Migalhas Quentes

Nova lei de licitações dificulta propina em negócios com Poder Público

Fabiano Petean e Alexandre Pegoraro tratam do uso da tecnologia para redução de comportamentos inadequados.

15/8/2021

O avanço da tecnologia de compliance permite identificar instrumentos destinados à correção de falhas de contratos público-privados, que possam ser classificados como atos de corrupção.

Quem aborda o tema é o professor e pesquisador do Centro de Políticas de Integridade da Universidade Mackenzie, Fabiano Augusto Petean.

(Imagem: Freepik)

Ele exemplifica comportamentos inadequados que a nova lei de licitações tenta evitar, ao exigir que as empresas interessadas em contratos com o serviço público criem os chamados programas de integridade: por exemplo, uma negociação de grande vulto feita por pessoas sem a devida qualificação em um restaurante, a ausência de conferência de preços e de relacionamento com responsabilidades de participantes no processo licitatório ou a ineficácia de uma auditoria interna ou externa.

Para ele, estipular um sistema de controle de comportamentos é fundamental para se evitar o superfaturamento, os desvios de bens, as combinações de propina indireta e demais formas criminosas do caráter competitivo da licitação e dos desvios financeiros atrelados ao relacionamento do privado com o setor público.

O professor ainda explica que o art. 25, §4.º, da nova lei das licitações, que dispõe: "nas contratações de obras, serviços e fornecimentos de grande vulto, o edital deverá prever a obrigatoriedade de implantação de programa de integridade pelo licitante vencedor, no prazo de 6 meses, contado da celebração do contrato", estipulou uma ferramenta que pode ser bem aplicada para o afastamento dos comportamentos ilícitos corruptos.

Neste sentido, segundo ele, para que uma empresa possa estar contratando com o Poder Público ela deverá ter um sistema de controle e de punição de comportamentos ilícitos de seus integrantes, inclusive de seus diretores, presidentes e rentistas.

"A lei anterior somente previa crimes praticados no procedimento licitatório. Os programas de integridade vieram de forma mais efetiva no ordenamento jurídico com a lei anticorrupção e, agora, como requisito a ser cumprido para maior lisura dos processos licitatórios disciplinados pela nova lei."

Tecnologia

Alexandre Pegoraro, CEO da Kronoos, chama a atenção para o papel que a tecnologia pode desempenhar juntamente com os programas de integridade para reduzir significativamente os comportamentos inadequados que a CPI da Covid tem revelado. A startup é uma legaltech que opera por meio de uma plataforma de compliance que realiza pesquisas em mais de 2.500 fontes para conferir a idoneidade de pessoas e empresas.

“Descobrir depois de fechar um contrato que determinada empresa já trouxe problemas ao contratante pela falta de entrega do produto ou que o endereço mencionado no contrato como sede da companhia na verdade abriga outro tipo de organização são erros que a tecnologia já permite evitar em questão de segundos”, afirma.

Pegoraro explica que, por meio de tecnologias de ponta para mineração de dados e crawling e utilizando apenas CPF ou CNPJ, empresas conseguem informar se determinada pessoa ou empresa, seus sócios ou familiares estão envolvidos em fraudes, corrupção, lavagem de dinheiro, terrorismo, crimes ambientais, envolvimento com emprego de mão de obra escrava e infantil, apontando ainda, se a pessoa é politicamente exposta ou não, permitindo o monitoramento/pushing contínuo dos pesquisados.

A verificação também inclui fontes de pesquisa como Receita Federal, Tribunais de Justiça, Diários Oficiais, listas restritivas, birôs de crédito, google, dados cadastrais, sites da ONU, OFAC, Interpol etc. Essas startups organizam as informações obtidas em forma de dados totalmente estruturados e otimizam ao máximo o tempo de análise das informações coletadas.

"O avanço regulatório associado à evolução tecnológica permite oferecer a cada dia uma condição maior de alcançar as melhores práticas nos negócios entre a iniciativa privada e o poder público. Mas não basta ter as ferramentas. É preciso usar", conclui Pegoraro. 

___________

Veja mais no portal
cadastre-se, comente, saiba mais

Leia mais

Migalhas Quentes

Nova lei de licitações é questionada no STF

24/6/2021
Migalhas Quentes

Bolsonaro sanciona nova lei de licitações e contratos administrativos

2/4/2021
Migalhas de Peso

Nova lei e novas práticas para as licitações

29/3/2021

Notícias Mais Lidas

Veja áreas que mais remuneram advogados segundo pesquisa da OAB/SP

15/8/2024

Advogado é agredido por PMs; Justiça manda devolver fiança

15/8/2024

Pais terão IR penhorado por publicação de filhos ligando Moraes ao PCC

15/8/2024

CNJ implementa modelo-padrão de ementas para decisões judiciais

14/8/2024

Justiça determina interdição de santuário dedicado a Lúcifer no RS

14/8/2024

Artigos Mais Lidos

A doação em vida não resolve o problema: O aumento do ITCMD na reforma tributária

15/8/2024

ITCMD: Postergar planejamento sucessório pode sair caro por causa da reforma tributária

15/8/2024

Quando o advogado deve dizer “não”?

15/8/2024

Por que as buscas e apreensões extrajudiciais ainda não saíram do papel?

14/8/2024

Invalidade da cláusula non cedendo em face da Lei das Duplicatas

16/8/2024