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D. Pedro II sofreu atentado às vésperas da Proclamação da República

Nesta quinta-feira, a vice-presidente da Argentina sofreu tentativa de assassinato. Em 1889, o imperador D. Pedro II também foi vítima de um atentado, mas jornais da época afirmam que não teve cunho político.

2/9/2022

Na noite desta quinta-feira, 1º, a vice-presidente da Argentina Cristina Kirchner sofreu uma tentativa de assassinato. Ela cumprimentava apoiadores quando um brasileiro, identificado por Fernando André Sabag Montiel, tentou atirar contra seu rosto. Carregada com cinco balas, a arma não disparou e o acusado foi preso no local. 

Manifestantes têm protestado contra a vice-presidente desde que o promotor pediu uma pena de prisão contra ela por conta de uma acusação de fraude quando foi presidente, de 2007 a 2015.

Um pouco de história

O Brasil já teve um episódio semelhante contra o chefe do Poder. Isso foi em 15 de julho de 1889. Na porta do Teatro Sant'Anna, D. Pedro II estava na companhia de D. Teresa Cristina quando um indivíduo de nome Adriano Augusto do Valle, de nacionalidade portuguesa, fez um disparo de revólver contra a carruagem imperial.

Acusado de atirar contra D. Pedro II.(Imagem: O Paiz)

Jornais apontam que, pouco antes do atentado, embriagado, Adriano teria afirmado ter coragem de dar “Vivas a República” diante do imperador. No Hotel Provenceaux, pediu que o caixeiro Antônio Gonçalves guardasse os dois revólveres que possuía. Durante o interrogatório, confessou seu crime e declarou: "Se houvesse atirado contra qualquer pessoa, teria desonrado a minha família, mas como foi sobre o Imperador, considero-me honrado."

O atentado aconteceu na frente do restaurante Maison Moderne, localizado na própria Praça da Constituição. Segundo notícias da época, o tiro não causou estragos e o atentado não teria tido viés político.

D. Pedro II sofreu atentado em 1889.(Imagem: Jornal Cidade do Rio)

"Não podemos atribuir senão à inconsciência de quem o praticou: ou loucura ou embriagues, pois por honra do partido republicano, não acreditamos que tal ato dele partisse", diz o jornal Gazeta da Tarde.

No mesmo sentido tratou a Gazeta de Notícias: "O que se passou na madrugada de ontem não tem, a nosso ver, nenhuma significação política."

O Jornal do Commercio afirmou que o tiro disparado sobre o carro foi um ato de "insânia" e "criminoso", "mas cuja responsabilidade não pode caber a um partido político".

O periódico, no entanto, chama atenção para o clima político no país:

"Esta exaltação, quase delírio, que nos causa apreensão, vai se manifestando em várias classes da nossa sociedade com assustadora frequência e crescente intensidade. Já há algum tempo aludimos a este violento sopro de revolta que abala o pais e vai do seio da família até a praça pública."

O Imperador

Rui Barbosa escreveu sobre o ocorrido. O conselheiro relatou que foi uma surpresa e que, para acreditar que se tratou de um atentado político, seria preciso "não conhecer o sentimento nacional em relação à pessoa de Sua Majestade".

"Não há partidos, nem grupos, nem indivíduos, que pudessem, sequer, conceber, quanto mais levar a efeito, neste país, maldade semelhante contra o chefe do Estado, a quem a sua posição, a benevolência de seu Ânimo e a sua idade asseguram, de toda parte, reverência profunda e universal."

Segundo Rui Barbosa, não se poderia explicar "essa perversidade covarde e estúpida, senão por anomalia mental, que cumpre à ciência estudar e julgar".

Julgamento

Em 15 de novembro de 1889, foi proclamada a República. Uma semana depois, no dia 23, ocorreu o julgamento de Adriano do Valle. A defesa alegou que Adriano não havia atirado contra a carruagem imperial, já que nem os cocheiros nem os membros do piquete haviam ouvido disparos, e que não havia marca de tiros na carruagem.

A defesa alegou ainda que Adriano ingeriu absinto, que possui alta graduação alcóloca, e que seria esse um dos motivos de ter tomado uma atitude irracional. Resultado: Adriano do Valle foi absolvido e colocado em liberdade.

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