pessoa, mulher ou homem, que for atingida por bomba atirada pela polícia vai se queimar, correndo ou parada.
Passados tantos anos, a única conclusão sensata a que o coronel deveria ter chegado é que a operação foi um desastre. Sacrificou pessoas inocentes que estavam pacificamente reunidas, causando-lhes seqüelas indeléveis tanto físicas quanto psicológicas, e colaborou para enfraquecer a ditadura. É certo que o coronel Erasmo não foi o único responsável pela ação repressora. Foi do governador do Estado à época, Paulo Egydio Martins, que partiu a ordem.
E que não se minta sobre o comportamento dos estudantes. Eles não deram causa à brutalidade. Não tentaram agredir os policiais com atos ou palavras. Ao perceberem a entrada da tropa de choque no campus, os grupos estudantis não reagiram. Correram para dentro do prédio, subindo escadas e rampas, procurando abrigo nas salas de aula, até alcançarem o último andar, onde foram encurralados e presos. Não sem antes sofrerem espancamento indiscriminado com cassetetes e serem intoxicados com quantidades absurdas de gás lacrimogêneo. Posso descrever muito bem o que aconteceu porque eu lá estava, com meu irmão e minha irmã. Éramos, os três, alunos da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, e havia outros colegas conosco, que hoje são juízes, advogados, promotores de Justiça. Fomos todos levados a um estacionamento próximo, onde se fez uma triagem. Os alunos da PUC foram liberados e os da USP seguiram, de ônibus, para o quartel da Polícia Militar. Alguns professores também foram presos.
Meus pais ficaram em desespero, sem notícias dos filhos, durante toda a madrugada em que os estudantes, mesmo confinados, continuavam a ser submetidos a emanações de gás lacrimogêneo. Nunca fui omissa, nunca me senti diminuída por ser mulher. Ainda que consciente dos riscos que corria, achei que me arrependeria se não comparecesse àquele ato de repúdio à ditadura. Hoje me orgulho da decisão que tomei.
Além disso, lembro-me bem de que poucos de nós acreditavam que a polícia invadiria as dependências da universidade. Algum tempo antes, houvera um episódio semelhante na Faculdade do Largo de São Francisco. Os alunos reviveram a “tomada” das Arcadas em protesto contra a ditadura e a polícia acorreu ao local para reprimir o ato. Só que não conseguiu entrar. Quebraram os vidros e atiraram bombas de gás lacrimogêneo para dentro, mas o diretor Pinto Antunes não permitiu que arrombassem as portas do prédio. Na invasão da PUC, no entanto, a repressão não respeitou ninguém.
Depois do fato, o que resta dele é a sua versão. Da avaliação do ocorrido, ficou claro que os estudantes não sofreram essa violência em vão. A invasão da PUC abalou irremediavelmente os alicerces, já desgastados, do regime de opressão política. Os estudantes não foram ingênuos, foram heróis.
Que não se perca a dimensão histórica desse ato de bravura coletiva.
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*Procuradora de Justiça do Ministério Público de São Paulo, atualmente afastada da carreira para exercer o cargo de subprefeita da Lapa
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Leia mais (matéria publicada no jornal O Estado de S. Paulo do dia 22/9/07)
Seqüelas da invasão da PUC continuam
Há 30 anos, operação truculenta de 500 homens marcou regime militar
Fausto Macedo
Iria Visoná tinha 23 anos, fazia biologia na USP. Era do noturno 77. Graziela Eugenia Augusto também tinha 23 anos e fazia jornalismo na Cásper Líbero. Hoje, aos 53 anos, as duas trilham caminhos profissionais distintos - Iria é médica patologista, Graziela é servidora do Judiciário -, mas guardam em comum sinais que a repressão deixou em suas vidas. Marcas que nem a medicina nem o tempo deram jeito.
As duas sofreram queimaduras de terceiro grau, que as bombas da polícia provocaram. Iria foi atingida na perna esquerda, do joelho ao pé. O fogo atingiu Graziela no abdome, braço esquerdo e mãos.
Há 30 anos, na noite de 22 de setembro de 1977, 500 homens da tropa de choque e agentes do Dops - a polícia política - invadiram o campus da Pontifícia Universidade Católica (PUC) em São Paulo e prenderam 700 estudantes, arrastados a golpes de cassetete e pontapés.
Foi a mais truculenta ofensiva policial contra a autonomia da universidade durante todo o regime militar (1964-1985).
Soldados indômitos puseram abaixo salas de aula e gabinetes dos professores, coagidos a bordoadas, choques elétricos nas nádegas e impropérios. Destroçaram mobílias, entortaram máquinas de escrever, rasgaram livros, fichários e material didático, arrombaram portas, picharam nas paredes CCC - Comando de Caça aos Comunistas, grupo paramilitar de ultradireita. Explodiram bombas de gás e petardos que fizeram pelo menos 15 vítimas, 5 delas com queimaduras graves, de terceiro grau, como Iria e Graziela.
A operação bélica visava a impedir manifestação pela reorganização da União Nacional dos Estudantes (UNE), que havia sido declarada clandestina pelos generais desde que caiu a cúpula da entidade, no congresso de Ibiúna, em 1968. Um decreto do presidente Ernesto Geisel (1975-1979), subscrito pelo ministro Armando Falcão (Justiça), proibia concentração estudantil em qualquer lugar, nos campi inclusive.
A universidade assolada chocou o País do MDB, da Arena e do AI-5 e desencadeou uma onda de protestos. Mas ninguém foi punido.
O bairro de Perdizes, onde fica a PUC, amanhecera sitiado naquela quinta-feira, dia 22. O deslocamento dos pelotões se deu às 5 horas. Os militares permaneceram de prontidão nas cercanias, até a ordem do ataque, no início da noite. "Foi uma noite de fúria, noite de cão", define o professor e cientista político Paulo Edgar Almeida Resende, que era diretor da Faculdade de Ciências Sociais.
COTURNOS
Os soldados arrasaram a PUC. A marcha dos coturnos ecoou pelo edifício centenário, que ficou encoberto pela cortina de gás. Por onde passaram, ficou a destruição. Conduziram seus prisioneiros, rotulados de subversivos e agitadores, até um estacionamento em frente, na Rua Monte Alegre, esquina com a Bartira, que hoje abriga um residencial de 13 andares.
Espremidos, os estudantes sofreram constrangimentos. Sentados em chão de pedra, passaram por triagem. "A invasão foi premeditada", avalia padre João Edênio Valle, na época vice-reitor comunitário da Pontifícia. "O estacionamento virou campo de concentração."
O Dops estava no encalço de reincidentes, alunos que haviam participado de outras manifestações de rua. Já no início da madrugada, em fila indiana, eles foram levados em 15 ônibus da prefeitura para dois endereços da repressão: o grande quartel de paredes amarelas da Avenida Tiradentes, sede do 1º Batalhão de Choque, e o Dops. Quarenta e dois estudantes foram fichados, sob acusação formal de transgressão à Lei de Segurança Nacional.
O coronel do Exército Antônio Erasmo Dias, secretário da Segurança Pública, comandou a ocupação. Ele divulgou que na PUC foi recolhido "material de alto teor subversivo". Sua prova: faixas e panfletos que pregavam o ressurgimento da UNE.
Mais que chefe da polícia, Erasmo era o sentinela do regime militar. Marcou época como o durão, que combatia com o mesmo rigor a bandidagem e os opositores dos generais. Disciplina e lealdade à Pátria eram seu lema.
A escalada dos estudantes culminou com o Dia Nacional de Luta, em maio. Eles pediam “Constituinte soberana e livre” e “abaixo a ditadura”. Erasmo não transigia. Uma aglomeração na Sé ou no Largo São Francisco era suficiente para deixá-lo em alerta. Comandava a tropa de terno e gravata, a pistola calibre <_st13a_metricconverter productid="9 milímetros" w:st="on">9 milímetros presa à cintura e um megafone nas mãos.
Os estudantes não se dobravam. A cada blitz policial, se reorganizavam e voltavam com mais alento às ruas. Com destemor enfrentavam bombas e canhões d’água, entoando versos do Hino Nacional e de O Que Será, a canção de Chico Buarque que as rádios tocavam.
*O repórter Fausto Macedo cobriu a invasão da PUC, em 22 de setembro de 1977
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Feridas na ação, hoje ex-alunas se orgulham
Em reencontro, elas dizem que movimento ajudou na reabertura
Trinta anos depois, as duas antigas companheiras de luta se reencontraram. Iria Visoná e Graziela Eugenia Augusto se abraçaram e trocaram beijos. Durante uma hora e 15 minutos, recordaram a noite fatídica. Resgataram cenas das quais jamais conseguiram se desvencilhar. O relato das duas é pontuado de amargura, mas não de arrependimento, porque acreditam que os estudantes nas ruas foram decisivos para a abertura.
Aquela noite...
Iria: "Eu corri, me fizeram correr, você vai junto com a multidão. Lembro de ter sentido um ardor muito forte, mais forte ainda no joelho esquerdo. Caí em cima de uma bomba, de joelho. A parte da frente da minha calça de brim sumiu inteira! Fiquei jogando água no ferimento, não sabia que era queimadura. Tinha uma fumaceira forte. A polícia deu ordem para todo mundo sair de mãos dadas. Lembranças ruins. Falaram que pegou fogo porque a gente estava usando roupa de náilon por baixo. Mas a minha era algodão 100%. Quando me viram sangrando, me puseram no camburão com outros feridos. Fui para o Hospital das Clínicas. Os médicos rasparam a pele da minha coxa para fazer enxerto. Nunca mais usei saia. Valeu a pena lutar, participamos da história. Eu era militante, mas não era fanática. Tinha os fanáticos da classe."
Graziela: "A gente se reuniu em frente ao teatro (Tuca). Um orador lia a carta e a gente repetia. Aí chegaram os carros da polícia. Escutei um barulho muito forte, explosões de bombas, foi um tumulto. A polícia cercou o prédio. Todo mundo ficou espremido na rampa (ao lado do Tuca). Todo mundo queria fugir, bateu pânico. Caí numa escada, só vi um clarão e desmaiei. Quando abri os olhos, estava rolando no chão. Era bomba incendiária sim. Fiquei em estado de choque, na hora não sentia nada. Queriam me levar a pé, eu gritei que não podia. Havia outros feridos na ambulância. O gás sufocava. Não me lembro quantas cirurgias sofri, três, quatro, sei lá. Eu não me arrependo. A gente queria um Brasil sem repressão. Eu ia em todas as passeatas. Fiquei abalada, mas superei."
A Justiça levou 20 anos para impor ao governo a reparação a Iria, a Graziela e a outras estudantes. Iria recebeu cerca de R$ 50 mil. Graziela um pouco menos.
"Foi uma luta muito grande", relata Iria. "Meses depois encontrei uma militante, ficou uma situação meio estranha. Perdi praticamente o semestre. Essa história me magoa. No ano seguinte, teve um encontro dos estudantes e me trataram meio friamente. Acharam que eu tinha feito sensacionalismo."
A invasão foi alvo de Comissão Especial de Inquérito na Assembléia. Erasmo Dias foi incriminado por abuso de autoridade e crime de responsabilidade, mas a Procuradoria-Geral de Justiça mandou arquivar o caso.
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Depoimentos
"Havia um decreto do presidente da República que proibia terminantemente reunião da UNE em qualquer local, em qualquer Estado. O decreto era assinado também pelo ministro Armando Falcão (Justiça). Naquele dia, por volta de 10 horas da manhã, o Erasmo (Erasmo Dias, secretário de Segurança) me comunicou sobre uma reunião que parecia ser da UNE dentro da PUC. Pedi a ele que me mantivesse informado pelo rádio interno do governo. Em face do decreto eu tinha que tomar uma atitude. Às 11, Erasmo avisou que os estudantes haviam estendido uma faixa anunciando a reunião da UNE. Minha instrução foi clara e firme: ‘Vamos respeitar o campus da PUC.’ Decidi assim, embora houvesse a possibilidade de intervenção no Estado. Eu estava ciente disso. Por volta de 6 da tarde, os estudantes se retiraram da PUC e foram para o Tuca. Dei orientação: ‘O Tuca é da PUC, não intervenham.’ A tropa estava nas ruas desde cedo. Às 6 e meia, os estudantes deixaram o teatro e foram enfrentar a polícia na rua. Atiraram pedras. O Erasmo me ligou: ‘E agora, o que eu faço?’ Quem deu a ordem para intervir foi eu. Mandei impedir baderna de estudante na rua. Os policiais tiveram que jogar bombas de gás. Os estudantes invadiram e se refugiaram na PUC. Uma versão é que a reitora (Nadir Kfouri), segundo o Tuma (senador Romeu Tuma, à época diretor-geral do Dops), pediu à polícia que protegesse o patrimônio da PUC. A outra versão é que os estudantes correram para o campus e a polícia foi atrás. Eu infringi o decreto presidencial das 10 horas até o início da noite. A ação policial não foi ato do Erasmo. Essa responsabilidade eu assumo. Eu tinha que exercer a autoridade de governador. Desrespeitei o decreto federal até um determinado ponto que a minha consciência indicou. Não havia bomba incendiária. Era lacrimogêneo. Umas moças tentaram pegar e jogar de volta nos policiais. Acabaram se queimando. Eu não tinha e não tenho ânimo contra a universidade. Meses antes da operação, o cardeal Arns (Paulo Evaristo Arns, então arcebispo de São Paulo) me procurou e disse que a PUC atravessava gravíssima crise financeira. Autorizei ajuda substancial, em forma de doação. Não me arrependo de nada. Com decreto ou sem decreto, faria tudo de novo. Se fosse governador, novamente eu repetiria tudo, exatamente como fiz." Paulo Egydio Martins, 79 anos, então governador de São Paulo
"Uma violência da qual nunca me esquecerei. Uma truculência contra os meus alunos, saindo presos, queimados. Foi uma invasão estúpida. Há depredação que ninguém paga, que não têm reparação, a da liberdade, do direito." Nadir Gouvêa Kfouri, 93 anos, então reitora da PUC
"Eram centenas os soldados. Havia muita gente de fora da PUC no campus. Dezenas dos que assistiam ao ato se transformaram em policiais. Começaram a gritar e a bater. Eram infiltrados. Bombas de gás e de efeito moral estouravam. Pânico e correria. A ocupação foi premeditada. Eles sabiam quem queriam prender. No momento culminante da invasão, o estacionamento ficou lotado de ‘prisioneiros de guerra’, agachados e em silêncio, como os vietcongues capturados pelos americanos no Vietnã. Ouvi de um policial que quatro ou cinco meninas estavam muito feridas. Fui até lá, na lateral do Tuca. Jaziam no chão, queimadas. O cheiro era ruim, uma estava desmaiada." Padre João Edênio, 71 anos, era vice-reitor comunitário da PUC
"Os invasores pareciam drogados, descontrolados, olhos vidrados. Jogaram os arquivos para o ar, entortaram máquinas de escrever. Os mais excitados eram jovens em trajes civis. Eles gritavam, xingavam, nos chamavam de comunistas. Uma brutalidade medieval. Apanhei porque contestei. Quando agrediam os alunos, eu intervim: ‘Mas os alunos não estão reagindo, não batam.’ Me cobriram de tapas na cara e bastonadas no braço que ficou adormecido. Moças queimadas! Até as folhas dos coqueiros lá no alto ficaram esturricadas. Disseram que haviam usado gás napalm, que os americanos lançaram no Vietnã. Selvageria, noite de cão." Professor Paulo Edgar Resende, 74 anos, na época diretor da Faculdade de Ciências Sociais
"Bomba incendiária? Pelos meus netos e filhos eu afirmo que não tinha. Era bomba de gás. Aquilo só faz chorar. Havia uns 500 ou 600 estudantes, massa de manobra dos pernósticos e maquiavélicos leninistas e marxistas. O local era acanhado. Tinha muita mulher e mulher não tem jeito para correr, tem perna presa. Queriam reabrir a UNE em ato público, uma desobediência à norma vigente, desacato ao princípio da autoridade. Era ilegal, eu não podia permitir. Não se pode afrontar o poder constituído. Eu era responsável pela ordem pública. O material que achamos na PUC era de alto teor subversivo. Eles rodavam panfletos vermelhosinhos, coisa de Libelu (Liberdade e Luta). Não sei quem jogou a primeira bomba, foi aquela desgraça. Sabe como começa, não sabe como termina. Só tinha mulher. Queimaram porque usavam calcinha e sutiã de náilon. Uma sentou em cima da bomba de lacrimogêneo. Sentar numa caixa de fósforos também queima. Não cometi crime, nem excessos. A operação seguiu os métodos recomendáveis. Agi no estrito cumprimento do dever." Coronel Antônio Erasmo Dias, 83 anos, secretário da Segurança Pública de São Paulo, comandante da ação militar na PUC
"Lá embaixo, as bombas estouravam. A invasão se deu pelo prédio velho, pela frente e pelas ruas laterais. Os alunos iam saindo de mãos dadas, humilhados. Ação do arbítrio, fascista. Exposição pública da prepotência para espezinhar." Professor Hermínio Alberto Marques Porto, 81 anos, então diretor da Faculdade de Direito da PUC
"Pretendiam comprometer a universidade na pessoa da sua reitora e do vice-reitor como provocadores de ação subversiva. Ao invés de apurarem abusos, violências e lesões, o que se pretendia era estabelecer a responsabilidade da reitoria por crime contra a segurança nacional. Queriam travestir as vítimas em réus. Predominava toda uma mentalidade repressora." Miguel Reale Júnior, advogado da reitoria da PUC na época
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Fonte: O Estado de S. Paulo
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