A PF desmentiu todas as acusações de Antonio Palocci sobre um suposto caixa milionário de propinas para o ex-presidente Lula.
O tal caixa seria administrado por André Esteves, do BTG - Palocci havia dito que, a partir de fevereiro de 2011, o empresário "teria passado a ser o responsável por movimentar e ocultar os valores recebidos" pelo ex-presidente "a título de corrupção e caixa dois, em contas bancárias abertas e mantidas no BTG Pactual S/A, em nome de terceiros".
O delegado Marcelo Daher encerrou o inquérito sem indiciar os acusados e afirmando que as informações dadas por Palocci em sua delação "parecem todas terem sido encontradas em pesquisas de internet", sem "acréscimo de elementos de corroboração, a não ser notícias de jornais".
“As notícias jornalísticas, embora suficientes para iniciar o inquérito policial, parece que não foram corroboradas pelas provas produzidas, no sentido de dar continuidade à persecução penal."
O resultado da investigação foi encaminhado ao MPF.
Delação natimorta
Antes de tudo, vale lembrar que o acordo de Antonio Palocci foi firmado com a Polícia Federal, em março de 2018, e não com os procuradores da força-tarefa da Lava Jato; a delação foi homologada pelo TRF da 4ª região.
Há tempos Migalhas alertou para o conteúdo furado da "delação de Palocci": "É um emaranhado de informações já divulgadas a mancheias por vários meios. Muitas das coisas já comprovadas por outras provas, e outras tantas provadas falsas. De maneira que os procuradores fizeram bem em não aceitar ouvir esse condenado. A PF é que consentiu em ouvi-lo" (Migalhas nº 4453, de 2/10/18).
Os vazamentos da Lava Jato, com a divugalção das mensagens obtidas pelo site The Intercept Brasil, mostram que o juiz Sergio Moro tinha dúvidas: "Russo comentou que embora seja difícil provar ele é o único que quebrou a omerta petista", disse o procurador Paulo Roberto Galvão a seus colegas num grupo do Telegram em 25 de setembro, tratando Moro pelo apelido que eles usavam e associando os petistas à Omertà, o código de honra dos mafiosos italianos.
"Não só é difícil provar, como é impossível extrair algo da delação dele", afirmou a procuradora Laura Tessler. Já Antônio Carlos Welter ressaltou no gupo que "o melhor é que [Palocci] fala até daquilo que ele acha que pode ser que talvez seja".
Mas a despeito da desconfiança, às vésperas das eleições presidenciais de 2018, Moro retirou o sigilo de parte do acordo de delação de Palocci – coincidentemente, a parte divulgada foi a que trata do PT na Petrobras.
Quase dois anos depois, a 2ª turma do STF determinou o desentranhamento da colaboração premiada de Antônio Palocci de ação na qual o ex-presidente Lula é acusado de receber suposta vantagem indevida da Odebrecht. Ministros Lewandowski e Gilmar Mendes reconheceram a “quebra de imparcialidade” da juntada da delação aos autos, feita de ofício pelo então juiz Moro.
Agora, a PF confirma aquilo que, há anos, já se sabia: das acusações de Antonio Palocci, nada se salva, a não ser (por enquanto) ele próprio do cárcere, com a burra milionária.