Migalhas Quentes

TRT-12 autoriza uso de geolocalização do celular como meio de prova

Corte entendeu que pedido de banco não viola intimidade de empregada e pode preceder outros meios de prova.

27/3/2022

A Justiça do Trabalho de Santa Catarina validou pedido feito por banco para usar como prova o registro da localização do aparelho celular de uma empregada, como evidência em uma ação judicial. Por maioria de votos, a Seção Especializada 2 do TRT da 12ª região entende que o pedido não viola a intimidade da trabalhadora, o que torna o uso possível, antes de qualquer outra prova.

(Imagem: freepik)

O processo tramita desde 2020 na 2ª vara do Trabalho de Joinville e trata, dentre outros pedidos, do pagamento de horas extras. Em novembro do ano passado, durante uma audiência, o banco solicitou ao juízo que os dados de geolocalização do telefone móvel da bancária fossem requisitados à operadora de telefonia, servindo como prova de que o registro das folhas de ponto da empresa estaria correto.

A juíza do Trabalho Tatiane Sampaio autorizou parcialmente o pedido à operadora e determinou que a pesquisa fosse feita por amostragem, indicando a localização do celular apenas em dias úteis e em 20% do período contratual. “A prova digital é mais pertinente e eficaz do que a prova testemunhal”, fundamentou a juíza, afirmando que os parâmetros da pesquisa evitariam a violação à privacidade da trabalhadora. 

Sigilo

No julgamento do mandado de segurança junto ao TRT da 12ª região, três dos dez desembargadores que compõem a Seção Especializada 2 entenderam que a pesquisa somente poderia ser autorizada pela Justiça no caso de não haver outros meios de prova, como documentos e depoimentos de testemunhas.

A desembargadora Lígia Maria Teixeira Gouveia considerou a autorização “precoce”, ressaltando que as partes e testemunhas envolvidas no processo ainda não foram ouvidas. A magistrada defendeu que a produção desse tipo de prova exige a demonstração, pela empresa, de que os fatos não poderiam ser revelados de outra forma.  

Não se trata de meio de prova que se possa considerar ordinário, justamente porque atinge a esfera da vida privada das pessoas”, defendeu a magistrada. “O tratamento de dados pessoais sensíveis deve ser precedido de cautelas maiores, uma vez que eventual publicização pode trazer consequências mais gravosas aos direitos e liberdades de seus titulares”, argumentou a desembargadora. 

Direito das partes

A maioria do colegiado, contudo, seguiu o voto do desembargador-relator Gracio Petrone, que já havia negado a liminar requerida pela autora, mantendo a decisão de 1º grau. O magistrado ponderou que a legislação não estabelece hierarquia entre os tipos de prova e afirmou que o pedido de prova digital reforça a busca efetiva da verdade real, favorecendo a rápida duração do processo.

Se o novo meio probatório, digital, fornece dados mais consistentes e confiáveis do que a prova testemunhal, não há porque sua produção ser relegada a um segundo momento processual, devendo, de outro modo, preceder à prova oral”, argumentou o relator, afirmando que vê o pedido como “exercício de direito” das partes. 

A pesquisa apenas aponta a localização do dispositivo telefônico, não incluindo conversas ou imagens de qualquer uma das partes ou de terceiros”, destacou. 

Ainda segundo Petrone, a medida não representa ofensa à garantia Constitucional de inviolabilidade das comunicações ou à Lei Geral de Proteção de Dados pessoais (lei 13.709/18), favorecendo a segurança da prestação jurisdicional.

Conferido aos dados coletados o adequado sigilo, reservada sua análise às partes envolvidas, com vista à confirmação dos fatos afirmados pela própria autora, não se tratará de prova obtida por meio ilícito, nem tampouco se estará desprezando os direitos à privacidade”, concluiu o relator.

Terminado o prazo para recurso, o processo voltará a tramitar na 2ª vara do trabalho Joinville para julgamento de mérito. 

Informações: TRT-12

Veja mais no portal
cadastre-se, comente, saiba mais

Leia mais

Migalhas Quentes

Justiça do Trabalho aperfeiçoa uso de provas digitais

30/4/2021
Migalhas Quentes

STF desobriga operadoras de informarem localização de celulares em RO

15/2/2021
Migalhas Quentes

Fornecimento de dados de usuários de telefonia celular não depende de autorização judicial

24/5/2016
Migalhas de Peso

O GPS e a perseguição virtual

10/9/2013

Notícias Mais Lidas

“Que merda de diferença faz?”, diz juíza a advogada em audiência

29/8/2024

Elon Musk responde intimação do STF e critica Moraes: "quebrou leis"

29/8/2024

Advogado de 25 anos é morto a tiros em Taubaté, interior de SP

29/8/2024

A mando de Moraes, STF intima Elon Musk em post no "X"

28/8/2024

Memes: Internet reage à intimação de Moraes a Elon Musk no "X"

29/8/2024

Artigos Mais Lidos

Consensualismo e Dispute Boards: O que a experiência recente da ANTT pode sinalizar de tendência para o futuro?

29/8/2024

A reforma tributária e a extinção do PIS/Cofins - Quais os pontos de atenção até 2026?

29/8/2024

Por que o seguro de vida não é a melhor opção para a sucessão: Análise comparativa com a holding familiar

30/8/2024

Condomínio urbano simples – Adequação social – Essencial direito fundamental de moradia contemporânea – A luz da legalidade

30/8/2024

Estrutura de formação dos cálculos trabalhistas

29/8/2024