Em uma trajetória histórica que, em muitos pontos, se confunde com a do Brasil, hoje a Bahia comemora 190 anos de seu memorável 2 de julho. A festa cívica mais importante do Estado, o dia da Independência da Bahia, é marco da intensa luta pela libertação e retirada definitiva de tropas lusitanas de solo baiano.
Relatos dão conta que a luta pela libertação do Estado durou quase dois anos mas começou, efetivamente, em março de 1823. Apesar da declaração de independência do país no 7 de setembro anterior, tropas portuguesas insistiam em permanecer em território baiano, ignorando e contrariando o acordo unilateral imposto por D. Pedro I.
A insatisfação com o governo militar do brigadeiro Inácio Luís Madeira de Melo, português e declaradamente fiel ao governo lusitano, foi o estopim para a crise. No poder desde fevereiro de 1822, o governante insistia em não reconhecer a liberdade e independência do povo brasileiro, mantendo sob dominação a capital Salvador e o Recôncavo Baiano.
A mais famigerada das batalhas pela libertação, a de Pirajá, foi travada por mais de 8 horas e contou com milhares de soldados. Dentre tantos, mulheres também ganharam destaque e são apontadas como substanciais no processo de independência.
Os nomes trazem personagens como a mártir da causa, madre Joana Angélica, a soldado Maria Quitéria de Jesus, considerada a heroína da independência, e Maria Felipa, pouco conhecida na história oficial.
A data magna baiana, que dá nome a biblioteca, faculdade, escola, eventos, dentre tantos, também foi imortalizada nas palavras do brilhante Castro Alves, no "Ode ao Dous de Julho".
Veja a letra do hino da Independência da Bahia.
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"Ode ao Dous de Julho"
Castro Alves
Era no dous de julho. A pugna imensa
Travara-se nos cerros da Bahia...
O anjo da morte pálido cosia
Uma vasta mortalha em Pirajá.
"Neste lençol tão largo, tão extenso,
"Como um pedaço roto do infinito...
O mundo perguntava erguendo um grito:
"Qual dos gigantes morto rolará?!..."Debruçados do céu... a noite e os astros
Seguiam da peleja o incerto fado...
Era a tocha — o fuzil avermelhado!
Era o Circo de Roma-o vasto chão!
Por palmas-o troar da artilharia!
Por feras-os canhões negros rugiam!Por atletas-dous povos se batiam!
Enorme anfiteatro — era a amplidão!
Não! Não eram dous povos, que abalavam
Naquele instante o solo ensangüentado...
Era o porvir-em frente do passado,
A Liberdade-em frente à Escravidão,Era a luta das águias — e do abutre,
A revolta do pulso-contra os ferros,
O pugilato da razão — com os erros,
O duelo da treva-e do clarão!...
No entanto a luta recrescia indômita...
As bandeiras — como águias eriçadas —Se abismavam com as asas desdobradas
Na selva escura da fumaça atroz...
Tonto de espanto, cego de metralha,
O arcanjo do triunfo vacilava...
E a glória desgrenhada acalentava
O cadáver sangrento dos heróis!...Mas quando a branca estrela matutina
Surgiu do espaço... e as brisas forasteiras
No verde leque das gentis palmeiras
Foram cantar os hinos do arrebol,Lá do campo deserto da batalha
Uma voz se elevou clara e divina:
Eras tu— Liberdade peregrina!
Esposa do porvir-noiva do sol!...
Eras tu que, com os dedos ensopados
No sangue dos avós mortos na guerra,
Livre sagravas a Colúmbia terra,
Sagravas livre a nova geração!Tu que erguias, subida na pirâmide,
Formada pelos mortos de Cabrito,
Um pedaço de gládio — no infinito...
Um trapo de bandeira — n'amplidão!...