Migalhas de Peso

Tempestades corporativas - Sua marca pessoal e´ o seu salva-vidas

Mesmo em grandes corporações, advogados precisam construir uma marca pessoal forte e independente. A marca pessoal é um "salva-vidas" essencial, garantindo segurança e continuidade mesmo em tempos de crise profissional.

8/9/2024

Imagine-se navegando em águas tranquilas, ancorado em um porto seguro, com o nome de uma grande corporação estampado em sua embarcação. Tudo parece sob controle, certo? Mas o que poucos percebem é que o mar pode mudar rapidamente, e a tempestade pode atingir até os mais robustos navios corporativos. E quando a tempestade chega, é a sua marca pessoal que vai determinar se você continua navegando ou se naufraga.

No universo jurídico, a marca pessoal não é um luxo, é um salva-vidas. Enquanto muitos advogados de departamentos jurídicos descansam à sombra do prestígio das empresas para as quais trabalham, esquecem que essa segurança é, muitas vezes, uma ilusão. Viver apenas o dia a dia corporativo, sem investir em networking, sem cultivar contatos, é como confiar cegamente em um leme que não é seu. E, quando de repente o emprego se perde, o que resta?

Assim como ninguém deixa de fazer um check-up médico por estar aparentemente saudável, advogados de grandes corporações precisam de uma estratégia preventiva para suas carreiras. Afinal, o que é mais importante do que estar preparado para as incertezas do mercado? Construir uma marca pessoal forte e independente é o seguro que todo advogado deveria ter, garantindo que, mesmo em meio à tempestade, sua carreira continue a navegar com segurança e direção.

1. A ilusão da segurança corporativa

Você se sente invencível, não é? Afinal, seu crachá tem um peso que carrega décadas de tradição, inovação e prestígio. "João, gerente jurídico da Coca-Cola." Esse sobrenome corporativo soa como uma medalha de honra. Ele abre portas, enche o peito de orgulho e, por que não dizer, é um ótimo escudo. Maria, Paulo, João – cada um com suas insígnias empresariais – tornam-se quase sobrenomes por direito. Mas aí vem a grande pergunta que ninguém quer fazer: o que acontece se esse sobrenome for tirado de você?

A verdade, meu caro leitor, é que a segurança corporativa pode ser uma grande miragem no deserto das ilusões. Tudo vai bem, até que não vai mais. Reestruturações acontecem como terremotos silenciosos, mudanças de diretoria podem ser tão fatais quanto o corte de uma lâmina, e crises econômicas... bem, essas podem virar sua vida de cabeça para baixo em questão de segundos. E então, quem é você sem o sobrenome corporativo?

É nessa hora que a ficha cai. Você pode ter sido o melhor advogado dentro daquela sala de reuniões, mas, se sua marca pessoal não for tão forte quanto o logotipo estampado no topo da empresa, você se vê de repente sem chão. E, acredite, esse é um cenário mais comum do que você imagina. Afinal, no mundo dos negócios, a única certeza é a incerteza.

A dependência excessiva do "sobrenome corporativo" é como confiar que um único trampolim o manterá no ar para sempre. Mas o trampolim pode quebrar. A empresa pode mudar. E então? Você tem a sua rede de contatos? Você tem sua marca pessoal bem construída? Se não, a queda pode ser brusca e solitária. E o que te salva nessa hora é a sua habilidade de ter construído algo que vai além de um cargo: uma reputação, uma presença, uma marca que fale por você quando o sobrenome da empresa já não estiver mais lá.

2. Networking: O pilar esquecido

Networking. Essa palavra poderosa muitas vezes se perde nas urgências do dia a dia de um departamento jurídico, como se fosse um luxo que se pode dispensar. Mas a verdade é que negligenciar o networking é como ignorar um seguro vital para sua carreira.

Enquanto você está imerso nas demandas internas, o mundo lá fora continua a se conectar, a trocar ideias, a evoluir. E se você não participa dessas conexões, corre o risco de ficar para trás. Networking não é apenas uma ferramenta para encontrar novas oportunidades de emprego; é a sua linha direta com o mercado, sua maneira de se manter atualizado, de compartilhar conhecimentos e de cultivar relações que podem ser valiosas quando menos se espera.

Um advogado que não investe tempo em expandir sua rede fora da empresa é como um navegador sem bússola: isolado e vulnerável. E, quando as inevitáveis crises surgem – seja uma reestruturação, uma mudança no setor ou a necessidade de se recolocar – a falta de uma rede de contatos pode transformar esse isolamento em um desastre.

Portanto, é essencial sair da bolha corporativa. Participar de eventos, contribuir em plataformas como o LinkedIn, manter contato com ex-colegas e fazer novas conexões não é apenas uma atividade extracurricular; é uma estratégia vital. Networking é estar presente e preparado, garantindo que, independentemente das mudanças, você sempre terá para onde ir.

3. O perigo de ser "apenas" o advogado da empresa

Ser "o advogado da empresa X" pode soar como um título de prestígio, mas também pode ser uma armadilha dourada. É fácil se perder no brilho do sobrenome corporativo, acreditar que o cargo por si só é suficiente para definir quem você é no mercado. Mas a realidade é que, se você é visto apenas como "o advogado da empresa X", está se limitando a um papel que depende exclusivamente de um crachá. E o que acontece quando esse crachá é devolvido?

O perigo de ser "apenas" o advogado da empresa reside na sua invisibilidade fora dos muros corporativos. A pergunta que todo advogado corporativo deveria fazer é: como sou percebido fora da minha empresa? Se o mercado não sabe quem você é além do logotipo que representa, sua relevância está em risco. Sua visibilidade, sua influência, tudo fica restrito a uma única identidade que, se retirada, deixa um vácuo.

É aqui que entra o poder de uma marca pessoal bem cultivada. Uma marca pessoal forte é como um farol, brilhando independentemente do porto em que você está atracado. Ela amplia seu alcance, permitindo que você seja reconhecido pelas suas habilidades, sua expertise e pelo valor que traz, independentemente do nome estampado no seu cartão de visita. Sua marca pessoal é o que faz você ser lembrado, seja na sua atual posição ou na próxima.

Quando você constrói essa marca, você se posiciona para o futuro. Mesmo que o emprego atual desapareça, sua reputação e sua rede de contatos permanecem sólidas, servindo como um trampolim para novas oportunidades. Afinal, o mercado valoriza mais quem você é do que onde você está. E quem você é deve ser maior, mais brilhante e mais impactante do que qualquer logotipo corporativo.

4. Construindo sua marca pessoal: Passos práticos

A construção de uma marca pessoal não é um capricho, é uma arte estratégica. É a diferença entre ser um nome perdido na multidão ou se tornar uma referência, um farol que ilumina o caminho, independentemente de onde você estiver. Mas como começar essa jornada? Como esculpir uma marca que seja verdadeiramente sua, poderosa e duradoura? Vamos aos passos.

5. O valor de uma marca pessoal forte na recolocação

Imagine-se em uma situação de perda de emprego. Assustador, não? Mas agora imagine que, ao invés de desespero, você sente confiança. Por quê? Porque você construiu uma marca pessoal forte. Sua visibilidade no mercado, sua reputação sólida e uma rede ativa são os alicerces que tornam a transição para novas oportunidades muito mais suave. Enquanto outros começam do zero, você já tem metade do caminho andado.

Uma marca pessoal forte não é apenas um diferencial; é o que faz você ser lembrado e escolhido. E aqui está um segredo que muitos ignoram: as melhores vagas do mercado não chegam aos sites de emprego, elas são preenchidas por indicação, por aqueles que já têm uma presença estabelecida e uma rede de contatos sólida, por nomes de confiança.

Essa presença e essa rede de contatos são construídas antes da necessidade, não no momento da crise. Quando sua marca pessoal já está consolidada, você não precisa correr atrás das oportunidades; elas vêm até você. E é isso que transforma uma potencial crise em uma nova chance de crescimento e sucesso.

6. A marca pessoal como seguro de carreira

Por tudo isso, pense na sua marca pessoal como um seguro de carreira. Assim como fazemos exames preventivos para garantir nossa saúde, construir e manter uma marca robusta é a garantia de que, independentemente do que aconteça, você estará preparado.

Mudanças são inevitáveis, mas o impacto delas pode ser drasticamente reduzido quando você tem uma reputação forte e uma rede de contatos sólida. Sua marca pessoal é o seu plano de contingência, o seu backup, o seu trampolim para novas oportunidades.

Se você ainda não começou, a boa notícia é que nunca é tarde para começar. O tempo é agora. A marca pessoal que você constrói hoje é o que vai determinar onde você estará amanhã. E acredite: estar no controle do seu destino profissional é a melhor sensação que você pode ter.

Não importa se você está no começo da carreira ou já estabelecido em um cargo sênior, a construção de uma marca pessoal forte é o que garantirá que você esteja sempre à frente, preparado para crescer e prosperar, independentemente das circunstâncias.

Invista em você, cultive sua rede, compartilhe seu conhecimento. Afinal, o nome mais importante que você deve proteger e promover é o seu. E quando o seu nome é forte, o futuro não é um desafio, é uma oportunidade.

Maria Olívia Machado
Estrategista de carreira e negócios jurídicos com quase 15 anos de experiência. Autora de 5 livros, Professora da USP, Top Voice Linkedin, catalisadora da transformação de ideias em resultados.

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