Maquiavel, em seus ensinamentos, certa vez afirmou: "Dê o poder ao homem, e descobrirá quem ele realmente é".
Este pensamento é uma janela para a alma humana, desvendando como a autoridade e a influência têm o poder de despir o véu da conveniência e revelar o caráter em sua forma mais crua.
O poder é, essencialmente, um prisma através do qual a verdadeira essência de um indivíduo é exposta sob a luz da liderança e da decisão.
Para alguns, ele serve como um catalisador para a benevolência e o altruísmo, erguendo pilares de progresso e bem-estar coletivo. Para outros, é a serpente sussurrante de tentações sombrias, engendrando corrupção e abuso.1
Nas entranhas das posições de destaque, os indivíduos enfrentam o árduo teste de suas convicções. É ali, no teatro das decisões cruciais, que a verdadeira natureza moral emerge, seja ela nobre ou vil.
A natureza do poder é um enigma que atravessa a história da filosofia, da religião e da política. Será ele um mandato celeste, ou uma invenção meticulosamente tecida pela tapeçaria das relações humanas?
Muitas tradições religiosas defendem que o poder é uma extensão da vontade divina, colocando reis e líderes como representantes terrenos de uma autoridade celestial. Tal concepção estava particularmente enraizada em monarquias absolutistas, onde o monarca era visto não apenas como governante, mas como escolhido por Deus.
Em contrapartida, o pensamento secular apresenta o poder como uma criação humana, fruto de pactos sociais e estruturais. Neste cenário, o poder é um instrumento nas mãos da sociedade, forjado e refinado pela engenharia política e pelo consenso coletivo.
Pensadores como Hobbes e Rousseau se debruçaram sobre essa dicotomia. Hobbes via o poder como essencial para a ordem, enquanto Rousseau pregava a soberania popular, propondo que o poder nasce da vontade coletiva.
A questão da divindade do poder, ou sua ausência, permanece sem uma resposta conclusiva, flutuando entre as correntes do pensamento humano. Mas, independentemente de onde se acredita que o poder origina, sua gestão justa e legítima é um dos maiores enigmas da condição humana.
Desvendar o poder não é apenas um exercício intelectual, mas também uma exploração da alma humana e suas inclinações mais profundas. Tal busca não é somente por compreensão, mas por um equilíbrio que permita uma coexistência harmoniosa em meio à complexidade das sociedades que construímos.
Seguimos, mais um pouco, no labirinto do poder e do caráter humano.
A jornada do poder é semelhante a um rio que atravessa variadas paisagens, refletindo a luz e a escuridão das terras por onde passa. Em alguns momentos, ele é o sustentáculo da vida, irrigando as terras da justiça e da equidade; em outros, transforma-se em uma torrente destrutiva, arrasando os alicerces da moralidade e da ética.
A história está repleta de figuras que encarnaram os extremos dessa força. Nelson Mandela e Mahatma Gandhi utilizaram o poder para unir e elevar, enquanto outros, como Hitler e Stalin, o empregaram para dividir e subjugar. Esses exemplos ilustram não apenas o poder em si, mas também a responsabilidade inerente aos que o detêm.
A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, conhecida como a "Carta Cidadã", declara no parágrafo único do Art. 1º: "Todo o poder emana do povo..." Este enunciado é um eco do debate milenar sobre a origem do poder e seu legítimo portador.
Em democracias contemporâneas, a noção de que o poder é uma extensão do povo é fundamental. É o cidadão comum que, através do seu voto e engajamento cívico, confere legitimidade aos atos de governança. Esta é uma das grandes conquistas da modernidade: a ideia de que cada um de nós é, simultaneamente, soberano e servidor da comunidade.
Todavia, mesmo em democracias, o poder pode ser mal interpretado e mal utilizado. Os escândalos de corrupção que frequentemente estampam as manchetes são um lembrete sombrio de que a vigilância é um preço eterno da liberdade e da justiça.
A filosofia política moderna, ao disseminar o conceito de “checks and balances” (freios e contrapesos), busca uma forma de calibrar o poder, de modo a evitar seus excessos. O poder deve ser usado não como um cetro de dominação, mas como uma tocha que ilumina o caminho para a evolução e o aprimoramento da sociedade.
A verdadeira questão pode não ser se o poder é divino ou humano, mas como o ser humano escolhe exercê-lo. O poder pode ser um instrumento de generosidade ou de ganância, um reflexo da luz ou das trevas que habitam no coração dos homens.
Ao refletirmos sobre o poder, estamos, na verdade, contemplando um espelho da humanidade. E cabe a cada um de nós determinar o reflexo que nele veremos. A busca pelo equilíbrio entre autoridade e humildade, entre controle e liberdade, é a eterna dança da civilização.
Faço um convite à introspecção e ao diálogo sobre o poder que reside em cada um de nós e como o exercemos no grande palco do mundo. Porque o poder revela, transforma e define, mas somos nós, coletiva e individualmente, que escrevemos a história de sua passagem.
Não abusem do “Poder da Caneta”!
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1 Disponível em: https://www.migalhas.com.br/depeso/390593/o-conflito-etico-da-sociedade-moderna