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O desafio da precificação de seguros em face dos desastres naturais

Desastres naturais crescentes desafiam o setor de seguros, aumentando custos e expondo a inadequação dos modelos tradicionais de avaliação de riscos.

13/6/2024

A recente escalada no número de desastres naturais no Brasil e no mundo coloca em xeque a capacidade do setor de seguros de responder adequadamente às demandas atuais. Em 2023, o Cemaden - Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais registrou um número recorde de desastres naturais, afetando diretamente 5,8 milhões de brasileiros. Além das perdas pessoais e prejuízos materiais que essa nova realidade estabelece, estes fenômenos também servem de alerta para cenários bastante desafiadores para a indústria de seguros.

Segundo a Confederação Nacional dos municípios, só no Brasil, o volume de sinistros relacionados a catástrofes naturais disparou, refletindo diretamente no aumento dos custos operacionais das seguradoras. Esses custos não estão apenas ligados ao aumento das indenizações, mas também às despesas associadas à regulação e liquidação de sinistros.

Há uma "superexposição" das seguradoras e resseguradoras, exacerbada pela inadequação dos modelos tradicionais de subscrição e precificação de riscos. Esta inadequação é evidente quando consideramos a dificuldade crescente de se fazer previsões e projeções acuradas diante de eventos de magnitude e consequências cada vez mais incertas. Não apenas a precificação se torna um desafio, mas também a manutenção da solvência das seguradoras pode estar em risco se os preços dos prêmios não refletirem adequadamente a realidade do risco.

Um relatório da resseguradora Swiss Re ressalta que as perdas globais de seguradoras devido a catástrofes naturais ultrapassaram US$ 100 bilhões nos últimos quatro anos.  Apesar do alarmante montante das indenizações pagas, a penetração de seguros ainda é insuficiente, especialmente nas camadas mais carentes da população, que são desproporcionalmente afetadas em cada catástrofe.

No Brasil, a situação é ainda mais complicada pelas incertezas geradas tanto pelas mudanças climáticas quanto pelo ambiente jurídico instável. E o cenário é de mais desafios pela frente: PLs como o PL 29/17 tramitam no Senado, prometendo mais insegurança jurídica em um momento crítico para o setor. Estas mudanças legislativas podem causar retração na oferta de resseguro para o mercado brasileiro, reduzindo a capacidade para os riscos extremos.

O momento exige uma maior interação e colaboração entre empresas, instituições e governo. É imperativo que todos os atores envolvidos se dediquem a encontrar soluções criativas e eficientes que possam fomentar o setor de seguros e, por extensão, proporcionar uma rede de segurança mais robusta para a população. Somente através de um esforço conjunto poderemos enfrentar os desafios impostos pela nova realidade climática e assegurar que os modelos de seguros se adaptem para melhor servir à sociedade em tempos de incertezas crescentes.

Débora Schalch
Sócia-fundadora do escritório Schalch Sociedade de Advogados.

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