Migalhas Quentes

Juiz adverte policiais sobre uso indiscriminado de algemas

Magistrado percebeu que, sem justificativa, são utilizadas algemas mesmo em presos que não apresentam ameaça, causando constrangimento.

17/5/2022

O uso indiscriminado de algemas levou o juiz de Direito Aluízio Pereira dos Santos, da comarca de Campo Grande/MS, a advertir, em ata de audiência, profissionais encarregados da escolta de presos encaminhados à audiência de custódia.

O magistrado percebeu, em atuação em plantões judiciais, que, sem qualquer justificativa, são algemados mesmo os presos provisórios que não apresentam ameaça, não têm antecedentes, cometeram crimes sem violência, e que não oferecem risco à segurança dos operadores do Direito nem da escolta, "servindo as algemas em muitas vezes para aumentar ainda mais o constrangimento público do autuado".

Em entrevista à TV Migalhas, ele explicou o problema:

"Achei por bem, antes de tomar medidas mais severas, punitivas, contra os policiais, fazer uma advertência a eles. 'Olha, vejam bem. Reflitam. Não é esse o caminho.' (...) O ofício foi mais para fazer uma reflexão no sentido de voltar a se conduzir de acordo com a lei. Agora, continuando dessa forma, obviamente tem que se fazer a lei cumprir."

A advertência foi escrita em ata de audiência de uma estudante universitária presa por dirigir embriagada, após ser pega no bafômetro. O magistrado destacou que ela não tem antecedentes, e que ao delito cabe acordo de não persecução penal. "Ou seja, em tese, nem vai virar processo".

Pelo documento escrito pelo juiz, ficou consignado que a chefia responsável pela escolta deve verificar e refletir sobre a desnecessidade de exposição dos autuados com uso de algemas em casos como o da estudante.

O magistrado citou a súmula 11 do STF, segundo a qual só é lícito o uso de algemas em casos de resistência e de fundado receio de fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia.

Só é lícito o uso de algemas em casos de resistência e de fundado receio de fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia, por parte do preso ou de terceiros, justificada a excepcionalidade por escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade e de nulidade da prisão ou do ato processual a que se refere, sem prejuízo da responsabilidade civil do Estado.

Há, ainda, previsão expressa do decreto 8.858/16, que regulamenta a lei de execução penal, no mesmo sentido da súmula: excepcionando os casos em que o item pode ser utilizado.

O magistrado determinou o encaminhamento da ata aos magistrados que realizam audiências de custódia, à Agepen/MS – Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário, à Polícia Federal e à Polícia Civil.

Veja mais no portal
cadastre-se, comente, saiba mais

Leia mais

Migalhas de Peso

Audiência de custódia, uso de algemas e relaxamento da prisão

19/10/2018
Migalhas Quentes

STF determina providências sobre uso de algemas em Cabral

14/8/2018
Migalhas de Peso

Uso excessivo de algemas

28/1/2018
Migalhas de Peso

Algemas: uso e abuso

23/9/2015

Notícias Mais Lidas

Herdeiros que ocupam imóvel exclusivamente devem pagar aluguel

16/7/2024

Funcionária chamada de “marmita do chefe" por colegas será indenizada

16/7/2024

Pão de forma e bafômetro: quando o café da manhã vira problema jurídico

18/7/2024

Advogado pede dispensa de uso da beca no TJ/BA por mau cheiro

17/7/2024

Juiz autoriza penhora de 30% de salário para quitar dívida com banco

17/7/2024

Artigos Mais Lidos

Você sabe o que significam as estrelas nos vistos dos EUA?

16/7/2024

Advogado, pensando em vender créditos judiciais? Confira essas dicas para fazer da maneira correta!

16/7/2024

Desconsideração de atos ou negócios jurídicos praticados com a finalidade de dissimilar a ocorrência do fato gerador a qualquer tempo, conforme entendimento do CARF

16/7/2024

A lei 14.365 e o papel do sócio gestor nas sociedades de advogados

17/7/2024

Será a reforma tributária simplificadora?

16/7/2024