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Independência do Brasil foi muito mais burocrática do que heroica

Em uma tarde de sábado, no dia 7 de setembro de 1822, às margens do rio Ipiranga, em São Paulo, D. Pedro gritou a famosa frase “Independência ou Morte!”, rompendo os laços entre Brasil e Portugal.

6/9/2022

Em uma tarde de sábado, no dia 7 de setembro de 1822, às margens do rio Ipiranga, em São Paulo, D. Pedro gritou a famosa frase “Independência ou Morte!”, rompendo os laços entre Brasil e Portugal. Esta é a versão romântica da história, aquela que aprendemos nos livros escolares. A Independência do Brasil, entretanto, foi muito mais burocrática do que heroica. A seguir o migalheiro entenderá o porquê.

(Imagem: Arte Migalhas)

Independência do Brasil
Como se deu

Até se tornar independente, o Brasil percorreu um longo e tumultuado processo, cujo início se deu em 1808, com a vinda da Família Real para o país. Foi neste período que começou um rápido processo de desenvolvimento por aqui. Mas, como nem tudo são flores, o governo de D. João VI não agradava a todos. Aborrecidas, algumas províncias brasileiras viam-se abandonadas e acreditavam que as melhorias só beneficiavam a capital.

Os descontentamentos evoluíram e tornaram-se revolta em alguns lugares, como é o caso de Pernambuco. O movimento, entretanto, acabou reprimido por D. João VI.

Enquanto esses conflitos aconteciam no Brasil, Portugal também passava por maus-bocados e estava à beira do caos, enfrentando uma grave crise econômica, política e descontentamento popular. À época, o país lusitano era comandado pelos ingleses.

Foi o cenário de crise relatado acima que fez os portugueses aderirem ao movimento revolucionário, na cidade do Porto, em 24 de agosto de 1820. A meta era expulsar os ingleses, recolonizar o Brasil, promover a volta da Família Real para Portugal e elaborar uma Constituição.

Para tentar conter o caos, em 7 de março de 1821, D. João VI decide sair do Brasil e deixa seu filho de 23 anos e herdeiro do trono, D. Pedro, por aqui, tornando-o príncipe regente do país. A saída oficial da Família Real se deu em 26 de abril de 1821.

Com a permanência de D. Pedro, as Cortes de Lisboa começaram a impor diversas medidas com o objetivo de diminuir o poder do regente e pôr fim à autonomia do Brasil.

Negando-se a abandonar o território brasileiro, acontece o famoso Dia do Fico, que foi mais um passo para a independência do país. Eis a célebre frase de D. Pedro: "Como é para o bem de todos e felicidade geral da Nação, estou pronto. Diga ao povo que fico".

Os conflitos terminaram? Obviamente que não. Alguns partidários dos portugueses não apoiavam o governo de D. Pedro e mais uma vez a crise se instalou. Com a demissão dos lusitanos, o príncipe regente formou um novo ministério, liderado por José Bonifácio.

José Bonifácio
(1763-1838)

Brasileiro, nascido na cidade de Santos, ainda criança foi enviado para Portugal, tendo permanecido na Europa por 36 anos, formando-se na Universidade de Coimbra. Ao lado de Leopoldina, exerceu um papel decisivo no processo da emancipação política do Brasil, razão pela qual é considerado "o patriarca da Independência".

Paralelamente, na Bahia, também ocorriam conflitos entre tropas portuguesas e brasileiras. 

Já do outro lado do oceano, lá em Portugal, as Cortes adotaram novas medidas contra o Brasil, dentre elas: declararam ilegítima a Assembleia Constituinte reunida no Brasil; declararam ilegal o governo do príncipe regente; e determinaram seu retorno imediato para Lisboa.

As imposições da metrópole tornaram o movimento separatista ainda mais vivo.

Com o objetivo de angariar apoio local e pacificar o governo da província, D. Pedro viajou a São Paulo e a princesa Leopoldina, sua esposa, assumiu a regência durante a ausência do marido.


Leopoldina
(1797—1826)

Pertencente a uma das famílias reais mais importantes da Europa, Leopoldina teve uma esmerada educação e, aos 20 anos, casou-se com o futuro imperador D. Pedro I, com quem teve 7 filhos, entre os quais o futuro imperador Pedro II.

Eis que no dia 7 de setembro de 1822, antes de voltar ao Rio de Janeiro, D. Pedro descobriu que Portugal havia desautorizado todas as suas ações, transformando-o em um simples governador, e decidiu romper os laços com a metrópole, dando o famoso grito às margens do Ipiranga.

Em 20 de setembro, 13 dias após a proclamação da Independência, foi publicado no jornal "O Espelho" menção ao grito. "Independência ou Morte! Eis o grito accorde de todos os brasileiros."

Verde e amarelo

Após 11 dias, em 18 de setembro, D. Pedro I editou decreto criando o emblema brasileiro. No texto, o Imperador confirma as cores que deveriam compor o "Laço Nacional": verde e amarelo. Segundo a história, D. Pedro I escolhera o verde por ser esta a cor da Casa de Bragança; e a amarela, a Casa Habsburgo, uma homenagem a Maria Leopoldina.

Dizia o decreto:

"Convindo dar a este Reino do Brasil um novo tope nacional, como já lhe dei um escudo de armas: hei por bem (...) ordenar o seguinte: o laço ou tope nacional brasiliense será composto das cores emblemáticas – verde de primavera e amarelo d’ouro – na forma do modelo anexo a este meu decreto. A flor verde no braço esquerdo, dentro de um ângulo d’ouro, ficará sendo a divisa voluntária dos patriotas do Brasil que jurarem o desempenho da divisa – Independência ou Morte – lavrada no dito ângulo."

Lema

Foi em 24 de setembro de 1822 que D. Pedro I publicou decreto aos que ainda teriam "cego fanatismo" pelas antigas opiniões e que espalhassem "rumores nocivos à União e tranquilidade de todos os bons brasileiros".

O curioso decreto afirmava que "todo aquele que não quiser abraçar" o lema "Independência ou morte", deveria sair do lugar em que residisse dentro de 30 dias, e do Brasil dentro de quatro meses. Ainda, se atacasse o sistema e a "sagrada cauda do Brasil", seria "processado sumariamente".

Pouco tempo depois, em 12 de outubro, foi aclamado como o primeiro imperador do Brasil, com o título de D. Pedro I. A coroação ocorreu em 1º de dezembro do mesmo ano.

A grande questão é que, para ser reconhecido como país independente, o Brasil precisava do reconhecimento oficial das outras nações, que só veio, finalmente, em 1825.

(Imagem: Arte Migalhas)

Fontes: CâmaraBiblioteca Nacional


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