Se no ano passado Paulo Guedes celebrou a vitória da reforma da Previdência, em 2020 a coisa vai de mal a pior para o "Posto Ipiranga". Primeiro, a coleção de frases infelizes; agora, a tentativa de emplacar goela abaixo a agenda liberal em meio aos caos da pandemia.
Há tempos a aposta dos jornais é de que o superministro está com os dias contados no governo Bolsonaro.
Ainda na última semana, com o sepultamento do natimorto Renda Brasil, houve um alerta: “um cartão vermelho” do presidente.
Enquanto o ministro da Economia tenta se equilibrar no governo – sem deixar de queimar quem for preciso, inclusive seu homem de confiança, o secretário especial Waldery Rodrigues –, Bolsonaro tenta a tática já bem sucedida com Sergio Moro: fritar em fogo brando.
Guedes 1885
No tempo de Machado de Assis já houve um Guedes. Vejamos, ipsis litteris, como o escritor, em crônica datada de 19 de julho de 1885, apresenta-nos o Guedes daquele tempo. Para contextualizar, montamos o texto em formato de uma entrevista. Qualquer semelhança é mera coincidência:
Migalhas - Você tem conhecimento do que fez ontem Bolsonaro com o ministro da Economia?
Machado de Assis - "Conheço um homem que, além de acudir ao doce nome de Guedes, acaba de receber um profundo golpe moral."
Migalhas - Estamos a falar da mesma pessoa?
Machado de Assis - "Há trinta anos, ou quase, que o Guedes espreita um trimestre de popularidade, um bimestre, um mestre que fosse, para falar a própria linguagem dele. Ultimamente, lá se contentava com uma semana, um dia, e até uma hora, uma só hora de popularidade, de andar falado por salas e esquinas."
Migalhas - E o que fez o coitado do Guedes em busca da popularidade?
Machado de Assis - "Não se imagina o que este diabo tem feito para ser popular."
Migalhas - E como ele resolve esse problema?
Machado de Assis - "Se realmente quer popularidade, abra mão de planos complicados."
Migalhas - E qual seria a fórmula?
Machado de Assis - "A gente não tem remédio senão recorrer à única cultura em que não há concorrência de boa vontade, que é plantar batatas."
Contexto
O Guedes que menciona Machado de Assis (mandando-o plantar batatas), era um nome genérico para se referir aos patrões do comércio do Rio de Janeiro, os quais eram contra o fechamento dos estabelecimentos aos domingos e dias santos.
A lei determinando que as portas fossem baixadas nesses dias, aprovada pela Câmara Municipal, era de autoria do vereador Visconde de Santa Cruz. Em artigo sem assinatura no dia anterior à mencionada crônica, no Diário de Notícias, informa-se que a "classe caixeiral" (dos caixeiros) congratula-se com a Casa de Leis pelo seu procedimento justiceiro e humanitário.
(Leia a íntegra do texto clicando aqui ou na imagem abaixo)
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