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O papel do Congresso Nacional na fiscalização de políticas públicas

O Congresso Nacional fiscaliza políticas públicas e garante a conformidade com leis e a transparência na gestão dos recursos, utilizando principalmente as CPIs para investigar irregularidades.

12/8/2024

O papel do Congresso Nacional na fiscalização de políticas públicas é uma das funções mais importantes e menos compreendidas do Legislativo brasileiro. Em uma democracia sólida, o Congresso deve ir além da mera elaboração de leis, atuando como um verdadeiro guardião do interesse público. A fiscalização das políticas públicas visa garantir que as ações do Executivo estejam alinhadas com as diretrizes aprovadas pelo Legislativo e que os recursos públicos sejam utilizados de maneira eficiente e transparente.

A função fiscalizadora do Congresso Nacional é exercida por meio de diversas ferramentas institucionais, sendo a principal delas as CPIs - Comissões Parlamentares de Inquérito. As CPIs são instrumentos fundamentais para investigar possíveis irregularidades na implementação de políticas públicas e para responsabilizar agentes públicos por falhas na execução de programas governamentais. Além disso, as CPIs têm o poder de convocar testemunhas, requisitar documentos e realizar investigações aprofundadas.

Outra ferramenta crucial para a fiscalização é o controle externo exercido pelo TCU. O Congresso, em especial por meio da CMO - Comissão Mista de Orçamento, tem a prerrogativa de acompanhar o trabalho do TCU, que audita e fiscaliza a execução orçamentária e financeira da União. Esse controle permite ao Legislativo monitorar se os gastos públicos estão sendo realizados conforme o planejado e se os objetivos das políticas públicas estão sendo alcançados. A análise dos relatórios do TCU pelo Congresso é um momento-chave para corrigir desvios e aperfeiçoar a execução das políticas.

Além das CPIs e do TCU, o Congresso Nacional também exerce sua função fiscalizadora por meio de audiências públicas e pedidos de informação. As audiências públicas são espaços de debate em que representantes do governo, especialistas e membros da sociedade civil podem discutir a implementação de políticas públicas. Esses encontros permitem que os parlamentares obtenham informações diretas e atualizadas sobre a execução das políticas e possam questionar os responsáveis por sua implementação.

Os pedidos de informação são outra ferramenta importante. Deputados e senadores têm o direito de solicitar informações detalhadas ao Poder Executivo sobre a execução de políticas públicas. Essas informações são fundamentais para que o Congresso possa avaliar se as ações governamentais estão sendo conduzidas de acordo com o que foi planejado e aprovado pelo próprio Legislativo. A recusa ou o atraso na resposta a esses pedidos pode configurar crime de responsabilidade por parte do Executivo.

Um dos desafios enfrentados pelo Congresso na fiscalização de políticas públicas é a complexidade das ações governamentais e a quantidade de informações que precisam ser analisadas. Com a crescente sofisticação das políticas públicas, que envolvem múltiplos atores e níveis de governo, a tarefa de fiscalizar sua execução se torna cada vez mais desafiadora. Para lidar com essa complexidade, o Congresso tem investido na capacitação técnica de seus quadros e na colaboração com órgãos externos, como o TCU e organizações da sociedade civil.

A fiscalização também é influenciada pelo contexto político. Em governos com ampla base de apoio no Congresso, a fiscalização tende a ser mais branda, uma vez que os parlamentares da base governista muitas vezes evitam questionar as ações do Executivo para não comprometer a aliança política. Por outro lado, em momentos de crise ou de maior independência parlamentar, a função fiscalizadora do Congresso pode se intensificar, levando a investigações mais rigorosas e à exposição de falhas na implementação das políticas.

É importante destacar que a fiscalização do Congresso não deve ser vista apenas como um mecanismo punitivo, mas também como uma oportunidade para o aprimoramento das políticas públicas. Quando o Legislativo identifica falhas ou ineficiências na execução de um programa, ele pode sugerir melhorias e promover ajustes que beneficiem a população. Nesse sentido, a fiscalização contribui para a evolução das políticas públicas e para a construção de um Estado mais eficiente e responsivo às necessidades da sociedade.

A independência do Congresso Nacional é essencial para o pleno exercício de sua função fiscalizadora. Em um sistema democrático, é vital que o Legislativo tenha autonomia para investigar e questionar as ações do Executivo sem sofrer retaliações ou pressões indevidas. A separação dos poderes é um princípio fundamental para garantir que o Congresso possa cumprir seu papel de fiscalizador de maneira eficaz e imparcial.

A participação da sociedade civil na fiscalização das políticas públicas também é um elemento fundamental. O Congresso pode se beneficiar do trabalho de organizações não governamentais, movimentos sociais e acadêmicos, que frequentemente realizam estudos e monitoramentos independentes da execução das políticas. Essa colaboração entre o Legislativo e a sociedade civil amplia a transparência e fortalece o controle social sobre as ações do governo.

Em suma, o papel do Congresso Nacional na fiscalização de políticas públicas é vital para a saúde da democracia brasileira. Por meio de suas diversas ferramentas e mecanismos, o Legislativo exerce um controle imprescindível sobre a implementação das políticas governamentais, assegurando que os interesses da população sejam devidamente protegidos e promovidos. A eficácia dessa fiscalização depende, em grande parte, da autonomia do Congresso, da qualidade das informações disponíveis e da disposição dos parlamentares em agir com independência e compromisso com o bem comum. Assim, o fortalecimento da função fiscalizadora do Congresso é um passo crucial para o aprimoramento das políticas públicas e para a construção de um Brasil mais justo e democrático.

Matheus Lucca
Advogado. Pós graduado em Direito Constitucional e em Direito Ambiental e Urbanístico pela Damásio. Membro da Comissão de Meio Ambiente - OAB de Sto Amaro e membro da LACLIMA.

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