O som era uníssono e empolgante: "Chegou a nossa vez, voto aos 16!" era o que saía da boca de milhares de jovens em 1988. O pedido era direto e simples, assim como a fala de protesto: os adolescentes de 16 e 17 anos queriam escolher diretamente quem ocuparia os cargos de presidente da República, governador, prefeito, senador, deputado Federal e estadual e vereador.
Foi então que a Assembleia Nacional Constituinte, em 2 de março daquele ano, aprovou a emenda do deputado Hermes Zanetti. Com 355 votos a favor, 98 contrários e 38 abstenções, a escolha dos representantes do país era, finalmente, facultada aos maiores de 16 e menores de 18 anos. Junto com essa conquista, veio também a obrigatoriedade do alistamento eleitoral e do voto para os maiores de 18 anos, e a escolha facultativa dos representantes para os analfabetos e maiores de 70 anos.
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O movimento estudantil foi encabeçado por entidades como a UBES - União Brasileira de Estudantes Secundaristas e a UNE - União Nacional dos Estudantes. Mas a mobilização para a participação na eleição do ano seguinte não foi bem vista aos olhos mais reacionários da época. O discurso da resistência era que o país estaria "nas mãos de crianças" e, por conseguinte, as escolhas seriam imaturas e nocivas para quem havia acabado sair de mais de duas décadas de um regime ditatorial.
O conservadorismo da oposição, apoiado inclusive pelo presidente da época, José Sarney, chegou até ganhar a forma quando a deputada Rita Furtado propôs uma emenda supressiva contrária à conquista dos adolescentes.
Os discursos eram antagônicos:
A emenda supressiva não vingou: em 16 de agosto o plenário aprovou de forma definitiva o voto facultativo para os adolescentes.
Com efeito, os ares da Constituição cidadã não combinavam com medidas reacionárias. Foi então que, mesmo a contragosto, em 1989 os mais velhos viram a juventude ir às urnas escolher os representantes do país. E não foram poucos. Em 1990, mais de dois milhões de jovens com menos de 18 anos exerceram sua cidadania ao votar, de acordo com os dados do TSE.
A redemocratização incentivou maior participação política e, mesmo sem o poder da difusão da internet, os adolescentes e jovens se mobilizavam para fazer valer a sua voz. De acordo com os jornais da época, Manuela Pinho, líder do "Se Liga 16", movimento para atrair os jovens para a primeira eleição presidencial pós-redemocratização, entregou ao então presidente do TSE, Francisco Rezek, um vídeo que acabaria no horário eleitoral gratuito.
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(Fonte: Jornal o Globo, 1989)
A Constituição, que sagrou os direitos políticos da juventude, completa 30 anos em 2018. A participação dos jovens mudou sensivelmente desde então. Assista ao vídeo e entenda o cenário atual: