Migalhas Quentes

IAB manifesta preocupação com o pacote anticrime

Proposta do ministro Sérgio Moro foi debatida em audiência promovida pela OAB/RJ.

21/2/2019

O secretário-geral do IAB - Instituto dos Advogados Brasileiros, Carlos Eduardo Machado, e o presidente da comissão de Direito Penal do instituto, Marcio Barandier, manifestaram preocupação com as mudanças legislativas previstas no pacote anticrime, encaminhado ao Congresso Nacional pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro. O pacote foi debatido em audiência pública promovida pela OAB/RJ na última terça-feira, 19.

“O IAB se preocupa, especialmente, com a possível consequência negativa que poderá resultar da alteração na legislação, com vistas à presunção de legítima defesa para agentes de segurança em hipotéticas situações de conflito armado”, alertou o criminalista Carlos Eduardo Machado, diante da plateia que lotou o plenário Evandro Lins e Silva. Segundo o advogado, “o incentivo à política repressiva, ao estilo bangue-bangue, poderá gerar inúmeras vítimas de balas perdidas”.

A comissão de Direito Penal do IAB está produzindo um parecer sobre o pacote anticrime, dividido em três projetos de lei e lançado com o objetivo de combater com mais rigor a corrupção, o crime organizado e os crimes praticados com grave violência. As modificações ocorrerão nos códigos Penal, de Processo Penal e Eleitoral; e ainda: nas leis de execução penal, de crimes hediondos, de drogas, de organização criminosa, de armas, de improbidade, de interceptação telefônica, de lavagem de dinheiro e sobre transferência e inclusão de presos em estabelecimentos Federais de segurança máxima.

“O pacote anticrime é movido pela fé em resultados no âmbito do Direito Penal que, historicamente, não se comprovam quando as medidas adotadas são marcadas pelo populismo punitivo”, afirmou Barandier. Para o presidente da comissão, “as mudanças na legislação podem provocar um resultado inverso ao anunciado e intensificar a violência e a criminalidade, pois as alterações visam a reduzir direitos e a aumentar as penas de prisão, o que ampliará a população carcerária brasileira, que já é a terceira maior do mundo”.

Ainda segundo ele, “o aumento do número de presos fortalecerá as facções criminosas dentro dos presídios, onde, aliás, elas surgiram e cresceram, cooptando presos desprovidos de seus direitos”.

Absurdo jurídico

Barandier criticou a proposta de alteração relativa à legítima defesa por parte de agentes públicos. “É um absurdo jurídico, que tende a institucionalizar a violência policial, ao incentivar ações desencadeadas com abusos e excessos.”

O advogado falou também sobre a proposta de incluir na legislação ordinária a previsão de execução provisória da pena de prisão a partir da confirmação da sentença em segunda instância.

“É uma proposta tipicamente populista, já que a questão está sendo discutida no STF em relação ao seu caráter constitucional; ou seja, se a Corte Suprema decidir pela constitucionalidade, se tornará dispensável a sua previsão na legislação ordinária, assim como, se a decisão for pela inconstitucionalidade, não surtirá efeito algum a mudança na legislação, que se tornará inócua.”

O criminalista também fez críticas à proposta de monitoramento em áudio e vídeo das audiências dos advogados com clientes encarcerados. “É uma tentativa absurda de cercear a atuação dos advogados, que desrespeita a prerrogativa da confidencialidade de suas conversas com os presos, prevista no Estatuto da Advocacia”, disse.

Barandier falou ainda sobre a adoção do instituto aplicado nos EUA e conhecido como plea bargain. “A chamada solução negociada é uma importação desastrosa do direito norte-americano, que, inclusive, está sob autocrítica naquele país”, informou. De acordo com o advogado, a solução negociada não pode ser conduzida com o acusado estando preso, pois, em sua opinião, “se daria sob sigilo, sem exame de provas, sem defesa e sem fiscalização da sociedade”.

A audiência pública, aberta pelo presidente da OAB/RJ, Luciano Bandeira, foi uma realização conjunta das comissões de Segurança Pública, de Direitos Humanos e Assistência Judiciária, e Direito Processual Penal da seccional. Também se manifestaram a respeito das alterações contidas no pacote anticrime a promotora de Justiça Patrícia Glioche, o defensor público Rodrigo Roig Duque Estrada e o criminalista Davi Tangerino.

__________

Veja mais no portal
cadastre-se, comente, saiba mais

Leia mais

Migalhas Quentes

Bolsonaro assina pacote anticrime de Moro; textos devem chegar ao Congresso ainda nesta terça

19/2/2019
Migalhas Quentes

IAB examina pacote anticrime e repudia declaração de Moro

8/2/2019
Migalhas Quentes

Moro diz que impunidade alimenta ciclo do crime e processos judiciais não bastam

7/2/2019
Migalhas Quentes

Proposta de lei anticrime peca por ser tímida demais, diz ex-procurador da Lava Jato

7/2/2019
Migalhas Quentes

Moro altera proposta de lei anticrime

7/2/2019
Migalhas Quentes

Ajufe manifesta apoio ao pacote anticrime, mas propõe melhorias no “plea bargain”

7/2/2019
Migalhas Quentes

OAB/SP convoca audiência pública para debater proposta de lei anticrime de Moro

6/2/2019
Migalhas Quentes

“Overcharging à brasileira”: Advogada critica proposta de Moro sobre acordo entre MP e criminoso

6/2/2019
Migalhas Quentes

OAB cria grupo de trabalho para analisar proposta de lei anticrime de Moro

5/2/2019
Migalhas Quentes

Proposta de lei anticrime de Moro altera 14 leis; leia a íntegra

5/2/2019
Migalhas Quentes

Propostas de Moro podem agravar superpopulação prisional, alerta criminalista

5/2/2019
Migalhas Quentes

Moro apresenta projeto de lei anticrime a governadores

4/2/2019
Migalhas Quentes

Pacote de Moro contra crime organizado prevê confisco de bens e prisão em 2ª instância

25/1/2019
Migalhas Quentes

Moro defende adiar reforma da lei de Execução Penal para governo Bolsonaro

5/12/2018

Notícias Mais Lidas

PEC que limita supersalários de servidores é aprovada pelo Congresso

20/12/2024

Carro com ministro do TST e família cai de ponte e capota em Goiás

22/12/2024

TRF-1: Técnico previdenciário pode ter OAB se impedido contra Fazenda

20/12/2024

Gilmar Mendes reconhece competência do STF para julgar Eduardo Cunha

20/12/2024

STJ julga regras sobre intimação pessoal em multa por descumprimento

21/12/2024

Artigos Mais Lidos

Decisão importante do TST sobre a responsabilidade de sócios em S.A. de capital fechado

20/12/2024

Planejamento sucessório e holding patrimonial: Cláusulas restritivas societárias

20/12/2024

As perspectivas para o agronegócio brasileiro em 2025

20/12/2024

A sua empresa monitora todos os gatilhos e lança as informações dos processos trabalhistas no eSocial?

20/12/2024

O futuro dos contratos: A tecnologia blockchain e o potencial dos smart contracts no Brasil

20/12/2024