Migalhas de Peso

Direito Algorítmico: Impactos jurídicos e éticos na era da inteligência artificial

O artigo explora o Direito Algorítmico, analisando impactos éticos e legais da automação no direito, desafios ao paradigma jurídico e soluções para equilíbrio entre tecnologia e justiça no Brasil.

18/12/2024

Estamos na era da IA - inteligência artificial, em que algoritmos têm desempenhado um papel cada vez mais significativo em decisões legais e administrativas. A crescente complexidade das demandas sociais e a busca por maior eficiência nos sistemas jurídicos levaram à incorporação de tecnologias baseadas em IA. Essa realidade coloca o Direito Algorítmico como uma disciplina emergente, essencial para compreender e regulamentar a interseção entre tecnologia e justiça.

O conceito de Direito Algorítmico refere-se à aplicação de algoritmos na interpretação, aplicação e execução de normas jurídicas, criando novas dinâmicas na prestação jurisdicional. O Brasil, com iniciativas como o sistema "Victor", desenvolvido pelo STF, e o programa "Justiça 4.0", é um exemplo de como a IA pode ser utilizada para filtrar recursos repetitivos e otimizar processos judiciais. Esses avanços, entretanto, também levantam questões críticas relacionadas à transparência, à discriminação algorítmica e à responsabilidade jurídica.

Este artigo tem como objetivo explorar o impacto do Direito Algorítmico na governança jurídica no Brasil, analisando suas bases normativas, desafios éticos e implicações para o Estado Democrático de Direito. Através de uma abordagem crítica e fundamentada, busca-se promover uma reflexão sobre as potencialidades e os riscos dessa nova realidade tecnológica.

1. Direito Algorítmico: Definição e Aplicações

O Direito Algorítmico abrange o uso de algoritmos para realizar tarefas que antes dependiam exclusivamente de intervenção humana. Essas tecnologias incluem desde chatbots jurídicos, capazes de fornecer orientações iniciais, até sistemas complexos que auxiliam juízes na análise de precedentes.

No Brasil, o programa Justiça 4.0, promovido pelo CNJ, introduziu soluções algorítmicas para agilizar o trâmite processual. Mais de 100 robôs já operam no Judiciário, com destaque para ferramentas que automatizam triagens processuais.

2. Desafios jurídicos e éticos

Embora os algoritmos possam aumentar a eficiência e a precisão das decisões judiciais, eles também levantam preocupações significativas:

3. Marcos regulatórios e propostas normativas

O Brasil tem avançado no debate regulatório sobre IA. A LGPD - Lei Geral de Proteção de Dados já estabelece bases para o tratamento de dados pessoais em sistemas automatizados. Além disso, o PL 2.338/23 prevê diretrizes para o uso ético de IA, alinhando-se a marcos internacionais, como o EU AI Act.

4. Soluções e boas práticas

O Direito Algorítmico representa um avanço tecnológico que, se bem implementado, pode contribuir para a eficiência e acessibilidade do sistema jurídico. No entanto, sua aplicação requer cuidado ético, normativo e técnico para mitigar riscos e garantir o respeito aos princípios fundamentais do direito.

No futuro, espera-se que o Brasil não apenas implemente soluções tecnológicas, mas também lidere o debate internacional sobre governança algorítmica, consolidando um modelo que alie inovação e respeito aos direitos humanos.

______

1 BRASIL. Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD). Lei nº 13.709, de 14 de agosto de 2018. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/lei/L13709.htm. Acesso em: 18 dez. 2024. Citada em Marcos Regulatórios e Propostas Normativas.

2 CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA (CNJ). Programa Justiça 4.0 divulga resultados de pesquisa sobre IA no Judiciário brasileiro. 2024. Disponível em: https://www.cnj.jus.br. Acesso em: 18 dez. 2024. Citado em Direito Algorítmico: Definição e Aplicações.

3 SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF). Sistema "Victor". Inteligência Artificial no STF. Disponível em: https://www.stf.jus.br. Acesso em: 18 dez. 2024. Referenciado em Introdução e Direito Algorítmico: Definição e Aplicações.

4 VIGLIAR, José Marcelo Menezes. Inteligência Artificial: Aspectos Jurídicos. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2024. Usado em Desafios Jurídicos e Éticos.

DEBORA, Racionalidade no Direito: Inteligência Artificial e Precedentes. São Paulo: Atlas, 2023. Utilizado em Transparência e Explicabilidade e Responsabilidade Jurídica.

RUSSELL, Stuart; NORVIG, Peter. Inteligência Artificial. 3. ed. São Paulo: Campus, 2022. Fundamentação técnica em Soluções e Boas Práticas.

Jamille Porto Rodrigues
Advogada e Professora de Direito Digital, Inteligência Artificial e Novas tecnologias aplicada ao Direito e Marketing Jurídico.

Veja mais no portal
cadastre-se, comente, saiba mais

Artigos Mais Lidos

O papel do Direito Notarial no mercado de créditos de carbono: Uma base para sustentabilidade e confiança

17/12/2024

PERSE – Alterações do programa emergencial de retomada do setor de eventos

17/12/2024

Prostatectomia robótica: Benefícios clínicos e cobertura pelos planos de saúde

16/12/2024

A legalidade e a assertividade na penhora de conta escrow: Análise do acórdão no AI 2250450-89.2024.8.26.0000

17/12/2024

Dívida médica nos EUA e visto negado, como reverter essa situação?

17/12/2024