Ideias inovadoras, progressistas, e a propagação de fake news podem ter colaborado para a negativa, por parte da população chilena, sobre a proposta de nova Constituição. Assim avalia a professora Janaina Alexandra Capistrano da Costa, doutora em Ciências Sociais e especialista em história latino-americana.
Em 2020, os chilenos decidiram que a Constituição em vigor no país, herdada da ditadura de Augusto Pinochet, deveria ser substituída. Mas, no plebiscito realizado no último domingo, 4, o novo texto apresentado foi rechaçado com 61,86% dos votos.
Em entrevista ao Migalhas, a especialista explica que a atual conjuntura do país é complexa; que há um descontentamento da população, que vem desde os tempos de ditadura, e destaca quais pontos são considerados polêmicos na proposta colocada em votação, e que podem ter colaborado para a negativa ao novo texto, sobretudo porque o povo chileno tem um histórico ligado à cultura cristã.
Entre eles ela, destacam-se ideias progressistas, como o plurinacionalismo, que daria voz a povos originários; e o direito ao corpo e à sexualidade, que abriria uma brecha para a questão da interrupção da gravidez.
Na avaliação da professora, pode ter havido, ainda, influência das fake news, com sobrecarga de informações sobre estes pontos polêmicos.
Entenda:
Janaina Costa explica que há uma série de fatores relacionados aos atuais acontecimentos no país – como a baixíssima aprovação do atual governo, os altos índices de violência, a rejeição à migração estrangeira, e a inflação pela qual passa a economia Chilena. Para ela, vislumbra-se um "mal-estar" do povo chileno, não contra este governo, mas em uma trajetória que vem desde a ditadura.
Mudança necessária
Na opinião da professora, o país sabe muito bem o que não quer, mas tem dificuldade de entender o que busca. Em sua opinião, seria mais positiva a aprovação da Carta, para que depois fosse reformada, do que a manutenção da atual Constituição.