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Alunos de Direito da USP Ribeirão protestam contra trotes

Em festas, calouros seriam obrigados a participar de brincadeiras humilhantes.

10/4/2012

Calouros da Faculdade de Direito de Ribeirão Preto da USP divulgaram nesta segunda-feira uma nota de repúdio aos trotes dos quais se dizem vítimas.

De acordo com a nota, apesar da alegação de que se submeter ao trote é opcional, os estudantes narram situações como a ocorrida na Festa da Coroação, na qual um grupo de meninas teria sido impedido de sair de um local da festa, pois se negou a participar do rito denominado "Bixete pega o disquete".

Em defesa, o centro acadêmico e a atlética da faculdade dizem não ter relação com as brincadeiras, que seriam elaboradas por um grupo isolado de alunos.

Na nota, os calouros relatam ainda que durante as festas os eram obrigados a fazer juramentos, nos quais os homens "prometem abdicar de seus pênis, estando impedidos de se relacionar sexualmente com as alunas do curso", e as mulheres teriam de iniciar o juramento se autoproclamando: "Eu, bixete vagabunda...".

Segundo o CA, um aluno inventou na hora o juramento, numa típica brincadeira acadêmica. Em nota, a atlética da faculdade afirmou que eventuais excessos cometidos por parte de um dos seus integrantes serão apurados e, se compravada a culpa, os alunos serão punidos. No entanto, ressaltou que casos de condutas desrespeitosas perpetradas por alunos não integrantes de seu corpo diretivo, embora censuráveis, não devem ensejar generalizações.

Veja abaixo:

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NOTA DE REPÚDIO AOS ATOS OCORRIDOS NA FDRP-USP

Nós, alunos da Universidade de São Paulo abaixo subscritos, e demais entidades e autoridades, pela presente manifestamos repúdio aos atos discriminatórios e violentos que têm ocorrido na esteira dos rituais e festas de recepção aos novos alunos da Faculdade de Direito de Ribeirão Preto (FDRP-USP).

Apesar da alegação de que se submeter ao trote é opcional, situações como a ocorrida na última Festa da Coroação (evento no qual os ingressantes recebem o objeto distintivo do curso - uma coroa de louros - que devem carregar na cabeça até o dia 13 de maio, data da Festa da Libertação) demonstram o contrário. Nessa festa, um grupo de calouras se viu impedido de sair de um local da casa onde a festa se realizou, porque se negou a participar do rito denominado Bixete pega o disquete, onde desfilariam diante de todos os alunos da Faculdade, abaixando-se no final do percurso a fim de exibir seus corpos para diversão dos presentes.

Em uma das passagens do trote que se convencionou chamar de juramento, os calouros homens prometem abdicar de seus pênis, estando teoricamente impedidos de se relacionar com as alunas do curso. As mulheres, por sua vez, iniciam seu juramento se auto-proclamando: “Eu, bixete vagabunda...”, e seguem, prometendo que permanecerão belas e exclusivas aos veteranos. Esse discurso, claramente, corrobora a visão patriarcal da mulher na sociedade ao tratá-las como seres desprovidos de autonomia, transformando-as em objetos sexuais, e impondo o dever de se manterem submissas ao poder masculino representado, na situação descrita, pelo veterano.

A obrigatoriedade do uso da coroa tem gerado pressões nos corredores da Faculdade. Se por um lado os órgãos de representação dos discentes reiteram que a submissão ao trote e a suas regras é do arbítrio do calouro, também há alunos que costumeiramente intimidam aqueles que não utilizam o objeto distintivo. Alguns deles, ainda que sendo membros da Associação Atlética Acadêmica e do Centro Acadêmico da Faculdade, acabam por agir em desconformidade com o que suas entidades prescrevem e, mesmo assim, são vistos pela coletividade como seus representantes legítimos, inclusive sendo imbuídos de certa autoridade, especialmente pelos recém-ingressos. Suas intimidações incluem proibições de ir a determinadas festas e até ameaças de exclusão dos alunos do convívio universitário como um todo, sob a falso argumento de “conscientização sobre o estilo de vida universitário” .

Recentemente, a situação na FDRP se tornou insustentável quando um aluno que decidiu não usar sua coroa foi abordado agressivamente por um grupo de veteranos enquanto conversava com primeiranistas. Em tom claramente odioso, os veteranos proferiram aos gritos ameaças como “você devia morrer”, “nós ainda iremos te encontrar sozinho” e indagaram por que seus colegas estariam conversando com ele. Além disso, recomendaram que seria melhor que ele fosse procurar “seu grupo de amigos viadinhos [sic]”, referindo-se a seus amigos LGBT.

A diferença entre integração e violência torna-se menos discernível quando se naturaliza o denominado “trote” como prática comum de recepção de calouros. Na delicadeza do momento de ingresso na universidade, veteranos apropriam-se do discurso de integração dos alunos entre si e revestem seus atos de suposta legitimidade para a prática de “tradicionais trotes”. O recrudescimento da violência nesses rituais de recepção reproduz uma série de preconceitos e abusos no trato com os novos alunos em nome daquilo que se acredita ser apenas uma peça de humor.

Deve-se salientar a necessidade de conscientização de todos os alunos da FDRP a respeito do trote que, embora possa ter seu caráter recreativo, não deve ser usado como instrumento discriminatório e violento. Os costumes de um determinado grupo de universitários não podem ser aceitos cegamente, tampouco usados para mascarar atitudes sexistas, homofóbicas ou de qualquer outro cunho discriminatório. É necessário por um fim a essas repressões, com vistas à pluralidade e à diversidade de opiniões.

Co-autoria:

André Quimello Theago, FDRP-USP
Bruna Dantas Serra, FDRP-USP
Cinthia Catoia, FDRP-USP
Hugo Rezende, FDRP-USP
Lucas Aguiar, FDRP-USP
Natália Góis, FDRP-USP
Nícolas Negri Pereira, FDRP-USP
Ricardo Tieri Brito, FDRP-USP
Vinícius Balestra, FDRP-USP
Vitor Fernando Campos Leite, FDRP-USP

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Associação Atlética Acadêmica Casa Sete

A Associação Atlética Acadêmica Casa Sete, entidade de representação estudantil e promoção social e desportiva da Faculdade de Direito de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo, em razão da nota de repúdio divulgada em diversos meios de comunicação, em coautoria de dez discentes do curso, e na qual se imputam diversas condutas criminosas e eticamente reprováveis a membros desta entidade, vem se manifestar nos seguintes termos.

Buscando cumprir com sua função estatutária de organizar eventos sociais que promovam a integração e a recreação dos discentes da FDRP USP, a AAACA7 organiza, todos os anos, desde sua fundação, a denominada “Festa da Coroação”. Tal evento tem por escopo celebrar o ingresso dos novos alunos da faculdade e introduzi-los no meio universitário, integrando-os aos demais discentes e à comunidade uspiana em geral.

Nesta esteira, no âmbito da festa, alguns rituais são desenvolvidos por grupos de alunos veteranos, sendo o principal deles a “coroação”, ocasião na qual são entregues aos calouros uma coroa de louros estilizada, como símbolo da vitória que é o ingresso na universidade pública de qualidade, bem ainda como maneira de identificar os calouros perante os veteranos (já que seus nomes são escritos no objeto) e também perante os demais cursos da USP de Ribeirão Preto, os quais, por sua vez, possuem seus próprios artefatos identificadores.

É necessário observar que tanto o uso da coroa quanto a participação nos demais rituais são facultativos, sendo refutados pela AAACA7, enquanto entidade, bem como pelos integrantes de sua diretoria, individualmente considerados, quaisquer tipos de pressões que impeçam ou limitem a liberdade de autodeterminação dos calouros.

Eventuais excessos, que de fato há, se promovidos por membros da Atlética, serão devidamente apurados, e seus autores, se identificados, e reconhecida sua culpabilidade, serão responsabilizados. Todavia, nos casos de condutas desrespeitosas e opressoras perpetradas por alunos não integrantes de seu corpo diretivo, embora considerada censurável pela AAACA7, não devem ensejar generalizações de qualquer natureza, bem ainda responsabilizações da entidade, notadamente por esta não promover ou incentivar tais atos.

Ciente de sua função institucional de representação estudantil, a Associação Atlética Acadêmica Casa Sete posiciona-se, diante do clamor gerado pela nota divulgada, no sentido de que a questão dos rituais de ingresso (os famigerados “trotes”) deve ser amplamente repensada e rediscutida no âmbito da faculdade. Bem por isso, conjuntamente ao Centro Acadêmico Antônio Junqueira de Azevedo, a Atlética está promovendo uma sequência de discussões sobre o tema, com o fito de buscar, legitimamente, e com a máxima participação possível de discentes, meios de evitar que situações indesejáveis ocorram novamente, sem que isto comprometa, por outro lado, as salutares celebrações entre os alunos da FDRP-USP, mormente entre seus novos e antigos estudantes.

Cumpre observar ainda que, à parte dos dez discentes redatores da nota, esta foi subscrita por diversas outras entidades, autoridades e indivíduos em geral, muitos dos quais desconhecedores da realidade universitária no interior do Estado de São Paulo – notadamente no campus da USP de Ribeirão Preto – e de suas respectivas particularidades, bem como, principalmente, ausentes dos fatos retratados na manifestação, sem a possibilidade de se atestar, portanto, a veracidade das narrativas contidas na nota e a proporcionalidade dos argumentos despendidos.

Ribeirão Preto, 10 de abril de 2012.

Associação Atlética Acadêmica Casa Sete

Gestões 2012/2011/2010


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