Advogada. Foi este o título desejado desde menina por Carmencita Balestra, uma mulher de 70 anos que conquistou, na última segunda-feira, 26, sua carteira da OAB.
Nascida em Inhaumas, cidade do interior de Goiás, Carmencita viu no pai, que era juiz, uma importante referência. "Cresci com esse senso de indignação ao que não é justo.”
Embora tenha imaginado seguir a carreira jurídica desde muito nova, a vida a encaminhou para outros rumos profissionais.
Dedicando-se à área da Educação Física, criou os filhos. Em 2018, aposentou-se e percebeu, ali, uma oportunidade de retomar os estudos.
Aos 64 anos, matriculou-se na universidade. Hoje, aos 70, tem em mãos sua tão sonhada carteira de advogada.
"Do primeiro dia de aula ao último – que lamentei que terminou –, fiquei apaixonada [pelo Direito]. Sou apaixonada, e sei que agora estou no caminho que sempre quis estar."
Apesar do etarismo que conta ter sofrido, inclusive por parte de professores, esses não foram obstáculos para a realização de seu sonho.
"A gente tem que começar a lidar primeiro você própria com seu processo de envelhecimento, para depois o outro. O outro não vai me atingir. Eu me posicionava, às vezes tranquila, às vezes agressiva. Mas sempre ciente de que ali era meu lugar, tanto quanto de uma pessoa de 18 anos."
Assista à entrevista:
Desde os anos 90, Carmencita milita pelos direitos dos idosos no Conselho do Idoso do Estado de Goiás. Hoje, preside o Conselho de Direitos da Pessoa Idosa de sua cidade – um município pequeno, mas com problemas imensos, explica.
Agora, advogada, ela sente que pode ajudar ainda mais essas pessoas, sendo a profissão uma extensão natural de sua luta de décadas.
“Não se esqueçam que as pessoas mais velhas ainda têm muito a oferecer. O que a gente deixa é a nossa experiência. Para que quando você se tornar mais velho, você possa falar: 'eu me espelhei nele'. E eu me espelhei no meu pai."