Com o objetivo de ampliar o debate entre a advocacia, o agronegócio e a tecnologia financeira, o FAS Advogados - Focaccia, Amaral e Lamonica Advogados promoveu, na capital paulista, no início de agosto, o evento 'Agrofintech: por dentro do negócio', em parceria com o banco DLL, especialista global em soluções de leasing, negócios e crédito. O encontro teve como tônica os avanços tecnológicos como facilitadores nos processos de financiamento para o produtor rural.
Foram apresentados três painéis temáticos sobre o estágio atual do mercado de crédito para o agronegócio, as oportunidades da tokenização de ativos, como commodities agrícolas, e uma análise sobre as insurtechs e o setor de seguros e resseguros para o agro. O advogado Vicente Picolli M. Braga, sócio do FAS e idealizador do seminário, destacou a importância da reunião para unir as pontas de cada setor a fim de “fortalecer o ecossistema agrofintech e aproximar a realidade do produtor que precisa de crédito para insumos e equipamentos, por exemplo, e das instituições que podem oferecer soluções financeiras cada vez mais tecnológicas e sob medida para cada caso”, explicou. “A iniciativa do FAS comprova que o Brasil é protagonista não só no agro, mas também nos modelos de financiamento, que no caso da indústria de agribusiness, envolve muito mais complexidade que em outros setores”, completa.
O primeiro painel contou com a participação de Valeria Bonadio, co-fundadora e CCO na AgroLend, Gabriel Motomura, sócio no BTG Pactual, Bruno Lund CEO e CIO na Ecoagro e Paulo Rocha, diretor de crédito e cobrança do DLL e moderação de Braga. O quadro apresentou uma visão mais detalhada dos desafios da tecnologia no agro, como o investimento em soluções de monitoramento de colheita, mapeamento e desenvolvimento de plataformas com uso de imagens de satélite e drones para maior assertividade na coleta de dados e otimização de tempo e processos, bem como a criação de um fundo de investimentos com insumos biológicos, sementes e fertilizantes e a aplicabilidade das tecnologias disponíveis até mesmo para questões de sustentabilidade.
No segundo painel, a moderação ficou a cargo de Aor Suriz, membro do conselho legal do DLL, e os painelistas convidados foram Anderson Nacaxe, country manager da Agrotoken, Braz Peres Neto, sócio e conselheiro do Agroapp e Mateus Carrijo, sócio e chief marketing officer da Nagro. Temas como o uso da Cédula de Produto Rural (CPR) e a relação entre as condições climáticas e a produção foram alguns dos destaques dentro do conjunto de oportunidades da tokenização de commodities agrícolas. Também foi apresentado o caso da plataforma de compliance desenvolvida pela Nagro que verifica riscos colaterais em apenas três minutos e visa agilizar a tomada de decisão e disponibilizar o crédito para o produtor em até 24 horas. Segundo Carrijo, “a plataforma já avaliou cerca de 120 bilhões em crédito rural, com quase 600 pessoas físicas investindo no Agro por meio da compra do token”, esclareceu.
Com moderação de Felipe Bastos, sócio de seguros e resseguros do FAS, o terceiro painel foi apresentado por Gabriel Lemos, head de seguros agrícolas no BTG Pactual, Roberto Ferreira, diretor técnico da DLL Corretora de Seguros e Majory Imai, chief executive officer na Cyan Agroanalytics. No centro da discussão, as insurtechs e a necessidade de potencializar o processo de negociação com o produtor, com uso de ferramentas tecnológicas de acompanhamento da jornada do cliente, inclusive em cenários de perdas inesperadas na colheita. Na ocasião, foi apresentada a solução desenvolvida pela Cyan Agroanalytics para monitoramento de eventos climáticos que podem prejudicar o pagamento dos produtores. O debate trouxe à luz também a urgência no desenvolvimento de políticas públicas de investimento e acessibilidade do agro no setor de seguros.
Na avaliação dos organizadores, o evento consolida o diálogo na prestação dos serviços jurídicos, tanto para o agronegócio como para o setor financeiro. “Cada área tem sua própria cultura. Embora a mistura de tecnologia e advocacia com esses dois setores possa até parecer pouco usual, no final das contas, estamos falando de empreendedorismo, algo que vai além das tecnologias. As oportunidades são tantas que é preciso, acima de tudo, criar um ambiente de negócios seguro, com menos fricção e mais transparência para as partes”, explica Vicente Braga.