A obra "Leitura e cárcere - (entre) linhas e grades, o leitor preso e a remição de pena" (Appris Editora 380 p.) escrita por Rossaly Beatriz Chioquetta, aborda mínimas condições de leitura no cárcere e os desafios para o Brasil avançar na remição de pena por meio da leitura.
O livro reflete sobre o papel da leitura para os indivíduos encarcerados. A leitura é apenas uma moeda de troca usada pelos presos para reduzir a pena, ou pode despertar neles reflexões profundas e sentimentos de identificação? Em um ambiente hostil, onde corpos são depositados e neutralizados sob condições inimagináveis, é possível que a leitura desencadeie uma experiência de fruição? O preso leitor consegue se enxergar nos personagens das obras e, assim, escapar de sua dura realidade atrás das grades?
O direito de ler é um direito de um sujeito sem direitos? Será que os direitos podem suprir as faltas criadas pelo próprio Estado? O direito à leitura nas prisões pode remediar essas carências? Ao refletir sobre possíveis soluções para essa realidade, é fundamental tirá-la da invisibilidade. Considerando o poder transformador da literatura, a autora de Leitura e Cárcere nos convida a explorar essas e outras questões: o funcionamento dos sistemas de segurança e justiça, as condições do sistema penitenciário, as finalidades e justificativas das penas, a desigualdade social, o que a Lei prescreve e o que de fato se observa na realidade.
Enquanto o discurso da Lei assegura direitos que garantem a humanidade, o discurso da prisão agrava, no corpo e na alma dos sentenciados, o sofrimento e a punição. Este texto impactante nos convida a adentrar os muros da prisão e a tornar mais claro o debate sobre a leitura como dispositivo de remissão de pena, sob as regras da Lei no Brasil.
Por meio de entrevistas realizadas com apenados do Presídio Regional de Xanxerê, em Santa Catarina, Leitura e Cárcere analisa as falas desses presos, investigando a tensão entre o dito e o não dito, e as marcas explícitas ou implícitas em suas palavras: negações, pré-construídos, interpelações do inconsciente. Nas enunciações desses sujeitos encarcerados, há súplicas por olhares e escutas. Como expressou um dos entrevistados: “Tem leitura que me fez entender que a gente ainda tem uma vida pela frente.”
Sobre a autora:
Rossaly Beatriz Chioquetta Lorenset é Doutora em Linguística pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Mestra em Estudos Línguisticos pela Universidade Federal Fronteira Sul (UFFS). Especialista em Aspectos Peridiológicos da Língua Portuguesa pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) e especialista em Língua e Texto: Análise e Produção pela Universidade do Oeste de Santa Catarina (Unoesc).
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Ganhador da obra:
Fernando Bertolino Garcia, de Londrina/PR