Ex-sem-teto atua hoje como advogado de homem que o tirou das ruas
Ainda quando garoto, Sérgio Chaves foi tirado das ruas por ajuda de Nonato. Hoje, tornou-se seu advogado.
Da Redação
quinta-feira, 4 de janeiro de 2024
Atualizado às 10:14
Sérgio Chaves tinha 12 ou 13 anos e morava nas ruas quando conheceu Raimundo Nascimento, o "Nonato". O garoto foi de Teresina, no Piauí, para Fortaleza, Ceará, tentar a vida. Vigiava carros em um estacionamento de supermercado quando Nonato lhe perguntou onde morava.
"Ele ficou preocupado comigo, perguntou de onde eu era. Eu era uma criança, malvestido, com roupas sujas, rasgadas. Expliquei que não tinha onde morar, que estava morando nas ruas. E ele me ofereceu um emprego, me deu oportunidade de trabalho."
Naquele momento, a vida de Sérgio Chaves tomaria outros rumos. Nonato era borracheiro, e atuava em um Lava Jato arrendado, onde também morava. Ele ofereceu ao menino um emprego, e um lar.
Em entrevista ao Migalhas, Sérgio conta que foi assim que Nonato tornou-se sua família. Graças a esta oportunidade, Sérgio Chaves conheceu outras pessoas, ganhou novas oportunidades de emprego, pôde estudar, e tornou-se advogado.
"Fui morar com ele no Lava Jato. Morávamos eu, ele, a esposa, e os três filhos, todos mais novos do que eu. A partir dessa oportunidade surgiram todas as outras. Ele não me deu só um trabalho. Me deu um teto, me deu uma oportunidade de ter uma nova vida, de ter uma perspectiva de vida. Olhavam para mim, mas não me enxergavam. Ele me enxergou."
Recentemente, Nonato envolveu-se em um acidente de trânsito e precisou de defesa. O advogado não pestanejou diante do chamado, e viajou para Juazeiro do Norte, a quase 500 quilômetros de Fortaleza, para atender o amigo.
O resultado do processo foi um acordo de não persecução penal, com reparação de danos a ser paga a uma instituição beneficente. Com a atuação de Chaves, Nonato continua réu primário, e sabe que pode contar com o advogado sempre que tiver alguma questão legal.
Quanto aos honorários, Chaves afirma, gratificado: "ele pagou muito tempo atrás".
"Nonato pagou os honorários há muito tempo, quando me tirou das ruas, quando me deu uma oportunidade de trabalho, quando me deu um prato de comida, quando deu uma nova família. Ele já estava pagando, e nem sabia que um dia eu poderia me tornar advogado e defendê-lo. A gratidão que tenho por Nonato dinheiro nenhum poderá pagar."
Sérgio afirma que Nonato tem um advogado para a vida toda que, com certeza, não lhe custará um centavo.
Advogado
Em 2022, contamos a história do advogado Sérgio Chaves. Depois de muita dedicação, ele havia sido aprovado na OAB e receberia sua carteira profissional.
À época, ele contou que saiu de casa aos onze anos, e, algum tempo tempo, foi acolhido por uma família, situação que o permitiu se reerguer.
Aos 30 anos, ele fez um exame para certificação de competência que lhe dava a conclusão do ensino médio e, em 2018, ingressou na faculdade de Direito.
No 9º semestre do curso, "de primeira", a OAB veio. Sem cursinho, mas com muito estudo. À época, ele fazia estágio no escritório onde, antes, entregava marmitas, atuando como motoboy.
Hoje, Sérgio Chaves atua como advogado em diversas áreas e cursa pós-graduação em Direito Penal e Processo Penal.