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“É possível”, diz Maria Cristina Peduzzi sobre a emancipação feminina

Única presidente atual de um Tribunal Superior diz que é possível as mulheres terem cargos de liderança, apesar de serem minoria no Judiciário.

8/3/2021

Uma pesquisa recentemente divulgada por Migalhas mostrou que as mulheres ainda são minoria em todo o Poder Judiciário. Sobre o tema, em entrevista exclusiva, Maria Cristina Peduzzi, ministra do TST e atualmente a única mulher na presidência de um Tribunal Superior, falou dos desafios de ocupar um cargo de liderança.

(Imagem: Arte/Migalhas)

Empoderamento feminino

A ministra disse que exercer a presidência do TST e do Conselho Superior da Justiça do Trabalho tem um significado simbólico e eloquente. Peduzzi lembrou ainda seu cargo passa uma mensagem à sociedade acerca do empoderamento feminino, e não apenas no judiciário trabalhista, refletindo na realidade da presença da mulher em postos de liderança.

“Essa contingência oferece uma mensagem emancipatória a todas mulheres, as jovens, as meninas brasileiras que é possível ter um acesso profissional se houver dedicação, se houver esforço, é possível.”

Sexo frágil

S. Exa. destacou três desafios de ser uma mulher em posição de liderança. A ministra explicou que é preciso corresponder ao cargo, pois tudo que é feito por um homem não ganha necessariamente um adjetivo de masculino, e quando se trata da mulher, este artigo feminino, a mulher, vem sempre como uma cobrança.

“Todas as vezes que as mulheres desempenham uma função, esse substantivo do seu cargo é adjetivado como uma característica feminina. E nós somos mais de 50% da população. Imagino que quando este percentual estiver refletido no exercício de cargos de liderança, talvez não seja tão revelador o uso do adjetivo.”

Como outra dificuldade, a presidente do TST apontou que, numa posição de liderança, a carga de estereótipo que é projetada nas expectativas de como a mulher vai corresponder, ainda é um reflexo de a mulher ser vista como sexo frágil.

“A história tem considerado sistematicamente que esses estereótipos estão longe de corresponder a realidade e o gênero feminino é capaz de oferecer, em absoluta igualdade de condições, a correspondência que se espera na ocupação de um cargo de liderança.”

A ministra afirmou também que um terceiro desafio é que sempre existe uma cobrança sobre a mulher, a qual tem sobrecarga de trabalho, num contexto em que as atribuições domésticas não são divididas igualmente.

“Eu sempre digo que se alguém um dia tiver a fórmula de dizer que a mulher é 100% profissional, é 100% dona de casa, uma esposa exemplar, uma mãe exemplar, me dê a receita, porque não existe. Não tem que haver cobranças, seria vencer um desafio se libertar das cobranças e seguir as suas expectativas e a sua trajetória sem culpa.”

Inspiração

Sobre o cargo de presidente, a ministra destacou que tem muita importância pessoal, pois ele coroa sua carreira como magistrada. Ressaltou, também, que se concretiza como uma oportunidade de poder exercer de forma direta uma política de gestão de toda Justiça do Trabalho, em busca de conseguir uma maior eficiência e segurança jurídica da prestação jurisdicional.

“A presidência do TST representa também e essencialmente o exercício da responsabilidade de inspirar mulheres e meninas a que ocupem essas posições nas suas diversidades profissionais, e exerçam, sempre que pretenderem, cargos de liderança, sem qualquer temor de discriminação ou preconceito.”

Habilidades e talentos

Por fim, deixou-nos uma importante mensagem a todas as mulheres que sonham em ter liberdade na busca de sua emancipação pessoal e profissional.

“Eu diria as mulheres que elas sempre usem da melhor forma possível as suas habilidades e os seus talentos para concretizar as suas expectativas profissionais. Isso se traduz em muito estudo, muito trabalho e muita dedicação. Sem dúvidas não é fácil para as mulheres, porque elas ainda precisam trabalhar mais que os homens para obter o mesmo reconhecimento.”

 

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