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Participação da mulher na Revolução de 32 é marco importante para legado feminino no país

72 mil mulheres provaram sua importância e o valor de seu legado em um dos maiores movimentos armados da história do Brasil.

9/7/2014

Mães, esposas, donas de casa. Colocadas sob segundo plano quando se trata da história das guerras, mais de 72 mil mulheres provaram sua importância e o valor de seu legado em 1932, um dos maiores movimentos armados da história do Brasil.

Capítulo ainda recente escrito nas páginas tupiniquins, a Revolução Constitucionalista de 1932 contou com a participação feminina no desempenho de funções como enfermeiras, costureiras e cozinheiras. Enquanto os homens lutavam bravamente nas trincheiras, elas trabalhavam nas indústrias bélicas e também auxiliavam nas tarefas referentes ao suporte logístico.

Algumas mulheres, porém, também alçaram o posto de heroínas da revolução por assumirem a frente de batalha. Outras tantas, que prestaram grandes serviços a soldados e às famílias dos combatentes, com seu apoio, são as valorosas mãos invisíveis que carregaram com bravura os fardos do confronto.

Maria Stella Sguassábia

Nascida em Araraquara/SP, Maria Stella Rosa Sguassábia era professora primária na Fazenda Paulicélia quando se infiltrou nas tropas revolucionárias paulistas. Um dos soldados desertou e jogou sua farda e arma fora e Maria recolheu as roupas, vestiu-as e rumou ao combate. A partir de então, tendo o comando da 4ª Cia. visto a sua ação enérgica como defensora de SP, ela foi incorporada à tropa com o nome de Mario Sguassábia.

"D. Maria Stella Sguassábia, bateu-se durante toda a luta como verdadeira espartana e com os seus companheiros de trincheiras, recebeu diretamente o ataque das Tropas Contrarias, sem um desfalecimento, e sem alimentação e mesmo água para beber, manteve-se calma, sem soltar uma queixa, tornando-se alvo da admiração e estima de todos os companheiros." (Mario dos Santos Meira, Ex-1º Tenente, Comandante da 4ª Cia. Do 1º. B.P.M.Civil, 1935)


Maria e seu irmão, Antônio Sguassábia


Maria Sguassábia na trincheira

Maria Soldado

Maria José Bezerra, conhecida como Maria Soldado, marcou a passagem feminina pela Revolução de 1932 e virou símbolo por também ter combatido nas trincheiras. Vinda de Limeira/SP, Maria Soldado alistou-se, passou-se por homem e lutou arduamente pela causa. Só foi descoberta como mulher após combater na linha de frente e ser ferida.

Sobre a mulher lutadora e sua causa, edição de 5/9/1932, do jornal A Gazeta dizia:

"Uma mulher de cor, alistada na Legião Negra, vencendo toda a sorte de obstáculos e as durezas de uma viagem acidentada, uniu-se aos seus irmãos negros em pleno entrincheiramento na frente do sul, descrevendo a página mais profundamente comovedora, mais cheia de civismo, mais profundamente brasileira, da campanha constitucionalista, ao desafiar a morte nos combates encarniçados e mortíferos para o inimigo, MARIA DA LEGIÃO NEGRA! Mulher abnegada e nobre da sua raça."

Carlota Pereira de Queiroz

Carlota Pereira de Queiroz nasceu em 13/2/1892, em SP. Mulher moderna, avessa às limitações sociais da época, veio de uma família abastada de fazendeiros pelo lado do pai e de uma família de políticos do lado da mãe.

Formou-se pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (Turma de 1926), mas sua grande contribuição ao corpo feminino e às lutas da época foi sua projeção na política paulista, durante a Revolução Constitucionalista de 1932. Ela organizou um grupo de 700 mulheres e junto com a Cruz Vermelha deu assistência aos feridos na guerra. Esse trabalho serviu de incentivo para uma vida pública, e, em 1934, foi a primeira mulher eleita deputada Federal no Brasil.


Deputada Carlota Pereira de Queiroz participando da Assembleia Nacional Constituinte de 1934.

Conquistas

O fim da Revolução de 1932 marcou o início do processo de democratização. O direito ao voto feminino foi reconhecido. A permissão era restrita às mulheres casadas que tivessem a autorização do marido e às solteiras e viúvas, desde que com renda própria.

Em maio de 1933, o direito ao voto foi reassegurado, mas apenas àquelas mulheres que exercessem funções remuneradas em cargos públicos. Foram realizadas eleições para a Assembleia Nacional Constituinte, quando as mulheres votaram pela primeira vez no Brasil em eleições nacionais. O voto pleno e obrigatório como direito de todas as mulheres foi instituído pela Constituição de 1946.

Relembrar é preciso

No último dia 16 de junho, as Comissões da Mulher Advogada e de Resgate da Memória da OAB/SP promoveram o evento "A participação da Mulher na Revolução de 32", que contou com a palestra do Major Sérgio Olímpio Gomes sobre o tema, antecedida da declamação do poema "Mulheres Cidadãs", pela poetisa e membro da Comissão da Mulher Advogada Frances de Azevedo, especialmente escrito para a ocasião.

Segundo Kátia Boulos, presidente da Comissão da Mulher Advogada da Ordem paulista, foi "marcante e inesquecível essa homenagem prestada pela Seccional paulista às pujantes mulheres bandeirantes que, com sua coragem, empenho e determinação, propugnaram pelo Estado de Direito, fizeram a diferença e mudaram o curso da história".

MULHERES CIDADÃS

Mulheres mães!
Mulheres esposas!
Mulheres filhas!
Mulheres irmãs!
Mulheres companheiras!
Mulheres na retaguarda!
Mulheres à frente da batalha!
Mulheres do Clube do Ovo!
Mulheres do Clube do Cachecol!
Mulheres enfermeiras, mensageiras!
Mulheres cozinheiras, costureiras!
Mulheres destemidas, decididas!
Mulheres relevantes, atuantes!
Mulheres necessárias, voluntárias!
Mulheres eivadas de fé, de coragem!
Que apoiaram a Revolução de 32
Em prol do retorno da Democracia!
Loa a essas MULHERES CIDADÃS!

Frances de Azevedo
Comissão da Mulher Advogada OAB/SP
Comissão de Resgate da Memória da OAB/SP
Maio/2014



________________________

Referências

1. QUETEL, Claude. As Mulheres na Guerra Volume 2, 2009.
2. https://www.mulheresdesaojoao.com.br/index_arquivos/MariaSguassabia.htm
3. https://www.senado.gov.br/noticias/Jornal/cidadania/MulheresPolitica/not03.htm

4. https://www.malcolmforest.com/pdk/maria-soldado.htm

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