Migalhas Quentes

Peruada 2010: Pro meu peru ser deputado, tem que ser palhaço ou condenado

O Centro Acadêmico "XI de Agosto" realiza dia 15/10 mais uma edição da tão esperada Peruada.

4/10/2010

Com o mote "Pro meu peru ser deputado, tem que ser palhaço ou condenado", o Centro Acadêmico "XI de Agosto" realiza no dia 15/10 mais uma edição da tão esperada Peruada.

A concentração acontecerá no Largo do Paissandu, 62, Centro. Mais informações pelo telefone (11) 3111 4082 ou (11) 3054 5496.

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A Peruada é uma das mais antigas tradições cultuadas pelos estudantes da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco. Há quem pense que a Peruada surgiu em 1948, quando um grupo de 33 sócios do Centro Acadêmico XI de Agosto – então presidido por Rogê Ferreira – organizou o furto de nove perus de raça que tinham sido premiados na Exposição Nacional de Animais do Parque da Água Branca, em São Paulo. Levadas para as Arcadas, as aves foram assadas e saboreadas em memorável banquete.

Não por coincidência, o peru que havia conquistado o primeiro prêmio da exposição pertencia a um professor da Faculdade, Mario Mazagão, que jamais perdoou o presidente do Onze. Na época, um editorial do jornal O Estado de S. Paulo repudiava a ação estudantil, com o título:"“Estudantada ou vandalismo ?".

Em verdade, àquela ocasião surgiu a Ordem do Peru, para contrapor-se a outros grupos anteriormente existentes: em 1941, o furto de uma capivara no Jardim da Luz deu origem à Ordem da Capivara; em 1943, do mesmo local fora subtraído um veadinho, resultando na Ordem do Veado; em 1945 um corvo teria sido furtado e enviado ao presidente Getúlio Vargas, como obra da Ordem do Corvo. Segundo os acadêmicos de então, de tempos em tempos eram organizados esses furtos de animais não por espírito mesquinho, mas para "homenagear" a figura do ladrão, tido como o grande inspirador do estudo do Direito.

Bem antes de 1948, no entanto, há diversos registros documentais de grandes festas estudantis, que eram organizadas em maio ou junho de cada ano para celebrar a "libertação" dos calouros após os meses iniciais de suplícios com o trote. Na Peruada de 1932, José Mindlin saiu fantasiado de Osvaldo Aranha, vestindo a camisa negra do fascismo e fazendo malabarismos com um chuchu, que simbolizava Getúlio Vargas.

Nas Peruadas, os novos alunos eram definitivamente integrados à Faculdade, enfrentando um ritual de passagem em que a embriaguez era inevitável. O nome da festa, desse modo, pode ser explicado como uma comparação com o hábito caboclo de dar pinga aos perus, deixando-os tontos antes de sacrificá-los. Tanto as aves quanto os calouros sorvem o líquido com idêntica volúpia.

Tudo que acontecia no Largo de São Francisco repercutia intensamente na sociedade paulistana, de tal modo que os estudantes aproveitavam a celebração anual de libertação dos calouros para mandar sua bem-humorada mensagem aos governantes, desfilando fantasiados pelas ruas do Centro e satirizando os maus costumes políticos, sempre acompanhados por atrações musicais e circenses.

Eis aí o lema que move a Peruada: ridendo castigat mores, ou seja, o riso corrige os costumes.

O regime militar, porém, foi sufocando a criatividade estudantil em razão das contínuas restrições às liberdades democráticas. Em 1973, por exemplo, quando a censura e a repressão eram corriqueiras, os jornais registram que a Peruada saiu às ruas sem mensagens políticas. Apesar de ressabiados – pois alguns desconhecidos estavam infiltrados entre eles -, os estudantes sentaram-se no chão em frente ao Teatro Municipal e, embalados por uma explosiva mistura de cachaça e vinho, ousaram clamar por "Liberdade"!

Em outubro de <_st13a_metricconverter productid="1983, a" w:st="on">1983, a Peruada volta em grande estilo. Os jornais, no dia seguinte, saudaram com entusiasmo a tradição ressurgida: os perus estão novamente na primeira página. Em 1988, até um elefante foi visto em pleno Viaduto do Chá acompanhando a farra dos estudantes, de tal modo que a tradição ganhou tanta força que hoje em dia já está definitivamente incorporada ao calendário da cidade de São Paulo.

Todos os anos, em outubro, às vésperas das eleições para a renovação da diretoria do Onze, é época da tão esperada passeata político-circo-etílico-carnavalesca, que leva a alegre mensagem dos moços e moças do Largo de São Francisco para o mundo!

Polêmica

Em 2002, o Centro Acadêmico XI de Agosto enfrentou uma polêmica envolvendo a realização da festa. O diretor da faculdade, Eduardo Vita Marchi, com respaldo em parecer do Condephaat (conselho estadual que cuida do patrimônio histórico), proibiu a realização da festa no Pátio das Arcadas, onde começa a brincadeira. O documento atesta que a vibração do som pode afetar as estruturas do prédio, tombado pelo patrimônio histórico (Clique aqui para ler). A medida do diretor foi tema de sátira dos alunos que usaram o tema "Ei Marchi, Liberte o Meu Peru".

1967

1996

Destes anos de manifestações surgiu o hino entoado pelos estudantes pelas ruas da capital paulistana. Veja abaixo o hino de autoria do migalheiro Eduardo Calvert.


A Peruada

Vai vai vai começar a brincadeira,
tem cerveja de graça a tarde inteira,
vem soltar a lascívia acumulada,
vai vai vai começar a PERUADA.

Bebe bebe, vagabundo,
é melhor não estar desperto,
prá se a velha chegar junto,
enfrentar de peito aberto,
pois no meio da folia,
meio dia céu aberto,
uma neta que protesta,
vitupera sua nona,
que veio só dar carona
e resolveu ficar na festa.

(estribilho)

Quem se esquiva do dentista,
ou vê sangue e dá um salto,
tem chilique em lugar alto,
teme sapo de brinquedo,
em outubro vai ter medo,
no dia da PERUADA,
pois o centro e infestado,
de canhão de bruxa e draga,
tem até mulher barbada,
neste circo disfarçado.

(estribilho)

Os vapores de cachaça,
fazem mudar todo mundo,
o careta é maconheiro,
o nerd é vagabundo,
o juiz é sem juízo,
o alegre é moribundo,
mas não vale este brocardo,
prá quem joga do outro lado,
o Vitão lançou o grito
e não deixou de ser viado.

(estribilho)

De terno, gravata e meia,
franciscano quer a morte,
ouve a turba, titubeia,
o instinto é mais forte,
bem na hora do batente
o estagiário some,
seu chefe fica valente,
mas por dentro se consome,
noutro tempo inconseqüente,
fora em ébrio de renome.

(estribilho)

Foi beijada a velha nona,
foi beijada a bailarina,
é beijada toda hora
a safada da Marina,
todo mundo se devora,
Pierrô e Colombina,
quem zerou até agora,
mesmo assim não desanima,
porque a festa só termina,
quando o dia for embora.

Vai vai vai terminar a brincadeira,
que a cerveja rolou a tarde inteira,
morre o sol faz-se sombra nas arcadas,
vai vai vai terminar a Peruada.

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